OS GRANDES INDUSTRIAIS DA IMBECILIDADE
Dá-me a vossa atenção e dar-te-ei um pouco do meu próprio vazio!
*Por Antônio F. Bispo
Há exatos 100 anos, se você estivesse lendo um jornal de grande circulação, poderia se deparar com manchetes tendo os seguintes nomes em letras garrafais: Henry Ford; Andrew Carnegie; Francesco Matarazzo; John D. Rockefeller; Thomas Edson; Alexander Graham Bell; Alexander Fleming; Estée Lauder, entre outros.
Ao abrir os noticiários nos dias presentes, epítetos como os de Deolane Bezerra, Irmãos Neto, Carlinhos Maia, Luva de Pedreiro, Tirulipa, Gkay, Gustavo Lima, Andressa Urach, Pablo Marçal entre milhares do tipo, preenchem mais da metade dos assuntos comentados na semana ou de meses seguidos.
O que há em comum entre o primeiro e o segundo grupo de pessoas citado?
Praticamente nada!
Exceto que em ambos casos, tais figuras ganham (obtiveram) muita grana, rios de dinheiro se comparados ao faturamento comum de mais de 80% da população globo.
Quantias que de tão grande, nem em 5 séculos de trabalho duro e sem nada gastar, uma família com 10 integrantes e valores somados seriam capazes de acumular.
De forma jocosa e por vezes arrogante, alguns entre os tipos do segundo grupo, alegam arrematar tamanha fortuna em apenas 1 anos e com simples clicks diários em seus teclados ao invés de grandes estratégias, investimentos, percas e aprendizados constantes como fora no primeiro grupo ou entre a maioria dos mortais deste orbe, desde o início dos tempos.
Há, porém, um abismo que separa a primeira turma da segunda em questão.
Se o espólio é a ponte que os tornam iguais, a futilidade de vida, de alma, de serviços ou legado do segundo círculo em relação ao primeiro, é o fator principal que os distinguem entre si.
Os que já tem mais de 40 anos, são amantes dos livros e possuem meios digitais com acesso à internet, bem como outros meios de comunicações audiovisuais, não terá dificuldade alguma em reconhecer a maioria destes personagens, nem do primeiro caso e nem do segundo.
Sendo assim, já devem ter “pego no ar” onde quero chegar, desde as primeiras linhas deste texto.
A ideia principal não é pagar de moralista ou de condutor do destino alheio.
Apenas um apelo à volta do livre pensar, da razão e retomada de “preço justo” àquilo que realmente tem valor social coletivo, afinal, todos os destinos estão entrelaçados.
Dos vivos e dos mortos, dos que já se foram e dos que ainda virão, principalmente dos nossos contemporâneos, que por meio de suas ações e pensamento (ou falta deste), afetam não apenas a si, mas a uma coletividade inteira, a ação direta de uns e a inércia de outros compõe cada "átomo" do tecido social em decurso.
Por isso a necessidade de refletir o nosso papel ativo ou passivo no processo das coisas.
Entre tantos atributos e defeitos associados aos figurantes endinheirados do século passado, um fato é inegável: eles foram grandes visionários, comerciantes, produtores de riquezas, bens e serviços que até hoje são consumidas, aperfeiçoadas e redimensionadas na maior parte do globo.
Gente cuja mentalidade e visão de empreendedorismos estava ha décadas, talvez séculos à frente do seu próprio tempo.
Humanos comuns, que puseram as primeiras pedras nas avenidas da evolução do consumo em massa, da logística, das comunicações e na redução do tempo e modo como as coisas eram feitas até então.
Percussores de uma nova hera, que possibilitaram que o mundo se tornasse cada vez “menor”, “mais rápido” ou “mais leve”, até certo ponto.
Pessoas, sem as quais não seria possível haver tantos outros afortunados, sem que as calçadas de tais sucessos não fossem pavimentadas por estes outros.
Grandes industriais do ramo de petróleo, aço, eletricidade, varejo, cosméticos, bem como gênios das comunicações e outras tecnologias sem as quais alguns de nós nem se quer poderia imaginar a vida sem tais produtos ou serviços.
De certa forma, alguns ricaços do século XX foram “massacrados” pelo simples fato de terem muito dinheiro, já que a maioria do povo não era capaz de entender como a produção e venda em massa de algo, poderia trazer tanto dinheiro em tão pouco espaço de tempo a tão poucos indivíduos.
O ódio aos ricos (ou as riquezas), quase sempre acompanhada de frases bíblicas (desconexas) era a melhor resposta que alguns poderiam dar aquele evento recente, até por que recentemente (século XIV) maioria do povo do planeta ainda vivia da agricultura de subsistência e a revolução industrial ainda ensaiava seus primeiros passos, forçando os países mais desenvolvidos a abolirem a escravidão a fim de que um novo regime pudesse despontar.
Deste modo, alguns ricos (riquezas) eram associados aos demônios, bem como seus representantes.
Acreditava-se que somente o demônio por meio ou pactos diversos com tais entidades poderia fazer fluir tal privilégio.
Até hoje alguns (cristãos) ainda nutrem esse tipo de mentalidade, influenciados por motivações diversas, sendo a falta de perspectiva matemática a maior delas. Por esse motivo, caem em tantos golpes nas igrejas, pois trocam o conhecimento cientifico e matemático por promessas de pastores charlatães, que induzem a aquisição de objetos mistificados com um caminho, um acordo celestial firmado entre o fiel, Deus e a própria fortuna (que a propósito era o nome de uma deusa grega).
Por outro lado, os ricos do passado (e ainda alguns de hoje) eram odiados, pois tinham como lastro de suas riquezas, o aproveitamento da mão de obra barata e falta de leis que regiam as relações de trabalho. Assim construíam com o labor alheio, por isso, o ódio popular de alguns contemporâneos era até compreensível.
De qualquer forma, um legado de utilidades fora deixado e até hoje toda sociedade moderna está montada sob tal estrutura.
O braço forte de uma classe trabalhadora, associado à ganância, ousadia e intelecto de seus mentores, fizeram com que um povo cujo serviço era exclusivamente braçal deixasse de existir para dar lugar a outra, cujos esforços físicos, de espaço ou de tempo, seriam cada vez menores.
Assim foi...
Há mais ou menos 100 anos, alguns destes empresários estavam no auge do próprio sucesso, fama ou fortuna. Outros viviam o próprio ocaso de saúde, da vida ou de seus dias de glória.
Alguns arrependidos amargamente, pois ao tomar para si o tempo de vida útil de outros tendo como principal objetivo (estupido) de ver seus nomes estampados na rota da fama ou de sentar-se sob montanhas de dinheiro vivo, perderam parte de sua própria humanidade no decorrer da caminhada e foram consumidos pelo remorso logo em seus dias finais.
Assim como tudo que tem um começo tem um fim, seus nomes ou memórias, além de constarem em livros, revistas ou faculdades de ciências econômicas, também nomeiam ruas, avenidas, universidades e outros prédios públicos do ocidente e outras partes do mundo.
Em outros casos, seus nomes pessoais viraram a própria marca do produto, fazendo com que os mais jovens por vezes não saibam que a designação de um produto usado hoje é o nome do criador do mesmo.
Deste modo, mesmo há um século de distância, todos os dias nos deparamos com pelo menos um Ford em alguma rua, que consome petróleo ou eletricidade, ao mesmo tempo, em que o usamos o telefone ao dirigir, passando por uma enorme ponte de aço, enquanto contemplamos algumas pessoas embelezada por tantos cosméticos, vendido por alguns comerciantes locais ou internacionais.
Percebeu? Em uma única frase, acabei de descrever (resumir) o que todas as pessoas acima (do primeiro grupo) faziam ou em que situação contribuíram para o atual cenário em que vivemos.
Agora, mudando para o mundo das (sub) celebridades, geradas (ou não) por algoritmos na internet, e ganham tanto dinheiro atualmente quanto ganhavam os grandes industriais do século anterior, me diga os que lhes veem em mente ao ouvir o nome do segundo “lote” inicialmente apresentado.
Conseguem?
Sejam cincerros: duvido que as primeiras palavras ou associações geradas não tenham sido as de cenas envolvendo barracos, agressões, mentiras, fofocas, arrogância, orgias sexuais, gente esnobe, abobalhada, oportunista e metidas em transações duvidosas, que despertam o olhar dos agentes das policiais nacionais e de outros países.
Como tudo o que é vivo é capaz de mudar e evoluir, podemos torcer ou até acreditar em dias melhores quanto ao legado e história de vida destes, mas levando-se em conta suas atuais interações com o meio em que vivem e “fedor de alma” que alguns destes exalam sem vergonha alguma, seria factível deduzir que um verdadeiro “império de m*rda” seria o bem de maior valor que alguns ricos entre as celebridades atuais deixará para a posteridade.
“Os Grandes Industriais da Imbecilidade Coletiva”!
Acho que esta seria a mais perfeita descrição dada por estudiosos deste ou de tempos vindouros sobre a “vida e obra” dos que hoje arrematam milhões dos cofres públicos, de empresas ou de pessoas comuns (empobrecidas), sem nada de útil dar em troca.
Entre as principais “virtudes” ou feitos que levaram (ou mantém) ao (no) pódio os industriais e grandes milionários das redes sociais, podemos citar alguns como: banhar-se de creme achocolatado; tutorial sobre como depilar o próprio orifício rugoso; falar das (ou mostrar as) próprias genitálias centenas ou milhares de vezes em filmes, lives ou assuntos cotidianos, inclusive para menores; reagir a vídeos de pessoas fazendo bobagens; cobrar altos cachês de prefeituras do interior cantando músicas que incentivam ou falam de traições conjugais, consumo de álcool ou ostentação; encher uma casa com gente abilolada ou cujo “dote” seja apenas suas características físicas descomunais, fazendo com que situações em que no passado recente eram exibidas como aberrações por donos de circos, hoje sejam exploradas como virtudes, apesar das humilhações quais os integrantes se sujeitam; levar pessoas à falência, depressão ou suicídio por incentivar em demasia os jogos de azar, sistemas de pirâmides e todo tipo de calote, legalizado ou não.
Que lástima!
Grandes produtores do NADA, exigindo e cobrando TUDO dos que realmente produzem, tirando destes até o último centavo, o pão da boca de seus filhos, para depois, com o acúmulo dos valores obtidos, posarem de heróis num iate qualquer, numa loja de grife ou ao lado de carrões, hotéis de luxo e outros símbolos de ostentação.
Ao serem constrangidos pelas duras falas dos que ainda carregam alguma sanidade dentro e fora da rede, de prontidão os que assim agem, já possuem cartas nas mangas: uma frase bíblica de efeito onde “atesta” que tal fortuna ou estilo de vida é garantido ou prometido por Deus; uma recomendação médica em que se comprove depressão ou outros problemas psiquiátricos; advogados que mais parecem cães de caça, sujeitos a estraçalharem com os bens, fortuna ou moral daqueles que ousem dizer quaisquer coisas que contrariem a "santidade" de seus patrões.
Como nos dias em que anteriores à reforma protestante, faz-se necessário com urgência de pessoas que não se ajoelhe e beije os pés dos “papas das redes”, que não lhes jure fidelidade eterna e que se possível for, faça-se capaz de “traduzir a vida fora das redes” à linguagem de cada grupo explorado.
SOLA SCRIPTURA!
Nesse caso, digo que "só a escritura salva", mas não apenas a dita sagrada, mas toda e qualquer que nos traga de volta à razão e ao desapego de se ter uma legião de fãs abobalhado ou iludidos, prontos a serem usados como pedestal e fonte infinita de poder e riqueza.
Por um futuro melhor...
Num passado remoto, quando o primeiro pedreiro encontrou-se com o primeiro artesão, agricultor, pescador, guerreiro, curandeiro e serviçal aprendiz, desde esse dia, todo o grupo passou a ter um habitat seguro para morar, além de comida, segurança, orientação médico-espiritual e os acólitos podiam vislumbrar um futuro brilhante quando os seus mentores partissem.
Tem sido assim desde sempre: uma pessoa produz uma coisa, outra faz outra e outras tantas mais... cada um ao seu próprio modo, compondo bens ou serviços que permitam que a sociedade se complete e se sustenha.
Antes de partir, cabia ao que fora agraciado com o novo conhecimento, repassar adiante (ou de forma melhorada) tudo o que obtivera dos seus antepassados.
A cultura, a história, a arte, os mitos, as crendices, bem como os avanços tecnológicos ou diplomáticos entre pessoas ou nações... tudo se desenvolvendo simultaneamente pela lei da procura e da oferta, pela sensibilidade coletiva ou pela objetividade dos fatos.
Assim tem sido. Assim há uma lógica mais justa de ser e coexistir.
Com a moderna forma de lucro fácil, meteórico e por vezes desprovido de proposito ou de esforço real apresentado pelas plataformas que remuneram loucamente seus alguns “produtores de conteúdo”, um novo cenário (apocalíptico) se descortina com tamanha rapidez e com tantas ramificações, que às vezes até fica difícil prever seus reais efeitos num “raio” de 365 dias.
A falta de finalidade de quem produz e para quem consome tais conteúdos, pode ser o mais relevante dos fatores, fazendo com que uma massa de aparvalhados se unam em torno assuntos, cujo valor seria tão vital ao consumo humano, quanto o mais fétido esterco já produzido.
Produtores do nada que recebem tudo contra produtores de tudo que recebem quase nada (produtores rurais e pescadores, por exemplo).
Um colapso nas estruturas sociais podem surgir à qualquer instante quando a maioria se der conta de que estão apenas servindo de banquetas para outros sentarem ou de andaimes para a construção de ideais nefastos.
… CONTINUA...
Texto escrito em 21/9/24.
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.