O homem
O que é o homem?
Será o homem aquele ser que sobressai diante dos demais seres vivos a ponto de vê-los como seus inferiores?
É o homem o sujeito (e só é sujeito quem tem essa consciência), que ciente dessa condição, como nada mais houvesse diante e além dele, pudesse dizer e desdizer o que deve permanecer e o que deve ser esquecido? É esse homem que se define o protótipo do gênero Homo Sapiens detentor de uma capacidade cognitiva que o coloca no ápice da escala evolutiva? E por isso descarta o resto como se nada que não se encaixa nessa descrição, como um roupa que o alfaiate faz sob medida, e só serve àquele corpo, não pode ser incluída no gênero em questão?
Então, o que é o homem?
Será homem aquele que corresponde às normas instituídas, às normas e prescrições que classificam esse ou aquele ato ou modo de ser, que corresponde e atende às expectativas ditadas pela sociedade? Se assim é, será, então, a sociedade, esse amalgamado conjunto de seres que compartilham de um sentimento e comportamento comuns? Então, acaso ocorra algo em desacordo com o que se espera de uma convivência em sociedade, reforçando, isto é, segundo os critérios e normas ditadas por esse abstrato substantivo, então, o oposto será uma anomalia?
Mas será anomalia tudo o que não corresponde aos ditames sociais? Se assim se entende, então, se uma sociedade determinar como regra de convivência algo que coloca em risco cada indivíduo, será essa regra dotada de tamanha força que opor-se a ela será crime/sintoma anômalo?
Ah, que triste essa condição! Não nos parece saudável, e nem desejável, que uma sociedade se desenvolva doente e assim permaneça. Porque, dirão os homens messiânicos, homens cuja existência se define, porque eles assim se definem, essa sociedade está doente porque não compartilha da benção divina. Mas, dirão outros homens que disputam o mesmo rebanho, a benção divina só atinge quem a ela recorre, não é lícito, nem lúcido, desejar, ou impor, aos outros vontades, ou situações que não desejam. Isso é tão assustador quanto exigir que um cego veja somente porque eu quero que assim seja!
Então, o que é o Homem?
É o homem o sujeito capaz de se opor às normas, mesmo oriundas do desejo da sociedade, conforme seus princípios e juízo, posto que, pode a sociedade errar, em nome dela mesma, e por isso, esse homem transita por outra via? Nesse sentido, será esse homem um criminoso? Criminoso aqui na acepção latu senso de que tudo será crime por estar em desacordo com a sociedade. Mas se assim é, então se numa determinada sociedade, doente por seus vícios e desajustes, o sujeito que dela não compartilha dos seus preceitos, estará agindo em desacordo e será condenado?
O homem como um espelho de si mesmo fica opaco se não dirige o olhar para o derredor. Vive, se assim prefere, como se nada existisse nada além do espelho e, com isso, se distancia de si e se entrega às crenças e preceitos contrários a sua própria natureza. O homem é antes de tudo um ser capaz e capacitado de se aventurar e descobrir outras existências e compartilhar o mesmo espaço. Isso é o homem. Um ser em constante avanço, com percalços e conquistas. Somos humanos, demasiado, humanos.