Eu gosto quando não entendo a Poesia

Eu gosto quando não entendo a Poesia, quando ela não se decifra a si mesma, nem se explicita assim, assim, deliberadamente. Sei que é vento na corrida, é tufão em alto mar, "desespero para ir até o fim" como me disse o poeta. Não precisa se entender a Poesia. Só sentir. Deixar seus dedos de luz deslizarem pela pele, penetrarem a carne, cravarem, como bandeiras de conquista final, as suas flechas direto no coração. A Poesia é aquele Ponto Fora da Curva, ou aquele outro - querido, Líquen Amado - a alguns milésimos de centímetros do outro lado da  Nossa Janela do Tempo Profundo... Poesia é aquele abraço que ao se soltar aperta de novo, aquele, perfumado de amor, onde você quer pra sempre morar... É o quilômetro ainda inatingível, que você quer alcançar, chegar sentindo o sangue pulsar, cada célula do coração retumbar forte, saindo pela boca, e a alma implorar o toque de Luz, o ar do Respirar, a água azul do Mar.