O VELHO DO PORRETE

Aos servos de um pesadelo coletivo

A construção de uma sociedade adoecida tendo como lastro a personalidade dúbia dos deuses venerados ou de seus representantes aloprados!

*Por Antônio F. Bispo

Nos altos céus, sentado no seu trono de ouro, cercado por querubins, serafins, arcanjos e outras hostes celestiais, está o Todo Poderoso, criador dos céus e da Terra.

Ele está sempre aborrecido e nada O satisfaz!

Suas sentenças são sempre arbitrárias.

Seu coração é levedado por bajulações baratas e hipocrisias de pessoas que se acham caras.

O seu temperamento é explosivo, sua animosidade é duvidosa.

O seu furor é semelhante ao de centenas de bestas indomáveis e os seus olhos ardem como chama de fogo, procurando falhas humanas, a fim de que possam punir aos que suas santas leis infringirem.

Ele é o Deus Cristão, cujos traços de personalidade confunde-se na maioria das vezes com os de seu próprio opositor (o diabo), tornando-se em certos casos quase que impossível distinguir quem é o destruidor ou modelador do caráter, da moral e da civilidade entre os homens, principalmente entre os que dizem ser seus receptáculos entre os mortais.

A cristandade atual O faz parecer como “Um Pequeno Eu Sou” ao invés de “Um Grande Eu Fui”, como o seu passado bíblico antes demonstrava ser, ao abrir mares, fazer descer fogo dos céus, controlar o clima, as estações ou corações de reis poderosos à sua vontade.

Atualmente suas funções primordiais foram limitadas e direcionada às demandas locais de cada igreja.

Mentes primitivas o fizeram surgir pela primeira vez milhares de anos atrás.

Pessoas limitadas por seus vilarejos, cavernas ou vales onde viviam, tendo que lidar com infestações de pragas ou de parasitas invisíveis, caçando para comer ou sendo comido por animais ferozes, tentando acima de tudo entender o próprio habitat, o clima, a época certa do plantio e das colheitas, os movimentos dos astros e outros fenômenos naturais.

A invenção de Deus surge então como uma ideia razoável para suprir a falta de racionalidade momentânea, quando ainda não havia em nossa linguagem, substantivos, adjetivos e verbos suficientes, capazes de nomear as coisas, bem como descrever suas ações e reações no espaço, no tempo e nos elementos que com estes interagem.

Deus era a resposta para tudo, nas ocasiões em que o vocabulário era curto e a percepção de mundo ainda menor. Nem sempre era por preguiça de pensar.

Ele (o Deus cristão) já foi chamado de assembleia quando sugeriu (em grupo) produzir criaturas em série segundo a sua própria imagem e semelhança.

Depois virou uma trindade quando foi “capturado” por vedas, egípcios, nórdicos e outros povos mesoamericanos.

Atualmente tem o seu trono no ocidente e divide sua atenção entre católicos e evangélicos, cedendo um pouco do seu tempo também a espíritas, umbandistas, kardecistas e outros grupos menores, quando estes outros o permitem. Apenas um pernoite rápido quando querem parecer bons cidadãos diante da mídia.

Alguns entre os fiéis O veneram como sendo O Único e Verdadeiro, apesar de dividi-lo em dezenas fragmentos redundantes, deificados, humanos ou não, cujos méritos de virtudes podem variar entre fazer uma estátua de gesso minar águas curativas vindas de um esgoto sujo acima do altar ou encher de esperma a boca de algumas néscias (mas nem tanto...), com promessas de curas por meio da felação ungida com o pastor local.

Beatificação de amuletos e bestas em forma humana, dirigentes de um povo igualmente seduzido pela ganância, pelo desespero e pelas falsas promessas de charlatões qualificados, também complementam as funções primordiais desse Deus contemporâneo.

Na sanha de representar nossas próprias podridões e desejo de oprimir e lucrar por procuração, nada se compara ao modelo de Deus dos neopentecostais, adotado por maioria, usado para interpor-se em suas relações pessoais, extorquir dinheiro de trouxas, ou fazer esquivar-se de suas obrigações civis os infratores que em seu nome se escondem.

O enredo em torno desse ser chamado Deus é superior a uma tragédia grega. Um porrete gigantesco brandir em suas mãos todos os dias, ameaçando os menos favorecidos e abusados pelos gigantescos “bingos da fé”. Ele sempre esteve ao lado dos que possuem a chave do cárcere e com eles come, bebe, dorme e deixa-se usar em troca vãs repetições de elogios banais.

Ocasionalmente o lado cômico do seu ser destaca, quando comparamos o seu poder bíblico do passado com suas funções inúteis do presente.

Um Deus que fazia tremer reinos e destituía poderosos do seu trono com apenas uma palavra, foi reduzido a rótulos de camisetas ou placas de igrejas, cujo função reside apenas em fazer do seu próprio nome uma marca rentável aos vendilhões de lorotas.

Na boca de políticos corruptos ele tornou-se uma alcunha. Rótulos de campanhas que mais soam como apitos de cachorro entre os de mesma frequência auditiva.

Nos lábios dos magnatas da fé, Ele serve apenas de objeto decorativo. Um lustre gigante que atrai mariposas e outras criaturas menores para uma luz fraca, porém aconchegante. Tais "insetos", cujo tempo de vida é curto demais para perceber que aquela luminária acesa será o seu próprio cárcere e habitat momentâneo.

Seu nome também pode ser encontrado em letras garrafais no cassetete da polícia que serve ao estado, quanto na arma do bandido que o enfrenta ou traz desabares à população. Deus serve a ambos e está tudo bem assim.

Nos perfis de redes sociais de algumas PAWGs, quase sempre Ele é citado em versículos bíblicos encorajadores como se quisessem agregar valor à “mercadoria” ali exposta!

Uma bela moça de costas com seu pandeiro gigante e uma legenda ao lado da foto com dizeres que exaltam o nome de Deus ou as próprias “qualidades” da pessoa em questão... Perfeito, não é?

Me faz lembrar Miriam, a irmã de mais velha de Moisés, comemorando a derrocada dos egípcios no mar vermelhos. Ooops...! Só acho que o pandeiro tocado naquela ocasião de gozo, era de outro tipo! Mas tudo vale quando o objetivo é louvar ao seu nome, não é mesmo?

Que pena! Tanto poder, tanta fúria, tanta fama...Bem diziam que as mãos que abençoam são as mesmas que apedrejam e a boca que o enaltece também é a que O reduz a frangalhos quando no devaneio da loucura, extrapolam-se até os limites do absurdo.

Um rizo medíocre se forma no canto da boca dos que se dizem escolhidos, baseados na certeza de uma falsa promessa de prosperidade material e vida eterna ao lado do Pai.

O que ri da piada não percebe que ele próprio é o motivo do rizo, pois sentando em bancos duros de madeira ou em assentos acolchoados, só depois de muito tempo é que eles saberão da ilusão da servidão em que viveram. Chorarão angustiados ao notar que nunca foram servos de Deus algum, que quando não estavam sendo despojados pelos donos das igrejas, eram cativos dos seus próprios interesses.

Uma vida inteira jogada fora, achando fazer parte de uma causa maior, quando de fato era apenas utensílios de poder, estrado dos pés da “nobreza podre” entre os exploradores da fé.

Os que ainda imerso estão nesse delírio, acham que vivem em um conto de fadas e aguardam o dia em que um belo príncipe montando em um cavalo branco, seguido por suas hostes celestiais virá em glória arrebatar a sua noiva (igreja) e reinar para sempre onde viverão numa eternal suruba celestial, cujo noivo será disputado por freiras virgens de todos os tempos, bem como por monges, celibatários, ermitões das cavernas, puritanos do oeste americano, e cristãos de todas as épocas, de todas as ordens monásticas e de cavalaria já existentes.

Católicos ortodoxos, romanos e siríacos e protestantes derivados destas desde o século XV até os dias atuais... Cada um exigindo para si a promessa da conjunção eterna com o seu amado. Cada uma delas alegando sua própria “pureza virginal” e virtudes em detrimento da “falha” das “heresias” das outras...

Vai ser um auê daqueles!

Quanta babaquice!

Sapiens do passado, apesar de primitivos, já foram capazes de pintar deuses com funcionalidades mais aprazíveis, apesar de sua “pouca inteligência”.

Havia deuses que regiam o sol, a lua, o clima, as colheitas, o matrimônio, o nascimento, a morte, as finanças, etc. Estes tinham lá suas funcionalidades.

Nossos contemporâneos, porém, principalmente os do segmento evangélico, tem-No transformado num ser patético, abobalhado, cuja serventia é reduzida a monitorar o c# dos gays, eleger políticos corruptos ou obsidiar nossos desafetos.

Um subproduto do esgoto das multinacionais da fé, que faz despertar nos homens aquilo que de mais vil há entre eles: a inveja, a ganância, a soberba, a trapaça, a maledicência e o apaziguar de rinhas entre eles mesmos, quando o intuito é não macular a imagem de determinado “ungido”.

Os de pouco juízo dizem: “Quem poderia entender os seus mistérios”?; “Quem poderá se esconder de sua ira e de seu furor”?

Citações assim, por si só, fazem parecer que alguém inteligente evocou uma frase filosófica, cujas diretrizes sejam irrefutáveis.

Mas são apenas palavras jogadas ao vento, ditas por pessoas que não querem atrair para si a ira coletiva dos seus conterrâneos. Gente que procura não “sofrer blecautes generalizados” em suas relações comerciais, políticas e/ou pessoais, por conta de uma fala que parece não ter impacto algum, mas que de fato é capaz de paralisar todo o pensamento humano, reduzindo-o de a um servo abobalhado, pronto a beijar os pés de qualquer um que empunhe alguma bandeira com símbolos ou dizeres sagrados, cujo exemplo de vida é totalmente oposto aos próprios ideais aclamadas.

Em situações tenebrosas assim, em que ficamos cercados por “chacais de pensamentos” e “abutres da gnose” ou carrascos de autoestima, basta lembrarmo-nos de que a onisciência de Deus é limitada por sua própria impotência ou má vontade.

Vale lembrar que o “tamanho de Deus” será sempre equivalente à bondade, maldade, carisma, afeto ou integridade de quem o representa e que quanto mais cheia de Deus, ungida ou guiada uma pessoa alega ser, mais podre e medonho se revelará suas ações e caráter.

Deixar-se intimidar-se pelos tais é abdicar de sua própria existência em nome de uma concordância burra, que conduz todos a um só abismo: A DO DUPLIPENSAR! Do ser e não ser simultaneamente. Do usar Deus ao seu bel prazer, como arma de opressão desposo, ao mesmo tempo em que alega por ele estar sendo usado como sua vara de justiça.

Se o umbral existe, acho que seus residentes estão todos em manicômios. Gente que passou a vida inteira vivendo essa dupla personalidade e depois acabou perdido do outro lado.

Bom abrir os olhos ainda em vida, pois quem bebe muito da fonte da santidade, sem sombra de dúvida alguma arrotará arrogância, cinismo e falsidade.

A corrupção sempre mora ao lado dos que pretendem atingir os desígnios inatingíveis de Deus e agradá-Lo de forma integral. Este não medirá esforços para corromper ao seu favor, àquele qual dizem ser incorruptível e usá-lo como arma da perdição alheia ou de sua própria. A loucura é a paga dos que se dedicam a agradá-Lo por completo.

O único modo de silenciar a servidão coletiva em torno de uma ideia medíocre de divindade é perguntando: COMO, QUANDO, ONDE, POR QUE, e acima de tudo: ISSO É REALMENTE NECESSÁRIO?

Se a dúvida persistir, faça um breve estudo sobre OS ATRIBUTOS DE DEUS segundo a versão cristã.

São inúmeros, mas se você apenas entender o que significa palavras como autossuficiência e auto existência, acredito que suas finanças não mais serão surrupiadas pelos larápios da fé e tampouco o seu tempo será desperdiçado em cultos e louvores intermináveis para que Deus “não se enfraqueça”.

São milhares de anos em torno de uma ideia doentia e não será um texto de 3 laudas em papel A4 como este que recobrará sua total sanidade, mas pode ser pelo menos o pontapé inicial.

Se cada um pode inventar uma função para os deuses, aproveite e programe-o para que “Ele” abra sua mente e O faça evoluir como pessoa. Caso ele seja real, o recobrar de sua santidade, não diminuirá em nada a santidade Dele, não é mesmo?

Tenham bons sonhos!

Revejam Seus Conceitos!

Texto escrito em 21/7/24.

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 21/07/2024
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