O Cristo salva, Jesus incomoda
Imagine que você é um judeu do primeiro século morando na cidade de Jerusalém. Pertencente ao partido dos fariseus e fervoroso observador da Torá, leva uma vida pacata, cujo maior aborrecimento é ter de pagar os impostos devidos aos romanos, já que infelizmente sua terra natal se tornara mais uma colônia do vasto Império Romano.
Um dia começam a chegar aos seus ouvidos os discursos heréticos de um galileu filho de carpinteiro, cuja mãe já viúva e seus irmãos bem conhecidos vivem na cidade de Nazaré, “de onde nada de bom pode sair” diziam os orgulhosos judeus.
O suposto rabi a quem chamavam pelo nome de Jesus dizia, entre outras blasfêmias, que os fariseus não passavam de sepulcros caiados, verdadeiros hipócritas e que o Grande Templo de Jerusalém havia se transformado em um covil de ladrões, e que por isso seria logo destruído “não sobrará nem uma pedra” aduzia o galileu.
O falso profeta ainda se colocava acima de Moisés, fazendo o que não era permitido aos sábados e completava “aqui está quem é maior do que o sábado” . Até a sua morte, você nunca entenderia por quais motivos muitos judeus, alguns até respeitados, estavam abandonando as leis de Moisés para seguirem aquele galileu estúpido, ainda mais que o infeliz tivera fim em uma vergonhosa cruz, castigo reservado aos ladrões da pior espécie.
Pronto! Estamos de volta ao século XXI e ao ano atual. Penso que em alguns pontos infelizmente a humanidade mudou muito puco ou pior, não se modificou em nada.
Mesmo nos considerando cristãos, se Jesus retornasse hoje ao orbe terrestre com suas críticas contundentes aos religiosos e religiões, certamente o acusaríamos de impostor, blasfemo e de propagador de um discurso de ódio contra as religiões tradicionais e seus adeptos. Novamente, poucos teriam a coragem de abandonar suas tradições tão estéreis quanto à figueira seca de uma de suas parábolas para segui-lo.
Jesus não deseja a morte espiritual de quem anda no erro, contudo, nunca deixou de advertir o homem no que diz respeito as suas faltas morais, seja dentro ou fora da religião.
Ora, a seu tempo o próprio João Batista fora preso e depois decapitado por sua crítica contundente a Herodes Antipas, então governador da Galileia, e Herodias, mulher de Felipe, meio-irmão de Antipas; ambos deixaram seus laços matrimoniais para viverem em sórdida união.
Neste ponto alguém poderá comentar com razão que o que um governante faz na vida privada não é da nossa conta. Exato. No entanto, é da nossa conta quando um servidor público usa do dinheiro público para sustentar os luxos de suas amantes, parentes etc.
A inveja, o ciúme, o orgulho e o ódio levaram Jesus, João Batista e tantos outros à morte do corpo físico ou a um encarceramento injusto.
Urge aprendermos a diferenciar os verdadeiros discursos de ódio, que pregam a destruição de todos os que não compartilham das convicções religiosas, políticas e ideológicas do discursante, das críticas contundentes, é verdade, porém, necessárias ao nosso crescimento moral, ético e espiritual.
Mesmo limitada pela nossa ignorância (no sentido de ignorar mesmo) em certos temas, o fato é que a verdade nunca será o ódio.
Ser cristão por tradição familiar e pelas convenções sociais é fácil, difícil é o ser pelo verdadeiro amor ao próximo e pela fé raciocinante em Jesus.