Trópico de touro XI

O que significa a frase “quero experimentar algo diferente”?

Dita sob determinado contexto pode ser interpretada como um desejo subliminar por novas experiências sexuais, excitantes e perigosas. Acontece ao homem e à mulher, de desejarem aquilo que lhes escorrega pelas mãos, tal qual um carma inescapável, nascem com este sinal.

Ainda que se tenha feito sexo gostoso durante alguns meses com uma mesma pessoa, após o terceiro ou quarto mês, tão certo quanto caxumba em criança pequena, brotará com violência um pensamento intrusivo de aventurar-se em outros montes de Vênus, e na mulher o desejo de ter em si novos membros veiúdos e animalescos e também carinhosos, pois não se faz sexo apenas de selvagerias ou devassidões, recomenda-se nas cartilhas donjuanescas que se encontre o equilíbrio entre a delicadeza e a brutalidade, entre a vontade e a repulsa: a toda penetração corresponde um afastamento (aquele movimento fuque-fuque) – mas acontece que somos definitivamente insaciáveis e o que não temos sempre será o que queremos e isso pode ser explicado por um inato desejo de tristeza e tragédia que algumas almas trazem em si, como marcas indeléveis e quem pode explicar isso? Jung e o seu livro dos símbolos talvez apontem algum caminho que possa indicar uma resposta.

Mas, não há respostas definitivas para a humanidade, não se aceita nada que seja definitivo, mas insisto, o que há por trás da frase “desejo experimentar algo diferente”?

Dissequemos as ocultas camadas que envolvem nosso consciente até alcançarmos o que se chama "inconsciente".

No gênese, após longos anos, Adão e Eva se cansaram de Deus; existia desde o Princípio, um ser parecido com uma serpente que andava equilibrado sobre duas pernas.

O ser misterioso os seduziu, conhecedor do eterno desejo humano, que àquele tempo ainda era um efebo, de experimentar novidades.

Os dias se passam repetidamente e tudo acontece de novo e de novo, o Éden paradisíaco, deleitoso, pródigo em bonanças e sons de harpas e bons ventos e o leite materno, tudo isso já não é suficiente para conter a poderosa expressão do desejo de ir além.

Seria, afinal, um anseio por quebrar a cara? Ou um anseio lúgubre por tristeza e solidão, ou mais profundamente, escondido sob as camadas ocultas do inconsciente, um anseio por fracassar para triunfar a posteriori?

Homem de preto
Enviado por Homem de preto em 08/10/2024
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