A POÉTICA DO DESAPEGO: O FLUXO SILENCIOSO DA EXISTÊNCIA

Compartilho com os recantistas e demais leitores, um texto absolutamente extraordinário, de uma profundidade filosófica de rara beleza e veracidade, digno dos geniais e grandes filósofos da humanidade .

Seu autor: OLIVER HARDEN, facilmente encontrado nas redes sociais. Particularmente, descobri no Facebook.

Entre seus primorosos textos, este que transcrevo a seguir, me impressionou acima dos demais por tratar de um tema que sempre e muito me interessou: a existência real, palpável, duma forma que sempre pensei, na qualidade de estudioso da filosofia, com a experiência de ter frequentado a graduação e o mestrado em filosofia na academia.

Com uma linguagem fácil de ser entendida mas de extrema complexidade, Harden expõe uma verdade que a maioria esmagadora dos seres humanos não aceita, motivo de tantos distúrbios de ordem psico social, como ansiedade, angústia e depressão.

RECONHECER A EXISTÊNCIA COMO UM FLUXO DO QUE FOI E AINDA SERÁ. E ACEITAR TAL CONDIÇÃO COMO FATOR INEXORÁVEL DA DINÂMICA EXISTENCIAL. Esta é a chave da felicidade.

Inclusive, Harden fecha seu fascinante texto dexado claro que tal imposição existencial é motivo de paz e renovação individual e espiritual.

Parabéns Oliver Harden.

Marco Antônio Abreu Florentino

A POÉTICA DO DESAPEGO: O FLUXO SILENCIOSO DA EXISTÊNCIA

Ao longo da vida, somos os curadores invisíveis de uma galeria íntima de memórias, onde os rostos, os gestos e os silêncios de cada instante vivido se sobrepõem como pinceladas de uma obra sempre inacabada.

Aqueles que um dia preencheram nossos dias com suas presenças vibrantes tornam-se sombras delicadas, afastadas não pela distância, mas pelo tempo, que os recolhe em sua marcha inexorável. Os lugares que habitamos, os sonhos que abraçamos, e as pequenas coisas que acreditávamos imutáveis, todas elas, como a areia entre os dedos, deslizam para longe, quase imperceptíveis.

Há uma ternura e uma dor sutil na percepção de que a vida é, em essência, uma coleção de ausências. Amigos, tão essenciais outrora, desaparecem como folhas levadas pelo vento das estações. Amores, que acendiam o fogo do ser, esmaecem na calmaria dos dias comuns. Até mesmo os mistérios que antes nos inquietavam, com o tempo, perdem seu fascínio, e o que resta é o eco distante do que um dia foi urgente.

Mas não é o lamento que aqui importa, e sim a aceitação serena de que cada perda, cada despedida, é parte da nossa transformação. Não acumulamos apenas memórias, mas também vazios — espaços deixados por tudo aquilo que, de forma silenciosa, se desfez. E nesses espaços, paradoxalmente, floresce a possibilidade de sermos outros, de renascermos com novas afeições, novos desejos, novas compreensões.

Viver é, afinal, um processo contínuo de despedidas e acolhidas. A cada ciclo, somos chamados a despojar-nos daquilo que, por um tempo, nos definiu, para dar lugar ao que ainda não conhecemos. É nessa dança entre o que se vai e o que chega que reside o mistério da existência.

E, ao final, percebemos que a verdadeira constância não está nas coisas ou nas pessoas que permanecem, mas na capacidade de abraçar a transitoriedade de tudo.

A vida, portanto, não é um acúmulo, mas uma sucessão de desapegos. E é nesse fluxo, tão suave quanto implacável, que reside a poesia de ser humano: estar sempre entre o que foi e o que ainda será, numa caminhada que nunca se fecha completamente.

Oliver Harden