#CXXXII - Necrotério celeste.
É só um ensaio.
Há uma imensa vontade de chorar em mim, meus olhos margeiam nestante que digito, parece que sinto uma espécie de saudade, deve ser uma saudade que vem aos trinta e poucos anos. As aberturas de animes antigos, aqueles, da minha época, causam em meu coração certo sofrimento. Eu não sei explicar ou sintetizar aqui isso, estou escrevendo apenas por essa razão. Há uma iminente solidão como plano de fundo do futuro que ali me aguarda...Estão todos morrendo ao meu redor, mesmo com o coração batendo, alguns que de minha carne eram parte, morreram, necrosaram, partes mortas que ainda me compõem. Sinto que é parte de um processo que não tenho controle, todos, todos mesmo, morreremos em algum momento e para algumas pessoas. Ainda tenho bastante esperança na vida, mas aquele céu que me recebeu, aquele céu cheio de estrelas, sabe? Imagine um céu, às 22horas, em uma roça dessa de qualquer interior, tipo aqueles que íamos na infância, quando visitávamos nossas famílias. Um céu acolhedor, limpo, cheio de estrelas, cada uma com sua forma, cada uma com sua própria marca. Marcas essas que foram deixadas, com o passar dos anos, sinto certo sofrimento, um sofrimento lento, sutil e aterrorizante. Gostaria que algum estudioso ou entendido me ajudasse nisso, como lidar com essas estrelas que estão se apagando? O que resta delas? Se não memórias, fotos, poucas filmagens e alguns causos engraçados? Não resta nada... O que fazer com isso? Para onde vão as estrelas mortas, já que todas estavam no céu? É angustiante, pavoroso, meu brilho também se apagará, quando a vertigem tomar toda minha consciência, talvez... Por conta de algum descaso, descuido, sei lá. Espero que não seja logo, ainda gostaria de conhecer novas estrelas, novas galáxias, se é que isso é possível. Já passou da meia noite, ainda estou trabalhando, parei apenas para excretar isso, aqui sozinho, enquanto olho para o céu da Capital e já não vejo nada. Além de nuvens, poucas nuvens. Sigo com a terapia em dia, sigo contando péssimas piadas, sigo sorrindo e arrancando gargalhadas. Que papo clichê, parece uma adolescente gótica de 16 anos, doce melancolia jovial. Hoje, mais calvo, mais ácido e mais sutil, concordo com aquela frase que alguém que deve ser importante provavelmente tenha escrito e que serve para montagens do instagram que diz: "...O que importa é que o tu faz com o que fizeram de você..." acho que é assim. No mundo real, longe das universidades, dos bunker's intelectuais, das fazendas, dos motoclubes e das terapias em grupo, viver é pragmático, eviscerador. Há pouca lealdade, pouca honra, pouca humildade, apenas dinheiro. E olha que não acho dinheiro ruim, ainda sou sensato, as misérias e sofrimentos da vida não me permitiram delirar, sou só homem e nada mais. Tenho um costume ruim de usar ironias e sarcasmo, deixando isso registrado para evitar um processo por má interpretação, pode ser que, em algum momento no qual escrevo, posso estar usando de exagero. Fico me perguntando se me tornei um relicário de carne, ossos e cicatrizes... Insisto em escutar Bach, apesar de ser preto. Não é por modinha, como a maioria faz com vinho("Pergola é bom"), nem por me considerar intelectual ou inteligente, mas realmente acho gostoso escutar música clássica. Adoro escrever ensaios assim, tenho liberdade para errar e posso não estar falando sério, visto que é para mim. Me tornei religioso, tenho certo receio da censura de alguns amigos, os que me restam ao menos. Eu, assim como alguns, tínhamos certas opiniões...Mas, parece-me que quando eu me for, me tornarei parte de tudo isso. Não sei se a frase é suficiente para explicar o que tenho pensado ou talvez falte algum entorpecente para me lançar em uma viagem, maas, é nessa pegada. Há um sentimento de completude, um salto, diria Camus...Mas é papo para uma mesa de bar. Estranhamente, não sinto vontade beber, parei de fumar e não estou me lançando a luxúria(Ô, estou quase imune a benzetacil). Tendo em vista que vivi bastante nesses últimos anos, como diria o louco Calotti Aguiar, experimentei de vários ethos(neologismo), diferentes estados, lados políticos, pesos, estéticas e laudos. Vivi bastante, papo de velho, mas é vazio. Temos que concordar que, se fosse verdade, a tal da conexão usada como ferramenta de manipulação por esquerdomachos, seria algo interessante nas relações. Poucos nos conectamos, basta que você tenha condições de pagar o rolê certo que você tem acesso a muita coisa, mas a quase nenhuma pessoa. Não sei como terminar esse texto, gostaria de ensaiar sobre tantos assuntos melancólicos, trágicos, alegres e contentes... Antigamente, costumava achar os bêbados tolos, hoje, os olho com mais respeito. Entendo o olhar, apenas de ébrio, resta um alguém ali. Que também foge do mundo, só que com álcool, costumo achar que escrever no meio da semana na madruga seja menos insalubre. Mas, quem sou para expressar alguma opinião sobre bêbados, eles são acolhedores em sua maioria, miseráveis, sofridos, péssimos cantores e com piadas machistas. Acredito que o bar seja o grupo de apoio de quem não tem dinheiro, pois convenhamos, terapia não é para pobres. Psicologia por amor, assim como enfermagem, assim como pedagogia, não me parecem ser por amor. Um para se encontrar, outro por falta de recurso, outro por falta de nota de corte, lembrando, não siga ordem nessa frase, pode soar agressivo. O bom de escrever textos é que pouca gente lê isso, o que facilita poder se expressar, iniciei em uma nova carreira, subir na antiga, estava me matando, para concretizar meus sonhos, alguns sonhos deveriam morrer. Ninguém viu isso ou percebeu, na verdade, acho que perceberam, mas fingiram ignorar. Todos que deram "certo" no consórcio, tiveram que trocar a alma, o coração e a reputação por dinheiro. Vi casamentos acabarem, quem entra casado(a), muito provavelmente se corromperá e trairá. Parece um roteiro repetido, relacionamentos abusivos frutos de traições, grande potencial de dar certo. No fundo, fomos todos cruéis, principalmente conosco. Os jogos de poder são curiosos, na universidade, eram mais histéricos, autoritários, entretanto, sem grandes punições. No mundo corporativo, não há muito espaço para livros, a coisa lá é mais bestializada, você subirá as escadas com muito esforço e suor, seja abrindo caminho ou as pernas, vai muito além dos livros. Traições, mentiras, intrigas, ego e demissões, tudo é mais agressivo no mundo real. Chega desse assunto irônico, são delírios noturnos, possivelmente é o sono.
Mas, é uma página virada, ficaram apenas as memórias, memórias, sem juízos de valor. Esse texto já foi longe demais e são quase uma da manhã, não há tempo para descanso, é hora de dormir.