POSSO ESTAR ENGANADO
POSSO ESTAR ENGANADO
Posso estar enganado,mas não vejo hoje lugares iguais aos que havia em outros tempos. Atualmente as coisas parecem estar amortecidas, letárgicas mesmo, e a grande atividade noturna resume-se a passear em shoppings e beber nos bares da moda. Nos chamados “points”, uma enorme legião de pessoas lota o espaço interno e se espalha pelas imediações do bar, ocupando ruas e passeios. Em pequenos grupos, as pessoas fazem cara de intelectual e discutem diversos assuntos. Normalmente mal vestidas, com cabelos em desalinho e barba por fazer, parece uma competição de quem está com a pior imagem. Ficam ali por horas a fio, com um indefectível copo na mão (normalmente de cerveja), pois sem isso parece estar fora de contexto. Na outra mão, um cigarro aceso, olhos atentos no parceiro que está falando, como se ouvisse as palavras mais sábias. E essa cena se prolonga noite adentro até alta madrugada. Considero ótimo as pessoas se reunirem, uma vez que o hábito de leitura, assistir bons filmes e peças de teatro ficaram restritos a uma minoria. Não sei como essas maratonas etílicas terminam. Tenho a impressão que o importante é ficar “mastigando” um copo de bebidas o maior tempo possível e ficar com ele na mão. Poucos freqüentadores ficam bêbados, a maioria vai ao caixa e paga uma importância pequena. Como gosto de um bom bate papo com amigos, tenho curiosidade em saber quais assuntos são mais abordados. Interessado em captar o que tanto as pessoas conversam nessas ocasiões, várias vezes cometi a maldade de me infiltrar, ficar ali no meio da galera com um copo na mão, cara de paisagem olhando para o nada, mas os ouvidos atentos. É um exercício interessante. Normalmente são observações diretas. Se a pessoa veste roupa listrada o amigo pergunta por que veio de pijama, se for listra horizontal veio de cor sim e cor não, se for roupa cor de rosa fazem ironia com a sexualidade. Quando faz tempo que não se encontram, os cumprimentos são muito efusivos, se estão com amigos novos são feitas as apresentações tipo ”Este é Fernandão, delegado da Federal” ou “Paulinho que joga no Santos”. Muitas vezes a apresentação serve de gancho para um início de conversa. Quase sempre um dos participantes fala muito mais que os demais, esses grupos são de minha preferência. Muito discretamente me aproximo e ouço a conversa. Na imensa maioria das vezes o assunto é de uma banalidade constrangedora. Os ouvintes sempre atentos acompanham o drama do cara que sofreu uma tensão por ter esquecido a escova de dente em sua mochila, ou como sua cachorrinha tem o hábito de urinar no sofá, ou dizer à mãe para não arrumar o quarto quando ele estivesse em casa,etc. Interessante também quando o falador relata um encontro ou uma discussão, uma conquista sexual: “–Aí, ela me olhou e virou a cara, o que me incentivou a abordá-la, aí me aproximei e disse oi gatinha, ela me olhou com um olhar mortiço e não disse nada. Aí, fiquei ali ao lado dela, parado, né. Ela voltou a olhar com aquela cara de sono, tentando fazer com que eu desistisse, mas sou teimoso e falei o que uma linda como você faz sozinha, aí ela disse que havia terminado um namoro de duas semanas. Aí falei que eu a trataria como rainha com muito carinho, aí...”. Outra conversa que rola muito nos dias de hoje é sobre bichos caseiros. Os “pets”se tornaram fator importante nas conversas, ensejando os mais diversos comentários, sobre suas personalidades, comportamentos, doenças, etc. Praticamente conversas sobre seres humanos são poucas, a não ser sobre carros, motos, bebidas e outras banalidades. Lembro de Stanilaw ponte Preta. O FEBEAPA continua cada vez mais forte ( Festival de Besteiras que Assola o País).
Paulo Miorim 26/02/2024