Ciência e Fé, nos trilhos de Galileu Galilei
Ora, é fato sabido que um dos visionários e revolucionários no campo da razão, e que literalmente iluminou a humanidade com o seu conhecimento, foi o matemático e astrônomo italiano Galileu Galilei .
Nos trilhos da Renascença Italiana, onde o homem foi colocado no centro de “tudo”, daí certamente advém o termo “humanismo”, tão em voga atualmente, quando nos referimos a questões sociais por exemplo. O Renascimento que floresceu nas cidades livres italianas, ensejou rememorar o passado Clássico do Mundo Greco-Romano. Contudo esse “renascimento” Clássico tinha um notório viés moderno para aquele tempo, principalmente do ponto de vista da forma de pensar e da transformação tecnológica posta em curso.
Uma vez o homem colocado na centralidade do Cosmo, não havia mais espaço para a “Terra” nesse sistema específico, o geocentrismo ia sendo gradativamente abandonado, tanto do ponto de vista prático como de pensamento. Ao seu lugar o “heliocentrismo” e o “antropocentrismo” iam dando a nota. Figura notória desse tempo é a representação do “homem vitruviano”, uma genial adaptação do polímata italiano Leonardo da Vinci . Passando uma nítida mensagem que o profano tinha uma importância e significância para o Mundo (na representação artística), uma vez que até então todas as obras artísticas, por exemplo, apenas exortavam o sagrado.
E num Mundo praticamente dominado pelo sagrado, o profano era por vezes sufocado e sem saída. A dogmatização era premente, dominava as mentes das pessoas e às cegavam quanto aos seus julgamentos, atrofiando a razão e a capacidade de ver o mundo num olhar diferente. Claro que é imperioso destacar que na pessoa da Igreja Católica, houve a conservação do saber, no âmbito dos mosteiros inicialmente e após com a criação das primeiras Universidades do Ocidente, vide Bolonha na Itália em 1.088 d.C. O aspecto religioso, a fé no Deus “UNO”, dominava as ações da Sociedade. Galileu neste ponto não rompeu totalmente com os dogmas Cristãos personificados na “Sagrada Escritura” e no pensamento filosófico patrístico e escolástico. Ele próprio era temente a Deus e imbuído de um sentimento religioso.
Contudo conforme suas próprias colocações em carta endereçada à D. Benedetto Castelli :
“(...) a Sagrada Escritura não pode nunca mentir ou errar, mas serem os seus decretos de absoluta e inviolável verdade. Só seria acrescentando que, se bem a Escritura não pode errar, não menos poderia às vezes errar algum dos seus intérpretes e expositores, de vários modos (...).”
Então o falseamento, o erro mesmo que involuntário, na visão de Galileu reside justamente na interpretação “humana” das Escrituras Sagradas.
Então as Escrituras Sagradas segundo bem aventa Galileu são dotadas do sacrossanto viés objetivo de salvar as almas das pessoas e guiá-las ao mundo metafísico da bondade e deleite, o paraíso celestial. Elas são inócuas e deveras desnecessárias quando de trata de fornecer explicação quanto a fenômenos terrenos deste Mundo.
E, portanto no âmbito do teor da mesma carta Galileu assevera:
“Eu acreditaria que a autoridade das Sagradas Letras tivesse tido em mira apenas persuadir os homens daqueles artigos e proposições, que, sendo necessários para a salvação deles e superando todo o discurso humano, não podiam tornar-se críveis nem por outra ciência nem por outro meio, senão pela boca do próprio Espírito Santo.”
Para Galileu a racionalidade humana é um dom verdadeiramente DIVINO. Ela serve para questionarmos o mundo e os fenômenos naturais que nos assombram.
Contudo, cumpre aventar o seguinte aspecto elucidativo. Qual o motivo de Galileu, uma mente brilhante, fértil e portentosa falhou, afinal?
E a resposta! Apesar de haverem inúmeras e instigantes respostas para tal. É de um ponto de vista prático e direto, respondida sob o seguinte prisma.
Toda a retórica de Galileu Galilei no fundo de nada serviu, foi totalmente em vão. Haja vista que a própria característica da argumentação calcada na retórica, no frasear belo e racional, com vistas a corroborar uma tese, colocada sob a égide hipotética e em vias de “comprovação”, apenas convence o indivíduo que deseja crer. Ao passo que irrita profundamente o indivíduo incrédulo per se. Atualmente soa poético e sedutor todo o esforço e genialidade de Galileu, pois a sua teoria foi comprovada e posta a prova com sucesso, afinal grosseiramente falando, a terra é um planeta na órbita solar. E o sol, o nosso astro rei, é apenas uma estrela periférica da Via Láctea, que é uma entre bilhões de galáxias do Cosmo. Portanto de uma insignificância totalmente desprovida de sentido, quando trata-se do macro.
Porém, e há sempre um, porém nessa fatídica história. Na Roma e na Florença daquele tempo, precisamente em meados dos séculos XVI e XVII, tanto autoridades quanto o senso comum pesavam mortalmente ao oposto na balança, com relação à tese galileana. Para ambos a Terra era especial, o centro do Universo, a obra prima de Deus, e havia pouco tempo deixado de ser “plana”, para assumir o formato de esfera ou mais precisamente geoide (bola irregular). E, portanto a própria teoria de Galileu certamente soou como algo estranho e sem sentido, justamente porque contrariava veementemente os sentidos básicos humanos. Algo que irritantemente deveria ser refutado, banido, e foi o que ocorreu.
O calcanhar de Aquiles de Galileu foi justamente à demonstrabilidade prática das suas “experiências sensíveis” em favor da teoria heliocêntrica.