Tecnologias da Informática e a Cultura Humana
A cultura, ou seja, o conjunto de expressões e manifestações do povo, na qual basicamente e sumariamente compreende desde costumes, indumentárias, idioma, artes diversas, arquitetura, os saberes acumulados ao longo de intermináveis gerações, crenças religiosas e suas manifestações, enfim tudo o que concerne ao Ser Humano na sua caminhada no planeta Terra. O próprio termo “cultura” remonta ao nobre ato de cultivar, coadunado diretamente com o cultivo da terra pelo agricultor numa tarefa hercúlea e relevante para a sobrevivência das pessoas. É uma necessidade primaz.
A evolução da sociedade desde tempos remotos, já sepultados pelas areias do tempo, obedece a um padrão logicista, que consiste basicamente numa marcha para conceitos abstratos do conhecimento, e substratos para a sobrevivência humana. Constitui-se numa luta sagaz e até ingrata por dominar e entender o Mundo, o Cosmo e tudo que nos cerca. Criamos a filosofia, a ciência e a arte na sua sublime expressão. Numa busca vã, até sem sentido, no nobre ato de dar sentido a uma existência per se “vazia” e insignificante ante a vastidão de tudo o que se apresenta ao simples “piscar de olhos” e “palpável” na palma da mão.
O tempo, como um agente funerário, sepulta tudo, e deixa jazendo nas areias da existência o passado, seja ele pífio ou glorioso, de nada importa esta condição. São exemplificações concretas, às cidades-estado magníficas da Civilização Sumeriana de: Lagash, Ur, Uruk, Eridu, apenas para citarmos as principais, pioneiras da aurora civilizacional. Ambas inexoravelmente ricas em cultura, economia e inovação, após atingirem os seus zênites, amargaram o fatal esquecimento e aos escombros prostraram-se abaixo de uma espessa camada de areia no Oriente Médio.
Então a marcha da civilização segue seu passo, por vezes avança vorazmente, já em outras estagna, além de retrocedes abruptamente. Enfim! São nuances fatídicas que nossa Sociedade está exposta.
Contudo prioritariamente no século XX, uma Sociedade já experimentada pelos efeitos da Revolução Industrial, mergulhou no “mundo da informação”, do processamento eletrônico de dados em informações consumíveis de forma instantânea. E esta instantaneidade em que estamos envoltos atualmente molda nosso modo de vida, ou seja, impacta na cultura e legado da nossa civilização para o futuro.
Cumpre, portanto destacar que a atenção da Sociedade contemporânea tem o seu direcionamento para uma nova matéria-prima, que parecem em via de exaurirem-se, aumenta a cada instante em franco excesso. É a informação!
O italiano Domênico de Masi expõe a respeito das técnicas digitais e a informação no tempo atual na sua representação.
“[...] a convergência os modos pelos quais as atuais técnicas digitais são ao mesmo tempo e igualmente bem utilizáveis para a fala, o som, o texto escrito, o dado, as representações gráficas e figurativas; para transmitir, elaborar, arquivar e encontrar informações. Essa tendência à unicidade da técnica manifesta-se também no sentido de unificar alguns serviços tecnologicamente distintos entre si, mas cujo conteúdo essencial é representado pela informação.” (DE MASI, 2023, p. 221).
A convergência tanto de saberes como até de práticas culturais, em que a Tecnologia da Informação, por assim dizer vem proporcionando e proporcionará para a Sociedade, está intimamente arraigada a fatores legais e sociais. Eles justos e separados podem indubitavelmente tanto favorecer quanto dificultar e muito o processo em curso. Claro que não se podem sacrificar valores morais e éticos em favor de “progressos” nem sempre justificáveis por exemplo. Mas igualmente não se deve censurar ou restringir liberdades sociais (coletivas ou individuais), com fins a retroagir a marcha tecnológica. A liberdade é o bem maior que deve ser sempre considerado.
Contudo é apropriado destacar com certa vênia que o excesso de informação não necessariamente exponencia o conhecimento e sabedoria do indivíduo. Nessa linha de pensamento De Masi diz: ”A disponibilidade de informações, ao ponto mesmo de superar a capacidade de fruição do indivíduo singular (...)” (DE MASI, 2003, p. 222).
Atualmente temos a franca possibilidade de dispor de acessos às informações instantâneas e em gigantescas quantidades. A evolução do software e do hardware, dos equipamentos de telecomunicações, possibilitou isso à humanidade. A produção de dados é assombrosa e ultrapassa a mar inimaginável de yottabytes (uma unidade de medida da área da informática, equivale a 10 elevado a 24 bytes), a cada espaço de tempo. São sensores, bancos de dados, enfim hardwares com softwares embarcados que colhem dados das pessoas, do mundo e do universo a todo o instante. Fato exposto, que a produção de dados e a sua própria conversão em informação “palpável”, superam em muito a capacidade humana de cognoscê-los. Talvez e há um ponto importante neste aspecto a ser tocado, que a Inteligência Artificial, coadunada com aplicações de Big Data por exemplo, deem conta disso.
Contudo, no tocante a capacidade “nua e crua” da abstração humana em absorver informações, intuindo processá-las e assim “produzir” conhecimento, é limitada.
As Tecnologias da Informação e da Comunicação, comumente conhecidas como TICs, possibilitarem numa escala jamais vista na história humana, interconectar as pessoas. As comunicações por satélite, rede sem fio, fibra ótica, apenas para nos atermos às principais, conectaram o mundo todo, as pessoas nas suas maiores variedades de gênero, raça e cultura. Chegando ao ponto de prefigurar verdadeiras comunidades virtuais separadas fisicamente com quilômetros de distância e que seriam praticamente alheias em outros tempos. E isso tem um impacto prático sensível e significativo na Sociedade.
O que nos leva inadvertidamente a questionar. Todo esse fluxo e avalanche de informação? Como é sentido e digerido pelas pessoas?
Novamente é salutar e oportuno recorrer às asseverações de De Masi a respeito do assunto.
“O tema da integridade da informação exige, porém, algumas outras considerações. É evidente que quem conhece bem um determinado tema tende a acolher com desconfiança explicações que dele são dadas pelos meios de comunicação de massa, ao passo que aceita com mais confiança as notícias referentes a temas sobre os quais tem informações apenas superficiais.” (DE MASI, 2003, p. 222).
Fenomenologicamente caímos novamente numa máxima que sempre acompanha o passo da Sociedade através dos tempos. A premente necessidade do conhecimento para lograr vantagem ante o ambiente, outrora inóspito e o excesso brutal de informação doravante instaurado no seio social. É notório que a grande produção de dados e o seu convertimento em informação, já supera a capacidade humana de assimilação. E portanto, permanece petrificada a problemática: a informação disponível deve possibilitar a identificação da sua fonte, um aspecto sapiente que metodologicamente possa identificar como os dados foram recolhidos e processados. E por final, o grau de significância que esses dados foram considerados e às sínteses informacionais que deles foram feitas. E isso inexoravelmente vale para todas as mídias de comunicação!