PÓS-SUICIDA

Silencio, feche as luzes

E tudo pode acontecer

Silencio fecho os olhos

Vejo cemitérios e cruzes

Vejo o nada que me aguarda

Aguada de lágrimas

Já nem olho pra trás

Sumiram as estradas

As vozes, os choros

Vejo caminhos estranhos

Não sei onde estou

Não me agride

Porque nunca sei onde estive...

Vejo um túnel a minha frente

Nem sei se é um túnel de ofício

Talvez uma estrada uma entrada

Uma estadia pro meu suicídio

Sigo e vejo moscas e percevejos

Em cima de meu cadáver

Tecido fibrosado carangueijos

Já se foi Game over...

Já não sigo nada

Vejo seres famintos

Já não sinto meu corpo

Acho que me suicidei

Não me lembro mais porque eu fiz?

Não há um motivo aparente

Não há uma linha de arrependimento

Nem um fio de... "Não vá em frente"..

Sei sim que sempre quis parte desta insanidade

Agora casou o terno com a abotoadura

Fiquei sem saber anos a fio quem eu era

O que fiz pra me sentir tão vazio

Nada me preenchia mais que a sutura da vacuidade

Não me recordo de ser infeliz

Vi tantas pessoas vivas

E mortas antes de as descrever

E tantas a beira da morte

Querendo mais a minha vida

Do que aquelas que não a tinham pra viver...

Enfim! Nada fui e nada serei

Dinheiro são como nuvens

Passam viajam e nunca é de ninguém...

Não há nada que passe mais depressa

Do que a vida e as pessoas querem

Mais consumir e mais consumir

Quando na verdade elas é que estão

Sendo consumidas consumadas a sumir

A vida só começa depois de cuspido e parido

Porque é uma promessa não cumprida

Veio de um gozo atemporal assunção de dívida

E termina como se nunca tivesse existido...

A vida é tudo que não passa de nada

A vida não vale nada

A vida é tudo moribundo

A vida passa e depois de um milésimo de segundo

É vida passada...Sumimos do mundo

Um empréstimo compulsório

Devolvemos a ela o que dela consumimos!

A balança do que fomos

Está no caixão emoldurado agora somos ancestrais

Pelo menos faremos a festa

No destino final dos seres intestinais

Para o banquete dos vermes terminais

Não há mais tempo pra desperdício

Vão se os corpos embalados

Somem-se os somados vícios

Os seres silenciam-se consumados

Que apagarão a lousa do que fomos fezes

E mesmo assim ainda viveremos dentro deles...

Dentro da memória ou da escória

Nesta vida a morte é nota promissória...

Aqui jaz esta criatura

Pouco importa quem foi

De nada mais vale sua assinatura...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 19/08/2024
Código do texto: T8131993
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