O paradoxo da decisão
Temos realmente livre arbítrio? Embora a maior parte das pessoas sustente que sim, há questionam se o processo de tomada de decisão é realmente livre.
Definimos por constelação de decisão o conjunto de conhecimentos, aos valores pessoais, às premissas, verdades, certezas que conjuntamente criam um padrão de pensamento e condicionam a decisão. Ademais, definimos por amplitude de correlação o nível de aderência do sujeito à sua constelação de decisão.
Sustentamos que quanto mais sofisticada a constelação de decisão e quanto maior a amplitude de correlação do sujeito à sua constelação, menor o nível de livre arbítrio. Chamaremos esta aparente contradição de paradoxo da decisão. O paradoxo é erigido sobre duas premissas básicas.
Premissa 1: Quanto mais ampla e sofisticada é a constelação de decisão, mais específicos e sofisticados são os padrões de pensamento e, portanto, mais condicionadas e restritas são indicações de que opção é a ótima.
Premissa 2: Quanto maior a amplitude de correlação, maior a probabilidade de a decisão tomada estar correlacionada às sugestões provenientes da constelação de decisão.
Consideremos alguns exemplos que podem ser entendidos à luz do paradoxo.
a) Os animais apresentam uma constelação de decisão absolutamente abrangente dadas as situações que tipicamente lhes exigem a tomada de decisão (um animal “sabe” exatamente o que deve fazer). A amplitude de correlação é altíssima (seus comportamentos são instintivos) e, portanto, os animais praticamente não têm livre arbítrio efetivamente. Não devemos esperar que um leão escolha não devorar uma gazela.
b) O gênio louco consiste no estereótipo de alguém com formidável constelação de decisões e amplitude de correlação baixa ou inexistente. Desta forma, nunca se pode presumir que terá certo comportamento, ainda que este seja que ele seja evidentemente o ótimo. Tem alto grau de livre arbítrio.
c) O idiota subordinado consiste no estereótipo de alguém que apresenta amplitude de correlação altíssima, mas uma constelação de decisões frágil e incapaz de fornecer subsídios para a tomada de decisão ótima. Tem baixíssimo grau de livre arbítrio.
d) O ser humano médio se localiza no ponto médio do espectro em que os extremos são o gênio louco e o idiota subordinado. As únicas escolhas inerentemente livres do ser humano médio diz respeito à formação de constelação de decisões (se é que isso é possível. Talvez o seja no contexto da realização de terapia, por exemplo, quando o ser admite que elementos nocivos para si compõem sua constelação de decisões e “decidem” modificá-la). Entrementes, o ser humano médio tem amplitude de correlação alta, mas sujeita a ruídos aleatórios ou motivados por influência ambiental. Tem certo grau de livre arbítrio.
e) Os anjos, tal e qual os concebemos, tem constelação de decisões perfeita e amplitude de correlação quase perfeita, mas ainda sujeita a ruídos. Portanto, têm menos livre arbítrio que o ser humano médio.
f) Deus, tal e qual o concebemos, tem constelação de decisões perfeita e amplitude de correlação perfeita, não sujeita a ruídos. Portanto, não tem qualquer livre arbítrio. Se em algum momento o teve, foi durante a construção da constelação de decisões. Daí para diante, todas suas decisões são condicionadas e portanto, Deus não tem livre arbítrio algum.