O OUTRO LADO DO POEMA

Distante dos excertos da psicologia eternamente positiva, da autoajuda e dos contos dos Coaching, penso que a vida traz em si possibilidades, mortes, dores, incapacidades, luz, crescimentos e desorganizações, alegrias, tristezas… tudo junto e, às vezes, bem misturado. Organiza agora para desorganizar depois. Não há e nunca existiu completude e paraíso. A beleza mora justamente nisso, com ou sem céus e infernos, ou os dois combinados. Olhemos para a natureza! Somos seres naturais, mesmo com toda a nossa carga de racionalidade e metafísica.

Deixemos de inventar deuses. Vamos amar, ser empáticos, estender as mãos, distribuir abraços e fazer menos homilias. Observem as galáxias em movimentos e dentro delas buracos negros, estrelas morrendo e outras nascendo. Colisões, catástrofes e lindíssimas auroras boreais. Matéria, escuridão e não matéria. Campos magnéticos a nos proteger e as radiações cósmicas cancerígenas. Equilíbrios de forças e desorganizações constantes. As marés subindo e descendo, os oceanos avançando e recuando. Enchentes e secas, desertos e eras glaciais. Noites e dias. O coração em sístoles e diástoles, a ins e a expiração. Deveríamos ser felizes por isso.

Todos os dias acordo e agradeço pelo caos e pela beleza; ora triste, ora alegre, sigo em busca de mais um dia de vida! A vida é rara e bela. Nós somos uma espécie de tontos girando pelo universo. A terra gira em torno do sol a 105 mil km/h, ao mesmo tempo que gira torno de si mesma a 1600 km/h e sol gira em torno do centro da Via Láctea e as galáxias se expandem e, às vezes se chocam, se destroem e fazem aparecer novos sóis. Eu por aqui adoro café com leite e pão quentinho pela manhã… abraços fortes e apertos de mãos.

Infinitar-se é um caminho. Somos passarinhos e mesmo sem ninhos precisamos pousar em algum cantinho. Infinitar-se-iam as formigas 🐜, os bem-te-vis, os cupins e os tamanduás?

Presunção sermos os únicos, imagem e semelhança Dele. Adoro mais picolés que sorvetes, pois aqueles me permitem sair andando por aí e ir degustando sabores até acabar. Tagarelando pelas ruas, amando e sendo amado, até tropeçando e ao final posso, no palito desnudo, ver escrito, você foi premiado.

Já quebrei o status da completude e da infinitude e tô querendo quebrar a soberania do amor, essa quimera. Dividi-lo e separar em pedacinhos: amizade, sinceridade, companheirismo, irmandade, beijos, abraços, carinho, compaixão, cumplicidade, afetividade, sexo, beijo na boca e paixão… e depois tentar todos juntos e ver o que vai sobrar.

Reflito que somos esse contínuo na nossa humanidade. E a cada novo nascimento é uma nova possibilidade para os humanos. Nascemos em um ponto qualquer da nossa história, e na experiência coletiva de nascer, reconhecemos nossa ancestralidade familiar ou de um povo. Segundo os estatísticos já passaram pela terra 110 bilhões de humanos. Teremos a possibilidade de aprender com a nossa história de forma consciente e também inconciente, embebidos pela nossa cultura e afetos. A cada novo nascimento a possibilidade de um novo rumo individual e coletivo. A experiência humana é espiritual, prática e cultural. Não teremos como fugir disso. Somos a única experiência de projeção de futuro e construímos nossas vivências nessa perspectiva.

Rosalvo Abreu
Enviado por Rosalvo Abreu em 05/10/2024
Reeditado em 05/10/2024
Código do texto: T8167131
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