Revolução comunista em dois tempos
Revolução comunista em dois tempos
Félix Maier
Segundo A. S. Cohan, em seu livro "Teorias da Revolução", “a revolução é, por definição, mudança violenta e não-legal”. Segundo o autor, a Revolução acarreta as seguintes mudanças:
1) alteração dos valores ou mitos da sociedade;
2) alteração da estrutura social;
3) alteração das instituições;
4) mudanças na formação da liderança, seja no quadro de pessoal da elite, seja na sua composição de classe;
5) transferência não-legal ou ilegal de poder; e
6) presença ou predominância de comportamento violento tornado evidente nos acontecimentos que conduzem à queda do regime.
“O autor [Eugen Rosenstock-Huessy] também observa que todas as revoluções modernas se distinguem por sua luta contra a Igreja. Das grandes revoluções, segundo Huessy, emergiram as quatro formas de governo, conforme descritas por Aristóteles: monarquia, aristocracia, democracia e tirania. (...) A rotação (de regimes) não é mecânica, nem sem sentido, porque o impulso da primeira revolução é preservado na consciência das seguintes. As quatro divisões europeias - o príncipe Protestante, o fidalgo Puritano, o cidadão Jacobino e o proletário Bolchevique - avançam numa formação que no exército de chama ‘marcha em escalões’” (SILVA, 1985: 45). (*)
“Camus acentua que todas as revoluções modernas só vieram a reafirmar o papel do Estado: 1789 produziu Napoleão; 1848 trouxe Napoleão III; 1917, Stálin; 1920, Mussolini; A República de Weimar, Hitler. Desse modo, o profético sonho de Marx e as antecipações de Hegel ou Nietzsche terminaram por originar, depois da aniquilação da Cidade de Deus, um estado, às vezes racional, às vezes irracional, mas sempre aterrorizante” (idem, pg. 47).
Modelos históricos de tomada do poder: levante armado, guerra civil revolucionária, guerra foquista, via pacífica para o socialismo ou “etapismo” (revolução em dois tempos), rebelião parlamentar e via parlamentar.
A revolução esquerdista também age para neutralizar as “trincheiras da burguesia”, a saber: Judiciário, Congresso Nacional, Executivo, partidos políticos burgueses, Forças Armadas, aparelho policial, Igreja Católica e sistema econômico capitalista. “A fatalidade das revoluções é que sem os exaltados é impossível fazê-las e com eles é impossível governar” (Joaquim Nabuco).
A Revolução Russa, de 1917, foi exemplo de uma "revolução em dois tempos", a "via pacífica para o socialismo" ou "etapismo", como também ocorreu em Cuba.
Na Rússia, no "primeiro momento", Alexander Kerensky assume o poder, em fevereiro de 1917, com a queda do Czar Nicolau II. Esse fato histórico poderia ser chamado de "abril branco", uma expressão usada pelos historiadores para se referir às "Teses de Abril", que foram as críticas de Lênin contra o governo provisório de Kerensky.
No "segundo momento", houve o "outubro vermelho", ainda no ano de 1917, quando Vladimir Lênin e os bolcheviques tomam o poder na Rússia e instalam o comunismo. Kerensky foge do país e tem início uma guerra civil na Rússia, vencida pelo Exército Vermelho de Lênin, em 1923, com o comando decisivo de Leon Trotsky.
Em Cuba, ocorreu também uma "revolução em dois tempos".
A vitória de Fidel Castro, Che Guevara e seus kamaradas, que desceram da Sierra Maestra e entraram vitoriosos em Havana em 1 de janeiro de 1959, fechou a "primeira fase da revolução", vendida ao mundo inteiro como uma "revolução democrática", para a derrubada do ditador Fulgêncio Batista. O New York Times foi o principal marqueteiro dessa mentira do século, na pessoa do jornalista Herbert L. Matthews, que pode ser visto no livro "O homem que inventou Fidel", de Anthony DePalma (cfr. reportagem em https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-homem-que-inventou-fidel/ ) Em consequência, o governo dos EUA enviou grande quantidade de armamento a Fidel Castro, para a vitória final.
O "segundo tempo" da Revolução Cubana ocorreu em 1961, depois da desastrada invasão de anticastristas na Baía dos Porcos, em Cuba, com auxílio porco da CIA, que prometeu ajuda aos revoltosos, porém entregou de bandeja os antirrevolucionários nas garras de Fidel Castro. Nesse ano, caiu a máscara de Fidel, que se apresentou ao mundo como realmente sempre foi: um comunista convicto, realizando aliança estratégica com a Rússia comunista. Fidel Castro foi mais esperto que o russo do "abril branco": se tornou ao mesmo tempo o Kerensky e o Lênin do "outubro vermelho" da Ilha do Caribe, até sua morte.
No Chile, também haveria uma "revolução em dois tempos".
Com o recebimento de toneladas de armamento vindas de Cuba e o apoio de partidos comunistas e socialistas como Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR), Unidad Popular (UP) e Frente Manuel Rodriguez (FMR), no "primeiro momento" Salvador Allende decretaria uma "revolução democrática" no Chile, após matar os oficiais do Alto Comando em um banquete programado para ocorrer no dia da independência do país - cfr. "Plano Z" em Allende e Pinochet, o mito e a realidade, de Félix Maier - https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/allende-e-pinochet-o-mito-e-realidade.html.
Não se sabe quem seria o líder revolucionário comunista que assumiria o poder no Chile num "segundo momento", já que o "Plano Z" previa um atentado contra a vida de Salvador Allende. Allende seria apenas o Kerensky da Revolução Comunista do Chile, evitada pelo general Augusto Pinochet, em 1973.
Como se sabe, Salvador Allende tinha uma guarda pretoriana composta por militares cubanos, assim como tiveram depois os ditadores da Venezuela, Hugo Chávez e Nicolas Maduro. Tudo indica que Allende não se suicidou, nem foi morto por militares chilenos, mas foi fuzilado por um agente cubano - cfr. artigo de Eduardo Mackenzie publicado em 2005 no site Mídia Sem Máscara, em
https://felixmaier1950.blogspot.com/2024/10/cuba-nostra-os-segredos-de-estado-de.html.
E o Brasil atual, está ainda no "primeiro tempo" da revolução socialista/comunista pretendida pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e seus genéricos (PCdoB, PSol, PSTU, PCO etc.) ou já está nos acréscimos do "segundo tempo"?
(*) SILVA, Nelson Lehmann da. A Religião Civil do Estado Moderno. Thesaurus, Brasília, 1985.
Adendo:
Carta de Fidel Castro para Salvador Allende
No início de agosto de 1973, um mês antes do contragolpe militar realizado pelo general Augusto Pinochet, Fidel Castro mandou ao Chile dois de seus maiores “especialistas” em organização de violência política: o 1º Ministro-substituto, Carlos Rafael Rodriguez, e o chefe da temida polícia secreta, Manuel Pineiro, o “barbarroxa”, com a seguinte carta (Tradução do Capitão do Exército, José A. da Rocha, ex-auxiliar de Adido Militar no Chile; o teor da carta original, em espanhol, pode ser conferida em https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/07/a-pedra-de-roseta-do-caribe-por-felix.html):
“Havana, 29 de julho de 1973
Querido Salvador
Com o pretexto de discutir contigo questões referentes à reunião de países não-alinhados, Carlos e Piñero realizam uma viagem para aí. O objetivo real é informar-se contigo sobre a situação e oferecer-te, como sempre, nossa disposição de cooperar frente às dificuldades e perigos que obstaculizam e ameaçam o processo. A estada deles será muito breve, porquanto têm aqui muitas obrigações pendentes e, não sem sacrificar seus trabalhos, decidimos que fizessem a viagem.
Vejo que estão, agora, na delicada questão do diálogo com a D. C. (Democracia Cristã) em meio aos graves acontecimentos, como o brutal assassinato de seu Ajudante-de-Ordens Naval e a nova greve dos donos de caminhões. Imagino a grande tensão existente devido a isso e teus desejos de ganhar tempo, melhorar a correlação de forças para o caso de que comece a luta e, se possível, achar um caminho que permita seguir adiante o processo revolucionário sem guerra civil, junto com salvar tua responsabilidade histórica por aquilo que possa ocorrer.
Estes são propósitos louváveis.
Mas, no caso da oposição, cujas reais intenções não estamos em condições de avaliar daqui, empenhar-se em uma política pérfida e irresponsável exigindo um preço impossível de pagar pela Unidade Popular e a Revolução, o qual é, inclusive, bastante provável, não esqueças, por um segundo, da formidável força da classe trabalhadora chilena e do forte respaldo que te ofereceram em todos os momentos difíceis; ela pode, a teu chamado, ante a Revolução em perigo, paralisar os golpistas, manter a adesão dos vacilantes, impor suas condições e decidir de uma vez, se for preciso, o destino do Chile. O inimigo deve saber de que dispões do necessário para entrar em ação. Sua força e sua combatividade podem inclinar a balança na capital a teu favor, inclusive, quando outras circunstâncias sejam desfavoráveis.
Tua decisão de defender o processo com firmeza e com honra, mesmo com o preço da própria vida, que todos te sabem capaz de cumprir, arrastarão a teu lado todas as forças capazes de combater e todos os homens e mulheres dignos do Chile. Teu valor, tua serenidade e tua audácia nesta hora histórica de tua pátria e, sobretudo, teu comando firme, decidido e heroicamente exercido, constituem a chave da situação.
Faz Carlos e Manuel saberem em que podem cooperar teus leais amigos cubanos.
Te reitero o carinho e a ilimitada confiança de nosso povo.
Fraternalmente,
Fidel Castro”
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A "Revolução de Outubro" foi um golpe, não uma revolução
Ryan McMaken* – Instituto Mises Brasil
Uma função fundamental da propaganda sempre foi desmoralizar a oposição. Do ponto de vista dos propagandistas, é importante sempre dar a impressão de que o lado deles é o lado da maioria e o mais popular. Testemunhamos isso em ação nos últimos anos com o aumento da censura destinada a "combater a desinformação". Ao suprimir pontos de vista dissidentes, o regime diminui o acesso a ideias "não ortodoxas", mas há uma função secundária importante: suprimir o discurso dissidente também dá a impressão de que os dissidentes são menos numerosos e mais isolados do que realmente são. Ao garantir que certas vozes dominem a praça pública, os propagandistas ajudam a criar um senso de inevitabilidade do programa do regime. Isso facilita uma maior aceitação pública da vitória inevitável dos propagandistas. Afinal, por que se preocupar em resistir se o outro lado é tão popular e o seu lado é apenas uma pequena minoria?
Os socialistas e seus aliados há muito tempo são muito hábeis em usar esses métodos, e poucos tinham um domínio maior deles do que V.I. Lenin. Durante a maior parte do século XX, os sucessores de Lenin empregaram seus métodos, retratando com sucesso a disseminação de regimes socialistas como o resultado inevitável de enormes movimentos de massa comunistas. A esquerda pós-soviética moderna ainda emprega táticas semelhantes, retratando-se como estando do "lado certo da história" e como a posição majoritária legítima.
No entanto, até que ponto muitas dessas "revoluções" do século XX foram verdadeiramente revoluções sempre esteve em questão. Muitas dessas mudanças de regime socialista poderiam ser descritas com muito mais precisão como um golpe de Estado no qual uma pequena minoria assumiu o controle do Estado sem o apoio da maioria ou quaisquer movimentos revolucionários de massa de baixo para cima.
Por exemplo, a chamada "Revolução de Outubro" na Rússia não foi uma revolução, mas um golpe realizado por uma pequena minoria. Na versão socialista da história, a Revolução de Outubro foi um "movimento popular" de baixo para cima dedicado a ajudar Lenin e os bolcheviques a derrubar o governo provisório social-democrata. Essa narrativa foi fundamental para estabelecer a legitimidade do regime de Lenin. Nessa visão, Lenin estava apenas dando ao "povo" o que ele queria. O retrato do golpe de outubro como uma revolução das massas também dá a impressão de que a virada para o comunismo foi o resultado inevitável e desejado do desdobramento das tendências históricas. Naturalmente, essa visão da história encoraja os socialistas enquanto desmoraliza seus oponentes.
No entanto, os fatos históricos nos dizem que a maior vitória política do socialismo – a criação da União Soviética – não foi inevitável nem uma resposta às demandas de uma maioria revolucionária.
Golpe ou revolução?
Durante décadas após a instalação do regime soviético de Lenin, historiadores e especialistas em geral obedientemente empregaram o termo "Revolução de Outubro" para descrever a mudança de regime. Nas décadas mais recentes, no entanto, muitos historiadores adotaram uma abordagem menos crédula em relação à terminologia escolhida.
Na década de 1970, até mesmo muitos historiadores soviéticos negaram que a Revolução Russa fosse uma manifestação legítima de um movimento de massa. Em sua historiografia do debate sobre o uso do termo "revolução", Nina Bogdan observa que vários historiadores exilados e dissidentes neste período começaram a contradizer o "mito simplista da Revolução de 1917" que era a visão geralmente aceita. Ela escreve que esses historiadores duvidaram da história oficial e, posteriormente, chegaram à conclusão de que os bolcheviques tomaram o poder por meios ilegítimos, referindo-se ao evento de outubro de 1917 como uma "tomada do poder", "golpe de Estado" ou "motim".
O historiador Orlando Figes - autor de A Tragédia do Povo: A Revolução Russa, 1891-1924 - refere-se ao evento como um "golpe". Além disso, de acordo com Figes, um golpe era a tática preferida de Lenin, pois permitia que ele fizesse uma corrida final em torno do novo Congresso Soviético. Na época, o Congresso desfrutava de algum grau de verdadeiro apoio popular, mas estava sob a influência de uma variedade de facções concorrentes não leais a Lenin.
Da mesma forma, Richard Pipes, em seu livro A Revolução Russa, emprega consistentemente os termos "golpe de outubro" ou "golpe bolchevique" para descrever o evento e observa como os quadros de Lenin trabalharam ativamente contra as coalizões mais amplas e populares para tomar o poder por meio de uma pequena, mas bem organizada e bem armada, milícia pessoal. Como diz Ralph Raico, "a chamada Revolução de Outubro - o que os comunistas por décadas chamaram de Grande Outubro ou Outubro Vermelho - foi simplesmente um golpe de estado de alguns milhares de Guardas Vermelhos".
Uma "revolução" de uma pequena minoria
Se Lenin não tinha o apoio da maioria, como ele realizou essa "revolução"? A resposta está em como Lenin usou uma combinação de propaganda, sigilo e organização política em um ambiente onde nenhum regime havia estabelecido legitimidade com segurança.
Para entender isso, precisamos ter em mente que, no final de 1917, a monarquia já havia sido derrubada durante a Revolução de Fevereiro. Isso foi seguido pela proclamação oficial de uma república em setembro. A monarquia já havia se tornado extremamente impopular ao prolongar o envolvimento da Rússia na Primeira Guerra Mundial. A população - de aproximadamente 125 milhões na época - sofreu mais de 1,2 milhão de mortes na guerra e mais de 7 milhões de vítimas no total. Infelizmente, o governo provisório - que poderia ter obtido aclamação popular ao encerrar o envolvimento russo na guerra - recusou-se a sair da guerra. Isso permitiu que os bolcheviques ganhassem mais tarde algum grau de apoio de grande parte da população, prometendo pedir a paz.
Foi nesse ambiente que Lenin e os bolcheviques projetaram seu golpe.
Há pouca evidência de que o público em geral em São Petersburgo ou Moscou estivesse clamando por uma tomada violenta do poder pelos leninistas. Em vez disso, como Pipes coloca, foi o tenente de Lenin, Leon Trotsky, que "[com] o domínio supremo das técnicas do golpe de estado moderno, do qual ele foi indiscutivelmente o inventor, ... levou os bolcheviques à vitória".
A maior dessas técnicas era a propaganda da principal fonte de poder coercitivo do regime, as guarnições militares:
os bolcheviques fizeram grandes esforços para fazer propaganda dos soldados nas guarnições de Petrogrado assim que ocorreu a Revolução de Fevereiro, e os desencorajaram de retornar ao front, de modo que, em outubro, eram os soldados que estavam na vanguarda para liderar qualquer ação militar em apoio aos bolcheviques, não os trabalhadores.
Em contraste, "os trabalhadores" e a população em geral foram mantidos no escuro quanto aos planos dos bolcheviques. Lenin até escondeu seus planos de golpe do Congresso Soviético. Simultaneamente, Lenin alegou estar trabalhando com ordens do Congresso em um esforço para obter o apoio de socialistas de todos os partidos.
Em vez disso, de acordo com Pipes, "como o golpe não foi autorizado [pelo Segundo Congresso dos Sovietes] e tão silenciosamente realizado, a população de Petrogrado não tinha motivos" para suspeitar que algo importante havia acontecido.
Ninguém, exceto um punhado de princípios, sabia o que havia acontecido: que a capital estava nas mãos de ferro dos bolcheviques armados e que nada seria o mesmo novamente. Lenin disse mais tarde que começar a revolução mundial na Rússia era tão fácil quanto "pegar uma pena".
Mesmo entre as guarnições militares propagandeadas, a participação em favor dos bolcheviques era muito limitada. Nikolai Sukhanov estima que, "da guarnição de 200.000, apenas um décimo entrou em ação, provavelmente muito menos". Por outro lado, como o governo provisório era tão impopular, muitos dentro da guarnição não estavam interessados em fazer muito para deter os bolcheviques.
A verdadeira história da "revolução" de outubro não é a de uma revolta popular, mas a aquiescência resignada de uma população desesperada pelo fim da guerra devastadora. Os bolcheviques prometeram paz tanto para os militares importantes quanto para o público em geral.
Uma vez que os bolcheviques assumiram o controle da máquina burocrática do Estado, o partido foi capaz de empregar toda a panóplia de empregos públicos e esmolas "gratuitas" para apoiadores dispostos a lutar contra os remanescentes dos antigos regimes.
A batalha de ideias
Mesmo com esse poder - e com o poder de expandir amplamente os esforços de propaganda - o novo regime de Lenin foi forçado a passar cinco anos lutando contra dissidentes na Guerra Civil russa. Isso ocorre porque, como observou Ludwig von Mises, "em uma batalha entre a força e uma ideia, esta última sempre prevalece". Assim, nem mesmo as táticas brilhantes de Lenin e Trotsky foram suficientes para anular a necessidade de vitórias bolcheviques na batalha de ideias.
Mesmo com uma vitória tática inicial por meio do golpe, os bolcheviques ainda precisavam garantir um apoio político mais amplo para reprimir definitivamente a resistência. Isso foi possível graças aos esforços agressivos de "educação" apoiados pelo regime. Essa "educação" - mais precisamente descrita como propaganda - foi financiada e promulgada por uma vasta gama de instituições governamentais, incluindo a mídia controlada pelo Estado. A propaganda serviu tanto para criar verdadeiros crentes quanto para pacificar os céticos. A propaganda reduziu as massas de oponentes ativos a números que poderiam ser mais facilmente "liquidados" no Gulag.
A propaganda leninista também foi ajudada pela natureza das inclinações ideológicas de longa data entre a própria população russa. Como a industrialização era relativamente limitada no Império Russo no início do século XX, o Império carecia de uma população considerável de liberais burgueses com os meios e a inclinação para se opor aos bolcheviques em números substanciais. Além disso, na Rússia de 1917, o público em geral havia sido treinado para simplesmente suportar o despotismo e os golpes palacianos. Com os golpes de 1907 e fevereiro de 1917 ainda frescos em suas mentes, muitos russos comuns podem ter assumido (erroneamente) que o golpe de outubro foi simplesmente mais do mesmo.
A indiferença e a ambivalência públicas, no entanto, estão muito longe do "levante popular" que a esquerda socialista há muito afirma ter impulsionado a tomada do poder pelos bolcheviques. Tal como acontece com os partidos governantes e conspiradores de nosso próprio tempo, a tomada e aplicação do poder político em outubro de 1917 foi impulsionada em grande parte pelo uso efetivo do sigilo, da propaganda e do poder coercitivo de uma pequena minoria.
Ryan McMaken: é bacharel em economia e mestre em políticas públicas e relações internacionais pela Universidade do Colorado. É editor sênior do Mises Institute. Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
Fonte: https://mises.org.br/artigos/3476/a-revolucao-de-outubro-foi-um-golpe-nao-uma-revolucao