LEITURA: A CHAVE DA BOA ESCRITA
Antes de iniciarmos, convém esclarecer o título, porque eu sei, eu sei, parece coisa de IA, mas não é. Todas as variações que tentei pedir ao ChatGPT acabaram ficando ainda mais genéricas, mas, como não consegui pensar em nada melhor, decidi deixar assim.
Esclarecido esse ponto, vamos prosseguir: dei uma olhada meio por cima na polêmica do Threads envolvendo uma escritora que afirma não ler, e, apenas observando alguns poucos comentários, foi possível notar uma evidente falta de conhecimento sobre o que é literatura. É comum que certa confusão ocorra com escritores iniciantes, exatamente porque — pasmem! — lhes falta repertório. Nessas situações, a visão acaba ficando restrita à superfície, como se escrever se resumisse apenas ao enredo, ao ato de 'contar uma historinha'. Isso passa ao largo dos aspectos propriamente artísticos, aquilo que torna um enredo verdadeiramente único e confere sentido ao exercício: a investigação da condição humana.
Vejam bem, é fácil perceber quando a cosmovisão ainda não está no lugar correto, pois a discussão está sempre atrelada a grandiloquências, à 'grande ideia'. É irônico pensar que, no final das contas, muitos clássicos contam histórias banais, vulgares, corriqueiras, mas são elevados a esse posto não pelo tema em si — o enredo simples e puro, com seus plots estéreis, receitinhas requentadas de 'A Jornada do Herói' — mas pela maneira como foram contados. Ou seja, por uma compreensão técnica refinada, capaz de conduzir a obra por inúmeras camadas, e que só pode ser adquirida através de: 1) leitura, 2) prática e 3) reescrita.
Qualquer arte verbal está diretamente atrelada ao ritmo, que é, sumariamente, o controle das tensões (subidas e descidas harmônicas, como na música), e isso se dá de diversas formas — seja pela escolha dos períodos frasais, pelas pontuações, pelo direcionamento do olhar, e assim por diante. Trata-se de uma espécie de partitura. A escrita acontece justamente na escolha das palavras justas (leiam 'As Cartas Exemplares', de Flaubert). Não se deixem enganar por essa ideia de genialidade inata. Tudo em uma obra cumpre uma função específica, ordenada pela razão, estando exatamente onde deveria estar. E se fosse suprimido, derrubaria toda a estrutura. Isso não se aprende por intuição.