RECONSIDERAÇÃO DA AUTENTICIDADE DO OUTRO
Para quem vive nos limites da dor e do sofrimento, para quem está nos cumes do desespero, o moralismo jamais será a solução definitiva da existência humana, tampouco a resposta totalizante que diz respeito ao significado da vida.
Na verdade, o ato da compreensão dos fenômenos da culpa, da angústia e dos mais diversos tipos e matizes de sofrimento na vida de um indivíduo, será sempre a abertura para o ser do ente humano.
Tal abertura significa a possibilidade da fala, da escuta, do diálogo e da confiança, favorecendo a comunhão na sua chance aproximar as diferenças e firmar as individualidades.
Já o preconceito é inquestionavelmente o posicionamento que bloqueia qualquer chance de aproximação de uma visão mais abrangente de um ser humano.
Uma sociedade que instaura a marginalização dos seus indesejáveis produz uma cultura de criminalidade e injustiça social.
Em contrapartida dessa perspectiva, o deixar o ser se manifestar na sua liberdade de fala facilita a aproximação de uma relação interpessoal profunda, saudável e edificante.
Esse acesso ao incógnito, ao encoberto, aos segredos de outro ser só se dá quando a promoção de amizade de um é significativo para a disponibilidade do outro a qualquer desvelamenro de suas questões e de suas verdades pessoais.
A solidariedade sempre começa mediante a reconsideração da existência de outrem na sua individuação e singularidade. E a única maneira de acessar outro indivíduo é através da reconsideração da autênticidade desse ser-aí que coloca sempre uma interpelação no face a face proveniente do diálogo.
Enfim, é da consideração do caminho da alteridade que se chega ao respeito da própria individualidade do outro incluido na pluralidade do nós, individualidade essa que o torna tão distinto e único frente aos demais de seu meio social, de sua raça ou de sua espécie de um modo geral.