Sobre cachorros e gatos
Há pelo menos dois modos recorrentes de se viver a vida: sendo como os cachorros ou como os gatos. E não, não se trata de uma fábula do mundo animal.
Os cachorros são animais geralmente dóceis, receptivos, encantados por seus donos, os festejam não importa que hora cheguem, aguardam sua chegada, sentem sua ausência, sofrem, choram, são protetores e estão sempre à disposição.
Os gatos são animais usualmente mais ariscos, não gostam de muito agarro, só se aproximam se e quando quiserem, são independentes, saem para a rua e voltam quando bem entendem. Cobram ração aos seus donos e não estão disponíveis.
Na maior parte da minha vida me comportei como os cachorros nos relacionamentos e pouco recebi de volta, em reciprocidade, o que ofertei. Meu tempo, minha dedicação, minha proteção, meu afeto, jamais foram valorizados como mereciam.
Demorei a aprender, que para sobreviver à insensibilidade, egoísmo e narcisismo alheio, preciso ser como os gatos. Distante, frio e indisponível. Valorizar a mim mesmo e viver para os meus propósitos. Cada um que siga seu destino, não estou aqui para salvar a vida de ninguém. Cada um com suas escolhas. Só merece o meu melhor, quem é capaz de me dar o seu melhor sem que eu precise pedir por isso.
A terapia me fez entender o quanto de tempo, esforço e dinheiro preciosos perdi com pessoas que não valiam nem cinco minutos do meu dia. O quanto de amor entreguei a quem era vazio por dentro. O quanto de felicidade tentei proporcionar a quem só me fez sentir tristeza. Pessoas das quais nunca precisei de verdade e ainda assim escolhi ficar por elas. Hoje, entendo que as únicas pessoas que valem a pena ter na vida são aquelas que não precisam absolutamente de nada que eu possa oferecer e mesmo assim desejam estar comigo, por mim, não por outros interesses.
Hoje eu sou um gato e isso me dá uma sensação de paz, liberdade e autoestima incríveis. Livrar-se das toxidades e aprisionamentos emocionais transforma vidas, pessoas e destinos. Amor só é amor entre pessoas que sabem dar e receber. Quem só dá ou só recebe, está muito adoecido e precisa, de fato, de terapia para redefinir seu rumo na vida. Queria eu ter começado a terapia bem antes, teria me evitado muitas arapucas!