O MEIO (AINDA) É A MENSAGEM
Li recentemente uma entrevista do McLuhan neto (Andrew) sobre o seu lendário avô e suas ideias revisitadas sob o prisma pós-moderno. Ah! Se me lembro! Marshall McLuhan, o mago das comunicações! Eu era pouco mais que uma criança, quando me apaixonei pela sua frase de efeito “O meio é a mensagem”. Mal compreendendo ainda o que aquilo significava, eu me encantei pelo poeta, crítico literário e professor que cunhou o termo “aldeia global”, para se referir ao “novo mundo” impactado pelas mudanças provocadas principalmente pelo rádio.
Hoje, a partir das tecnologias digitais, a aldeia global ficou menor ainda, visto que as dimensões distância-espaço tornaram-se insignificantes. O celular que o diga! Não faz diferença se conversamos com alguém do outro lado da rua ou do lado de lá do planeta. Tudo chega claro e instantaneamente. Ganhamos em amplitude e velocidade, mas perdemos em emoção. Não podemos mais mirar nos olhos uns dos outros, sentir-lhes as vibrações. O sacrifício não foi pequeno. O que fazer, né? E o jogo do ganha-perde...
E nos transformamos... Como nos transformamos, embora os temas humanos continuem os mesmos, as suas necessidades e conflitos também. Eis que, enfim, entendi cristalinamente Marshall McLuhan! Não é o conteúdo discutido que nos transforma, mas, sim, como ele é transmitido. Isso muda não apenas como percebemos as coisas, ou como nossa mensagem é percebida: evidentemente, muda a gente também. Um outro meio, uma outra mensagem, não importa o conteúdo.
Perdemos a perspectiva. Nossa sensação de urgência cresceu, a paciência está diminuindo e o mesmo acontece com a nossa atenção. As frases foram ficando menores... os parágrafos ficando menores... os capítulos ficando menores… Os vídeos de agora também são mais curtos. E acontece até na publicidade. Os comerciais costumavam ter 1 minuto de duração ou mais. Atualmente, já estamos vendo anúncios de cinco segundos. E mesmo um comercial de cinco segundos pode parecer longo. Então, um anúncio de três segundos pode ser suficiente para registrar uma impressão em nossos sentidos.
Não há como negar: nós somos o resultado da tecnologia que usamos. E quando a Inteligência Artificial entrar com tudo, nós seremos reinventados de novo. Se isso é bom ou ruim, é sempre uma questão de perspectiva e de contexto. É maravilhoso termos coisas prontas e instantâneas... Mas, onde fica a profundidade, a espontaneidade? De qualquer forma, McLuhan sempre esteve certo. Ontem, hoje e amanhã, o meio é sempre a prioridade da mensagem.
Ribeirão Preto, 27 de outubro de 2024
Por Conceição Lima
Li recentemente uma entrevista do McLuhan neto (Andrew) sobre o seu lendário avô e suas ideias revisitadas sob o prisma pós-moderno. Ah! Se me lembro! Marshall McLuhan, o mago das comunicações! Eu era pouco mais que uma criança, quando me apaixonei pela sua frase de efeito “O meio é a mensagem”. Mal compreendendo ainda o que aquilo significava, eu me encantei pelo poeta, crítico literário e professor que cunhou o termo “aldeia global”, para se referir ao “novo mundo” impactado pelas mudanças provocadas principalmente pelo rádio.
Hoje, a partir das tecnologias digitais, a aldeia global ficou menor ainda, visto que as dimensões distância-espaço tornaram-se insignificantes. O celular que o diga! Não faz diferença se conversamos com alguém do outro lado da rua ou do lado de lá do planeta. Tudo chega claro e instantaneamente. Ganhamos em amplitude e velocidade, mas perdemos em emoção. Não podemos mais mirar nos olhos uns dos outros, sentir-lhes as vibrações. O sacrifício não foi pequeno. O que fazer, né? E o jogo do ganha-perde...
E nos transformamos... Como nos transformamos, embora os temas humanos continuem os mesmos, as suas necessidades e conflitos também. Eis que, enfim, entendi cristalinamente Marshall McLuhan! Não é o conteúdo discutido que nos transforma, mas, sim, como ele é transmitido. Isso muda não apenas como percebemos as coisas, ou como nossa mensagem é percebida: evidentemente, muda a gente também. Um outro meio, uma outra mensagem, não importa o conteúdo.
Perdemos a perspectiva. Nossa sensação de urgência cresceu, a paciência está diminuindo e o mesmo acontece com a nossa atenção. As frases foram ficando menores... os parágrafos ficando menores... os capítulos ficando menores… Os vídeos de agora também são mais curtos. E acontece até na publicidade. Os comerciais costumavam ter 1 minuto de duração ou mais. Atualmente, já estamos vendo anúncios de cinco segundos. E mesmo um comercial de cinco segundos pode parecer longo. Então, um anúncio de três segundos pode ser suficiente para registrar uma impressão em nossos sentidos.
Não há como negar: nós somos o resultado da tecnologia que usamos. E quando a Inteligência Artificial entrar com tudo, nós seremos reinventados de novo. Se isso é bom ou ruim, é sempre uma questão de perspectiva e de contexto. É maravilhoso termos coisas prontas e instantâneas... Mas, onde fica a profundidade, a espontaneidade? De qualquer forma, McLuhan sempre esteve certo. Ontem, hoje e amanhã, o meio é sempre a prioridade da mensagem.
Ribeirão Preto, 27 de outubro de 2024