OS POEMAS DE CHATGPT
Recentemente, deparei-me com uma matéria do site “Olhar Digital" cujo título, quase como uma provocação, afirmava: 'Poemas de IA superam escrita humana em emocionar leitores, aponta estudo'. É o tipo de chamada que qualquer poeta, por instinto ou ofício, lê com certo desconforto — algo entre a curiosidade e o ceticismo. Não por aversão à tecnologia, mas pela inevitável suspeita de que ali, no cerne da questão, resida mais prática de storytelling do que verdade. Resolvi mergulhar no texto, guiado por essa desconfiança.
De início, o título sugere uma inversão inquietante: que a máquina, fria e nula de vivências, ultrapassaria o poeta em sua capacidade de comover. É uma visão tanto apocalíptica para quem se entrega ao ofício lírico quanto sedutora para aqueles que, alheios ao rigor e à paciência da criação, veem no avanço tecnológico uma chance de suprir o esforço humano. Mas há algo de simplório nessa premissa — como se as hesitações, os saltos na memória e as mãos sujas de tinta pudessem ser simulados na lógica cristalina de zeros e uns.
Não tardou para que o texto se revelasse o que era: uma meia verdade disfarçada de manchete. O estudo, em linhas gerais, apontava que poemas gerados por IA eram mais “emocionantes” para leitores médios, mas o que se escondia era um contexto muito mais amplo — e previsível. Não se trata de uma virtude extraordinária da máquina, mas de uma crescente incapacidade do público de acessar, ou mesmo se interessar, pelas camadas mais densas da linguagem poética.
Esse fenômeno não surpreende. Vivemos tempos em que o útil uiva mais alto que o belo, e o imediato desbanca a contemplação. Assim, os poemas da IA encontram acolhida, pois oferecem algo rápido, acessível e direto. Há eficiência nesses textos, sem dúvida, mas falta-lhes o labor que dá substância à arte: a alquimia que transforma hesitação em ritmo, dor em metáfora e silêncio em pulso.
Enquanto lia, não pude evitar o pensamento de que a poesia — a verdadeira poesia — é antes um refúgio do que um produto. Há beleza na simplicidade, mas nunca no simplismo. A máquina pode emocionar, mas suas criações carecem da aspereza necessária para ferir de leve e, nesse ferimento, iluminar. Porque é na tensão entre o dizer e o calar que reside o toque humano, esse que carrega consigo o peso das vivências, a imperfeição das buscas inacabadas, o brilho do transitório.
O perigo, penso, não está no avanço da tecnologia, mas no enfraquecimento do leitor. Quando se abdica da paciência exigida pela poesia que não se revela de imediato, corre-se o risco de abrir mão do que ela tem de mais essencial: a capacidade de despertar, no silêncio de quem lê, uma inquietação maior do que as palavras. A literatura não é outra coisa senão um exercício de prazer e paciência — algo que nenhuma máquina, por mais avançada que seja, pode verdadeiramente compreender, porque lhe falta aquilo que jamais poderá ser programado: a essência dos dramas humanos.