Eis o Homem

Um homem sem grandes projetos. Eis o homem nos primeiros passos numa caminhada que requer pés fortes. Um homem assim, desde que a humanidade deu seu primeiro grito de existência, antes que o sol se mostrasse rei, nunca mais descansou. Que assim, iniciada a caminhada, nós, que poderíamos parecer mais enfraquecidos, porque desconhecíamos seus mistérios, nos tornamos mais fortes, lúcidos e esperançosos. Descobrimo-nos mais capazes, mais, talvez, propensos aos encantos oriundos desses próprios mistérios. O mundo que se descortinava se impôs como uma necessidade. Assim, e por isso, do homem se exigiu que saísse do seu núcleo hominídeo para, á guisa de desbravar novas possibilidades de existência, chegar, quem saberia, a própria ignorância de si. Um paradoxo, parece. Mas que homem é esse que se aventura a desbravar novas possibilidades de existência e se depara com a própria ignorância? Um homem que quer, e se deixa seduzir, pela promessa, não dita, mas anunciada, que só a curiosidade do querer saber o que é, fez dele, entre todos os animais, senhor de destinos. Um homem de si para si, arrojado e, em contrário, contido. Arrojado quando se aventura a desbravar continentes. Contido, na mesma proporção, quando, ao se ver defronte ao espelho, por ele próprio construído, não se contém e chora, pois, seu projeto, de não projeto, resulta de sua quase arrogância de senhor dos mundos.

Um homem sem projetos. Eis o homem no seu confortável berço da preguiça. O homem atarefado e, ao mesmo tempo, sem tempo para saber -se quem é. Um homem triste, sem sorriso sincero porque o mundo que se descobriu o encobriu de obrigações e metas e relatórios. Um homem máquina, sem sentimento. Todavia, um homem em constante transformação. Um homem que, iniciada a caminhada, no avanço que conquistava, fortalece seu espírito e seus pés. É nesse homem, talvez criança ainda, que se deposita a confiança de novas existências, de novas, e necessárias, experiências. Um homem com cheiro na pele das andanças empenhadas. Um homem tempo e tempestade. Um homem que, da ignorância que tem si, não desiste. Sai da preguiça do berço confortável, e segue o caminho do sol. Um homem fortaleza e frágil, porque homem que é, é humano, demasiado, humano.