A VERDADE HABITA NO SER, APESAR DA FALIBILIDADE NO DIZER E FAZER /// Parte 2 - O Ensaio ///

PRÓLOGO:

/// Em meio ao eterno questionamento sobre a natureza da bondade e da verdade, dois pensadores, o sábio professor Dr. Hillz Khartô e seu discípulo ávido, Oliver P. Henry, encontram-se para um diálogo denso e introspectivo. No coração da discussão está a questão: pode-se confiar na essência de uma pessoa, mesmo que suas palavras e ações possam falhar em refletir sua verdadeira natureza? E como, sem considerar o falar e o agir, discernir a bondade genuína?

O jovem Oliver, conduzido por suas dúvidas e pelo anseio de conhecimento, busca no professor respostas para as complexidades da percepção e do julgamento moral. Dr. Khartô, com a paciência e profundidade de quem transcendeu as respostas fáceis, desafia-o a enxergar além das aparências e a reconsiderar os sentidos humanos não como fontes absolutas de verdade, mas como instrumentos de discernimento.

Assim, inicia-se um diálogo que vai muito além da ética e da moral; uma exploração filosófica das faculdades humanas e da essência do próprio ser. ///

...

Oliver P. Henry: Sem poder considerar a fala ou as atitudes, como poderei saber se alguém é ou não verdadeiramente bom?

– Seria possível a uma pessoa privada de ver e ouvir encontrar o amor? Seria possível, ainda, que ela discernisse a verdade?

Dr. Hillz Khartô: Penso que sim, embora não saiba exatamente como isso ocorreria. Se eu disser que olhos perfeitos não garantem que o que se vê seja a verdade, você concordaria?

Oliver P. Henry: Não tenho objeção a essa afirmação!

Dr. Hillz Khartô: Pois bem. O ato de ver é apenas uma qualidade de juízo, tal como os outros cinco sentidos. São ferramentas para um fim, não um fim em si, independentemente dos instrumentos – olhos, nariz, boca, etc.

Oliver P. Henry: Interessante, porém isso me faz questionar: não seria a finalidade dos olhos ver, do nariz cheirar, da boca comer, e dos pés caminhar?

Dr. Hillz Khartô: Certamente pareceria assim, se tudo o que víssemos fosse absolutamente verdadeiro em substância, forma e razão. Mas afirmaria você que tudo o que se coloca na boca é realmente alimento? Ou que a boca é feita apenas para comer, ignorando o cantar, o chamar, o beijar e, claro, o falar?

Oliver P. Henry: Jamais ousaria tal afirmação. Compreendo agora que minha primeira questão foi um tanto precipitada. Por favor, prossiga.

Dr. Hillz Khartô: Digo, então, que assim como a boca possui múltiplas facetas, os olhos, nariz, ouvidos, mãos e pés existem não para um único propósito, mas como ferramentas "a fim de...". Mais útil que os olhos apenas vejam e desfrutem da beleza, é que forneçam o material necessário para refletir, analisar e tomar decisões conscientes.

Oliver P. Henry: Aqui, talvez, eu tenha a chance de contestar...

Dr. Hillz Khartô: Por favor, sinta-se à vontade.

Oliver P. Henry: Considerando que você afirma que os olhos nem sempre veem a verdade, como posso eu confiar plenamente no que percebo para formar um julgamento?

Dr. Hillz Khartô: Excelente pergunta! É sábio, de fato, considerar que tudo o que se vê é potencialmente ilusório, manipulado ou incompleto. Diria até que, com certeza, tudo o que captamos com os olhos é, em algum grau, imperfeito, efêmero e limitado.

Oliver P. Henry: Então eu teria, por fim, desmontado sua tese, professor?

Dr. Hillz Khartô: Calma, meu jovem, não nos precipitemos. Sigamos com cautela. Admitiria prontamente a falha do meu argumento, se o único meio de obtenção de informação fosse através dos olhos. Mas, como estabeleci desde o início, temos cinco sentidos, todos competentes e relevantes para o discernimento. E aqui, antecipo uma conclusão: todos os cinco sentidos servem a um mesmo fim, compartilhando um propósito comum.

Oliver P. Henry: Não demore em revelar qual é esse fim comum; estou curioso!

Dr. Hillz Khartô: Pois bem, digo-o sem rodeios: todos os sentidos servem ao mais essencial propósito da existência – Discernir entre o Bem e o Mal.

Oliver P. Henry: Mas professor, ao afirmar que o propósito dos sentidos seja o discernimento, você não estaria anulando o sentido deste ensaio? Pois, ao usar os sentidos para discernir, o que a pessoa diz e faz acaba sendo inevitavelmente parte do material para julgamento, e, nesse caso, o ensaio cairia num paradoxo.

Dr. Hillz Khartô: Falou como um verdadeiro erudito! Nada no que disse pode ser contestado. Contudo, vejo espaço para ampliar o raciocínio.

Oliver P. Henry: Afirmo, professor, que agora estou ainda mais curioso.

Dr. Hillz Khartô: Todo material recolhido pelos sentidos se encerra, de fato, onde sua questão se apresenta. Mas permita-me continuar a partir de uma semente que lancei antes. Eu disse que o material recolhido é submetido a uma avaliação, a um juízo. Entretanto, você deixou de fazer uma pergunta essencial.

Oliver P. Henry: Qual seria, professor? Ajude-me a percebê-la!

Dr. Hillz Khartô: Claro, a pergunta seria: a quem esse material é apresentado? Quem é o sujeito que, servindo-se dos cinco sentidos, os utiliza segundo sua vontade e realização?

Oliver P. Henry: Como pude não perceber uma questão tão fundamental?

Dr. Hillz Khartô: Pois bem, já que não a perguntou, deixo a resposta como reflexão para você.