Breve ensaio sobre o homem
Sou metade de Deus, metade do diabo
Metade manso, metade brabo
Sou branco sou escuro
Sou único e tantos outros
Sou essencialmente um animal consciente que elabora pensamentos e se alegra tão facilmente
Que não esquece o riso quase esquecido na mente adulta que ignora a beleza no vôo do beija flor, e tapa os ouvidos quando o sabiá canta. Um ser único nesse universo de tantas outras existências, de tantas outras efervescências, que não para no passo seguinte.
Fazer o caminho, caminhando, é isso que consiste nossa caminhada, nunca na mente o desejo insano de querer ser superior, isso interessa aos tiranos! Homens fracos, homens beócios, vulgares na mais tênue e elementar aparição.
Sinto uma dor profunda quando penso na possibilidade do mal triunfar e, com sua mão pesada, levar gerações inteiras ao colapso cognitivo. Será o fim do humano como possibilidade e conquista da essência humana que é viver em comunidade para a realização coletiva? Será a inquietante e quase triste certeza, nossa jornada guardada num fragmento de meteoro ainda escondido no descanso oculto de um laboratório qualquer?
Que resposta será possível, que satisfaça a pergunta sem, para um desgosto iminente, não reproduzir as mesmas ideias - já mofadas pela ação do tempo -, tão conhecidas de épocas tristes da nossa história?
Nisso reside, como um casulo prestes a explodir em borboleta, a feliz sensação de estar à disposição da vida. Esta, nessa nova apresentação da vida como resultado imediato que só o humano tem consciência de sua existência, isto é, somente o homem detém o monopólio comunicacional das palavras, somente ele tem legitimidade de falar. É nesse presente de Deus, diria o fiel inconteste da essência de Deus, que nós somos o resultado da criação divina. Porém, digo eu em coro com outros tantos, que é do homem a possibilidade da criação. Tanto me parece que assim é, que nossos tesouros, ou seja, tudo àquilo que somente nós sabemos de nós mesmos, que nada escapa às nossas mais íntimas questões. Somos, por assim dizer, nosso algoz e salvador, o guardião e o ladrão de nosso próprio patrimônio, a lebre e o lobo.
Não sabemos, nunca saberemos, com quantas filosofias se faz o saber filosófico. Assim é, considerada a dificuldade de se conhecer tudo e todos em sua essência, que essa impossibilidade me leva a pensar no Tesouro Difícil de Alcançar como medida de nossas limitações.
Todavia, somos humanos, demasiado humanos, isso basta para sabermos que se somente nós somos agraciados com a possibilidade da Consciência, também, e nisso reside, penso, a maior parte de nossas indiscretas e limitadas respostas, também devemos reconhecer que nossos passos nos levam a caminhos que não sabemos se reconhecemos, afinal, somos humanos, demasiado humanos, sujeitos às surpresas e dores de um parto somente nosso.