A concepção ontológica de Parmênides

Parmênides, de acordo com a história da filosofia, foi o primeiro filósofo a questionar a natureza do ser, e por isso que é considerado por muitos autores como o "Pai da Metafísica”. Parmênides, na verdade, foi um filósofo da natureza, pois desenvolveu uma reflexão sobre o aspecto cosmológico da natureza e sua essência, o que lhe conferiu ensinamentos paradoxais a respeito do problema do ser e impacto profundo e duradouro sobre o movimento filosófico denominado eleatismo, o que influenciou vários autores a respeito.

Segundo registros, a única obra de Parmênides é “Sobre a natureza”, que é um poema retransmitido pelo filósofo Simplício, que se estrutura em três partes principais: 1º) o proêmio, que seria uma espécie de revelação da deusa misteriosa: a via da verdade, que leva ao conhecimento do ser uno e imutável, acessível apenas ao pensamento puro – o que significa, a verdade revelada pelo estudo da “ontologia”; 2º) a via da opinião, que diz respeito ao plano das aparências assimiladas pela percepção sensível (pertencente ao plano da cosmologia); 3º) a reconstrução de seu significado filosófico original pela tarefa hermenêutica complexa, que é a compreensão da conexão filosófica entre a via da verdade e a via da opinião, ou seja, problema quanto a questão de interpretar as relações entre pensamento e percepção.

Assim, este discurso sobre o ser inaugura uma nova forma de pensar no desenvolvimento da reflexão filosófica posterior, como defendem Kirk, Raven e Schofield (2010), de que os argumentos de Parmênides e as suas paradoxais conclusões influenciaram o método da razão do cogito de Descartes, além de ter impactado a filosofia grega antiga, conforme Hebeche (2008) e depois influenciou a filosofia ocidental como um todo, proporcionando assim uma linguagem filosófica que vigora até os dias atuais, como assim entenderam Heidegger (1927) e Sartre (1943), que incorporaram nas suas obras “Ser e tempo” e “O ser e o nada”, respectivamente dos referidos autores, demonstram o poder da linguagem concebida pelo eleata Parmênides, quando se tematiza a questão do ser, na concepção ontológica da metafísica.

Essa concepção parmediana da investigação sobre o ser do ente determina o que o ente é, aquilo que constitui a substância ou a essência de qualquer coisa e reflete questões sobre o que se deve fazer, o que é o bem, o que é a lógica, o que é o belo, todas dependentes da questão de qual é o sentido do ser, o que exige para o pensamento humano um esforço reflexivo para instigar a inteligência e buscar entender os entes particulares, a fim de ir além do domínio ôntico dos entes, mas alcançar a questão universal do significado puro do ser simplesmente.

Exemplo: teorizar o ser enquanto tal, Parmênides aponta a noção do ser aquilo que o caracteriza, antes de tudo, todas as coisas, e por isso, é o fato de que as coisas são pelas suas características. E isto equivale a dizer que o ser vem antes de qualquer outra determinação ou propriedade.

Parmênides busca compreender a natureza fundamental das coisas em última análise, que segundo Gilson (2016), o filósofo descobre que o ser é a “tessitura fundamental de todos os entes”, o que o faz entender a noção de ser o núcleo ou o objeto teórico privilegiado de sua reflexão, ou seja, uma concepção do ser que privilegia a identidade do ser consigo mesmo e que, por isso, Parmênides concebe o ser como ipseidade absoluta, que exclui qualquer forma de heterogeneidade ou diferenciação interna.

Logo, o “o ser é dotado de todos os atributos que se aparentam à noção de identidade”, segundo Gilson (2016), o que então concebe algo identitativo do ser na sua origem como ontologia monolítica, ou seja, algo radicalmente homogeneizante, idêntico e eterno.

Conforme Parmênides:

“Um que é, que não é para não ser,

É o caminho de confiança (pois acompanha a verdade);

Outro que não é, que tem de não ser,

Esse te indico ser caminho em tudo ignoto,

Pois não poderás conhecer o não-ser, não é possível,

Nem indicá-lo [...]

[...] Pois o mesmo é pensar e ser

É necessário que o ser, o dizer e o pensar sejam, pois podem ser,

Enquanto o nada não é: nisto te indico que reflitas.

Desta primeira via de investigação te afasto,

E logo também daquela em que mortais, que nada sabem,

Vagueiam, com duas cabeças: pois a incapacidade

Lhes guia no peito a mente errante; e são levados,

Surdos ao mesmo tempo que cegos, aturdidos, multidão indecisa,

Que acredita que o ser e o não-ser são o mesmo

E o não-mesmo, para quem é regressivo o caminho de todas as coisas.”

Observa-se que há formulações ontológicas de Parmênides, que têm caráter filosófico em ensinamento cosmológico de Heráclito sobre o devir perpétuo de todas as coisas e a identidade universal doso elementos contrários, o ser e o não-ser. E a consequência teórica sobre o paradoxo é o estabelecimento da unidade profunda, inexorável e essencial entre ser, pensar e dizer, o que em última análise, o ser é a condição de possibilidade do pensamento

e da linguagem, o que se conclui o que tudo se pensa, enuncia-se pelo logos (razão), necessariamente, o ser.

No poema de Parmênides, a revelação mostra os “sinais”, ou seja, as propriedades e as determinações fundamentais que caracterizam a natureza do ser, que são: a imobilidade, a eternidade, a indivisibilidade, a simplicidade e a continuidade - o que leva a entender o que não seja para reconhecer propriedades da existência do não-ser, o que caracteriza o absurdo, ou seja, a aporia.

Portanto o ser tem de ser pensado como um plenum imóvel, uno e indivisível, que repousa eternamente em si mesmo, sem começo nem fim, completo e íntegro. Burnet, Gilson e outros autores entendem que este ser pleno e imóvel de Parmênides é o universo considerado em seu todo e entendido como um corpo esférico, finito e absolutamente compacto, onde não há fissura ou vazio. E que por causa desta concepção, as aparências de multiplicidade, movimento, espaço vazio e tempo são ilusões. Portanto, uma outra aporia detectável no seu pensamento filosófico.

Logo, o ‘aquilo que é’, conforme Parmênides, é a mais concreta das realidades, o universo manifesto e limitado. Logo, o ser de Parmênides, no que ele conclui, não é propriamente metafísico (abstrato), mas uma concepção de ampla universalidade da existência da natureza compreendida em sua totalidade.

REFERÊNCIAS

GILSON, É. O ser e a essência. São Paulo: Paulus, 2016.

HEBECHE, L. Ontologia I. Florianópolis: Filosofia/EAD/UFSC, 2008.

HEIDEGGER, M. Ser e tempo. São Paulo: Vozes, 2015.

KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos. Lisboa: Calouste Gulbenkian,

2010.

OLIVEIRA, Richard Romeiro. Metafísica I. Graduação de Licenciatura de Filosofia. Universidade Federal de São João Del Rei / NEAD. Unidade I. São João Del Rei: UFSJ, 2021.

PARMÊNIDES. Da natureza. Tradução, notas e comentários: José Trindade Santos. São Paulo:

Loyola, 2002.

SARTRE, Jean Paul. O Ser e o Nada. São Paulo: Vozes, 2002.

Lúcio Rangel Ortiz
Enviado por Lúcio Rangel Ortiz em 31/10/2024
Código do texto: T8186448
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