O AUTODIDATA EM PRÁTICA - PARTE I

1. Introdução

O autodidatismo é um termo em voga na cátedra online. Muitas pessoas exploram o tema, seja em busca de dicas confiáveis para o próprio estudo, seja para oferecer o seu conteúdo — quase sempre miraculoso e capaz de orientar o interlocutor melhor que qualquer ensino "contaminado por ideologia". Para além das questões da política de ordem imediata, com seus surtos de estupidez, exploração do marketing digital e inclinação a ideias apocalípticas, há quem procure — assim como eu — meios de expansão dos pensamentos de forma cautelosa, transitando, por isso, entre os tantos cursos ofertados na internet.

Entre esses cursos, a melhor fonte é a primeira, origem de praticamente todo o nicho de “salvadores do Ocidente”: Olavo de Carvalho. Guardadas as diferenças entre as nossas personalidades, é inegável a sua competência enquanto transmissor de conhecimento e cultura.

Seu curso "Princípios e Métodos da Auto-Educação" tem por volta de dezesseis horas, divididas em seis aulas, com cerca de duas horas e meia de duração cada, o que as torna extremamente densas. Os assuntos são também inúmeros, sendo ventilados — por vezes — como se não houvesse uma ligação lógica entre si, mas que, ao final, de forma magistral, como num caleidoscópio, conduzem-nos a um todo com sólidos alicerces.

A primeira aula, "Educação e Auto-Educação", tem praticamente três horas, forçando-me a dividi-la em sub-tópicos (pelos quais assumo a responsabilidade se muito obscurecidos) para que os resumos pudessem se assentar em minha consciência e se tornarem parte da minha personalidade, como é próprio do estudo. Este pequeno trecho corresponde à primeira parte da aula inaugural, mais ou menos os trinta e cinco minutos iniciais.

1.2 Mapeamento do Terreno

A princípio, Olavo define a auto-educação explicando que, em certa medida, toda educação é assim porque depende do sujeito ativo. E, ao mesmo tempo — de forma paradoxal — não existe algo que se possa denominar plenamente de auto-educação, afinal, ninguém pode ensinar a si mesmo; será sempre necessária alguma ajuda externa.

O curso destina-se, essencialmente, a quem já teve contato com a sua obra e deseja atuar no panorama cultural brasileiro. Olavo discorre sobre as condições precárias da educação nacional, cuja falta de planejamento resultou no desaparecimento de uma cultura superior. Hoje, não há diálogo possível entre as obras de arte produzidas no Brasil e o panorama histórico mundial.

Ele delineia a cultura superior como a criação artística e cultural de alta qualidade, enquanto respostas às angústias, temores e questões fundamentais daquele determinado período. Essas questões fundamentais, por serem as mesmas para todos — até para quem não sabe verbalizá-las —, tornam-se o eixo unificador de uma cultura nacional. O papel do intelectual, então, não é o de mudar ou impedir os fatos, mas de registrar e tentar compreender esses acontecimentos, transmitindo às próximas gerações o pano de fundo histórico em que estão inseridas desde o nascimento.

A falta desse panorama resulta em total insegurança. Por não terem sentido outra coisa, as novas gerações desconhecem que se trata de inação. Inclusive — segundo o diagnóstico de Olavo — a insegurança virou uma espécie de estado natural do brasileiro. Um traço inerente a isso é a constante busca por alívio, proteção, algo que se possa agarrar, como cargos públicos e status social. Esse sentimento permanente gera também pessoas sem valores claros e sem fibra. Quem vive amedrontado nunca se preocupa em fazer a coisa certa, mas sim em defender-se. No entanto, a vida é constituída de riscos o tempo todo. Fazer a coisa certa é possível. Preservar-se, não.

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Lusca Luiz da Silva
Enviado por Lusca Luiz da Silva em 07/11/2024
Reeditado em 07/11/2024
Código do texto: T8191950
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