QUANDO SETEMBRO VIER...

Contemplo, ensimesmada, estes entardeceres dos últimos dias de agosto e conjecturo: “O Inverno já se despede, logo sorrirá de novo a Primavera!” Distraidamente, pauso o meu olhar inquieto sobre as últimas folhas esvoaçantes e me ponho a imaginar: “As pessoas bem que podiam ser como as estações do ano, renovando-se constantemente!”

À medida que a poeira dos anos vai se acumulando em nossa face, é bem possível que empaquemos numa única estação, primeiramente o Outono abafado e poeirento, depois o Inverno frio e cinzento. A maturidade e a velhice costumam nos roubar o ardor do Verão e o frescor da Primavera.

Todavia, por que teria de ser sempre assim? A própria Natureza de que somos parte não nos dá uma lição de alternância? Não importam os milênios já acontecidos, todo ano ela se transmuta diversas vezes! Ora é o festival das cores que florescem dentre o verde, ora é o azul do céu que se escalda sob o sol pleno. Ora é a névoa poeirenta e sufocante que emoldura o bailado das folhas soltas no ar, ora é o cenário que se despedaça ao vento gelado até se tornar totalmente inerte, quase sem vida.

Assim, acontece de o mundo, durante algum tempo, meio que se esconder ou adormecer, a chuva chorar baixinho ou se congelar numa túnica branca e monótona, o ânimo se arrefecer em paisagens desnudas e incolores... Mas eis que, na devida hora, a beleza se liberta desse cenário desolador, aparentemente sem vida e reage, retomando o seu esplendor de flores e de pássaros! Mesmo quando o calor se derrete em gotas de suor, o sol cuida de iluminar a paisagem, o céu se veste de brilho e o riso corre leve e solto em todos os recônditos da existência!

A cada ciclo, esse milagre se repete indefinidamente, cuidando de mudar os ares e os lugares, quebrando a monotonia da existência e criando ora a luz, ora a sombra, os dois componentes inseparáveis da vida!

Então, pus-me a questionar: “Será que ainda vou florir outra vez?!” Não, não gostaria mesmo de viver agora apenas uma estação, o Outono cinzento ou o Inverno trevoso! Sei que não terei o Verão apimentado e ardente da juventude, mas talvez possa ainda luzir na vida das pessoas, espalhar o entusiasmo, incentivar e aplaudir cada um que cruze o meu caminho! Posso talvez florir ainda docemente como na Primavera, sempre é tempo de perfumar a vida de alguém com os olores da ternura, da gentileza e, principalmente, do Amor. Nunca é tarde para deixar florescer a generosidade, a aceitação, a mansidão de gestos e de espírito! Suave e amena, isso sempre poderei ser...

Haverá, é óbvio, dias de tristeza hibernal e de tédio outonal. Afinal, a vida se tece sempre de altos e baixos, de luz e sombra, de dor e alegria!

No mínimo, é preciso tentar!... Principalmente, quando setembro vier...

Ribeirão Preto, 27 de agosto de 2024