O fim
O fim seria o fim de nós mesmos, ou fim de tudo?! Pensar que a morte é o resultado final de uma vida que se viveu, onde se experimentou todas as paixões possíveis e amores duvidosos, até encontrar-se com o amor genuíno, construir património e deixar heranças na terra. Abdicar de conversar lúdicas na calçada,trabalhando de acordo com o relógio que só de olhar me lembra como minha cama é tão quentinha.
Há a lembrança dos pais e amigos que fizeram a eterna viagem e isso me deixa nostálgica e traz saudade, com certas pessoas nunca mais teremos a mesma conversa, a mesma risada ou a mesma dor, mas a vida continua e com o tempo aprendemos a prosseguir sem eles, nos sobrecai uma espécie de conformação inexplicável, onde o luto cede espaço para as memorias, a vontade de honra-los de alguma forma. Penso que já assisti inúmeros filmes e novelas espíritas que me passaram a ideia de que o espírito continua em outro plano, e se for assim a ideia de seguir em frente e com algum conforto me ajuda a aceitar. Mas já a ideia de finitude me causa inquietação, medo do desconhecido e de ser esquecida, de que meu legado vá embora comigo.
conversando com uma senhora de 87 anos, ela me disse que esta cansada e que Deus já podia leva-la, e seus argumentos eram de que já viveu o suficiente e já não aguenta sentir tantas dores pelo corpo e não quer dar trabalho a ninguém. Ela não quer depender de alguém para realizar suas tarefas diárias, na verdade ela não deseja sentir a sua lucidez a deixando, as dores a consumindo e perder a sua autonomia, mas o que é isso de ter vivido o suficiente ? O suficiente para descansar ? Não temos respostas do que nos aguarda ao fazermos o embarque, uns dizem que seremos julgados por nossas ações, outros de que permanecemos dormindo, outros de que o espírito vive em outro plano celestial e assim vamos atribuindo a ideia que melhor nos parecer mais agradável, pois disso ninguém escapa.
Lendo sobre, cada um parece ter sua visão particular, a minha é de que de fato não mais aqui existiremos, datas nos serão reservadas e a depender da vida que tive, amores serão deixados, memorias e objetos mantidos e coisas reutilizadas. Tudo depende de como vivi e convivi com as pessoas, se há outra vida, gostaria de voltar e viver muitas outras, sendo em cada uma delas outro personagem e evoluindo em cada uma. Não temo tanto o final, mas também não o desejo tão cedo, tenho medo de sofrer, de doer demais e que não seja em paz. De resto, quero viver plenamente, a plenos pulmões gritar que ainda quero amar muito e demais, sem medo de parecer boba, de cair e levantar, de escalar o fundo do poço e começar tudo de novo. Sem disfarces ser eu, e continuar achando graça de conversas bobas. E pensar nela como uma dama de preto envolvente e misteriosa, que quando for a hora sei que se apresentará, não por minha vontade, mas por sua impetuosa figura.