PARADO, AÍ!

Era uma vez um chinesinho... (Só podia ser chinês, outro tipo de raça não ia se encaixar na estória.) Era uma vez um chinesinho muito, muito esperto! Aos 10 anos, já havia ingressado numa universidade de Pequim, aos 16 já estava cursando o doutorado. O mais jovem estudante de que se tem notícia. Ah! Era matemático. E existiu de verdade. Seu nome? Zhang Xinyang. Um gênio!

Mas... aos 28 anos, deixou seu magnífico emprego, voltou a morar com os pais e decidiu não fazer mais nada! Culpa de quem? Do Tang Ping!

Não, não se trata de nenhum namorado “gay”, “influencer” digital, comunista inveterado, político ou criminoso. O tal Tang Ping é tão somente a última tendência filosófica das novas gerações chinesas. Em tradução livre significa “deitar-se no chão” ou coisa parecida. Surgiu nas redes sociais chinesas, num passe de mágica, como forma de combater essa pressão para sermos cada vez mais produtivos em tudo, ou apenas o cansaço de ver que o futuro é cada vez mais sombrio e complicado. Deitar e não fazer nada... Ah! Se a moda pega!

Li isso em algum lugar e havia uma boa explicação. Para o nosso genial chinês e sua geração descolada, essa era a nova fórmula da felicidade. Taí! Até que parece legal! Estoicismo à parte, penso que estamos mesmo muito infelizes, fartos do trabalho e da pressão social. Eu, pelo menos, estou...

Segundo o nosso matemático chinês, a chave para a felicidade não está no dinheiro, no poder... (Até aqui, nenhuma novidade.) Nem na saúde, ou até mesmo no amor. Chocante! Sempre acreditei na saúde e, principalmente, no amor. Será que felicidade é mesmo não fazer nada, ficar à toa na vida?

Bom, essa filosofia virou top para a juventude chinesa. Eu, que não sou chinesa nem jovem, também fiquei a pensar... Sentir felicidade é compatível com sentir emoções positivas. E, sinceramente, não estou vendo nada de positivo nessa trabalheira e correria toda! Talvez que felicidade fosse apenas fazer o que quiser, quando quiser. Isso pode ser taxado de perigoso... mas é coerente. De qualquer forma, o termo felicidade é muito escorregadio e personalizado, cada qual tem o seu conceito (ou “pré-conceito”).

Pensando bem, a gente não precisa ser “Tang Ping” de vez em sempre, largar o trabalho de supetão, ficar o tempo todo sentado no sofá ou deitado na rede. Só de vez em quando... ou de vez em muito. Parar tudo o que está fazendo, tomar uma taça de vinho, ou uma chávena de chá, ou até mesmo um copo de água vendo o tempo lá fora passar (de preferência a chuva chover). Fazer um carinho no gato, dar um abraço apertado em alguém, prestar atenção em alguma risada. Se possível, acompanhar os primeiros passos de um bebê. Coisas assim bem banais... Felicidade pode ser isso também: não fazer nada de sério!

Ribeirão Preto, 29 de setembro de 2024