ENTRE A BABAQUICE E A ESTUPIDEZ!
Quando o culto vale mais que a vida, a existência de toda criatura torna-se banal aos olhos daquele que deseja para si a veneração eterna dos seus subalternos!
*Por Antônio F. Bispo
Segundo os olhos da fé e das tradições judaico-cristãs, se fossemos resumir a saga humana em pouquíssimas palavras, seria útil dizer que fomos criados por Deus para sermos seus bonecos de mamulengos.
Segundo essa distopia, o “Todo Poderoso” precisava de escravos para cultuá-lo e por isso nos fez (não sem antes de ter gerado os anjos para esse intuito e de ter falhado em partes).
A Humanidade foi arquitetada para o serviço de culto eterno e será destruída quase que em sua em totalidade pela má qualidade dos serviços prestados ao seu criador.
Nosso grau de submissão nunca foi satisfatório aos seus olhos, ainda que queiramos!
Por mais que nossa estrutura química, físico, emocional, cultural e financeira nos limitem ou nos dê uma visão de mundo diferente uns dos outros, seu grau de exigência transcende qualquer nível de racionalidade.
O castigo é certo, no aqui ou no porvir. Você jamais escapará!
O chicote divino sempre vai estalar, quando em nossa pequenez de espírito, não formos capazes de entendermos os seus planos, mistérios e desígnios, sempre representados por terceiros, cujos interesses deveras, coincidem com a falta de lucidez, caráter ou ganância do próprio arauto nas epifanias faladas, escritas ou cantadas nas liturgias mundo à fora.
Ele não escolhe os capacitados para sua obra, antes sim prefere os aduladores e invalida os que possuem algum resquício de lucidez, para servirem de estrado dos pés daqueles que se ajoelhando para beijar-lhes os artelhos, exponham ao mundo a vergonha de sua nudez, criando-se às vezes a impressão de que estão falando pelo orifício errado, pelo fedor das próprias conclusões que emitem à cerca daquilo que dizem ser o divino.
A árvore do conhecimento nunca pode estar ao alcance dos filhos de Deus. Ele não gosta disso!
Ao seu comando está uma horda de chacais, servos sem cérebro e sem coração, prontos a destruir qualquer um que fique entre a babaquice e a estupidez, encargos básicos, exigidos aos que almejam o selo de “escolhidos do Senhor”, “gente santa”, “cidadãos dos céus” e outros penduricalhos reluzentes aos olhos dos que se comportam como toupeiras.
“Só Deus na causa”, viu!?
Segundo essa crença generalizada, do Gênesis ao Apocalipse, tudo gira em torno dos anseios infantis de um Ser ciumento, iracundo e atribulado, que planeja ser o centro das atenções a todo custo, independente das circunstâncias dos seus súditos.
Quem assim não o fizer será punido!
Se o fizer também, será penalizado do mesmo jeito, pois todos somos descartáveis aos seus olhos.
Nada o agrada, nada o satisfaz, nada alivia o seu estresse e furor...
Tudo parece contribuir para seu apetite de destruir a sua própria criação, apesar de nossas escolhas e da nossa subserviência.
O suposto livre arbítrio dado aos homens consiste nesta súmula: VOCÊ É LIVRE PARA FAZER SOMENTE O QUE EU QUISER, E FIM DE PAPO!
Adore-O, louve-O, venere-O, curve-se a Ele, se não...
Esta tem sido a mensagem da igreja ao longo dos séculos e mesmo que você cumpra toda a demanda, nenhuma garantia há de que ele o protegerá, como reza os salmos 91,23 e tantos outros que afirmam que ele tem parceria firmada com os mais abilolados, capazes de largar tudo e dedicar-se somente à sua causa insana.
Tomem como exemplo o pobre Abel, filho de Adão e Eva.
No momento em que a humanidade ainda era quase perfeita e nada de exterior havia para distrair os homens de seus propósitos de veneração ao Ser cobiçoso de glória, Deus parece ter contribuído para que sua morte ocorresse, apesar de seu capricho em servi-lo!
Abel foi o primeiro ser humano que foi de “arrasta para cima”!
O PRI-MEI-RO!
Ele nem era "amostradinho".
Mesmo assim, a morte o espreitava "à cada curva".
Foi no meio do mato que ela o encontrou sozinho, entregue à própria sorte, apesar de o seu protetor estar à apenas "dois metros de distância"!
O mais grava é que não foi uma morte qualquer.
Tampouco foi um "desencarne" simples ou de forma honrosa por conta de sua postura diante do “altíssimo” (como alegam as fábulas de catequese).
O conceito de Karma ainda não havia sido inventado.
Era uma alma com "o contador zerado", sem dívida anterior a pagar.
Mesmo assim, ele sofreu a penalidade que nem todo déspota na história humana já sofrera.
Apesar de sua total devoção ao criador, ele foi assassinado de forma brutal, bem diante dos “olhos e narizes de Deus”, que nada o fez para mitigar tal desventura.
Vítima de homicídio, atentando feito por seu próprio irmão (por conta de ciúmes), pois queria atrair para si a atenção de Deus, desse ser onisciente, que apesar de haver somente 4 pessoas no planeta inteiro, não conseguia se doar nem para apenas dois deles, dando mais atenção a um que ao outro, provocando discórdias, aparentemente propositais.
Afinal, que mal cometeu Abel para que Deus o deixasse perecer de forma tão cruel?
Adivinhem...?
Sim, ele passava o dia todo procurando meios perfeitos de cultuar ao Senhor, de agradá-lo de todos as formas, para deixá-lo ainda mais aprazível.
Era um adorador contumaz e o fazia em espírito e em verdade, seguindo todos os rituais, convicções e orientações que todo “levita” alega possuir quando em condução de tão sagrada oferenda.
Segundo os textos bíblicos, Deus se agradou de Abel e rejeitou as oferendas de Caim, o seu irmão, o homicida em questão, que não O louvava do “jeito certo”.
Por isso Caim invejou o lugar e posição do seu irmão, matando-o de forma traiçoeira, enterrando-o em seguida “as escondidas de Deus”.
Isso é paga que você leva quando tenta disputar a atenção de Deus entre os de mesma fé!
Não importa o tamanho, uma cidade "será sempre pequena para nós dois”, quando o quesito é desviar para si o fluxo do olhar divino.
Alguém, alguns, ou centenas de milhares de pessoas irão pagar, alguns até com a própria vida, toda vez que, embebidos pela própria loucura, um fiel decidir adorar ao Deus verdadeiro, do modo certo e como rito “apropriado”.
Cabeças rolam (de animais, pessoas) no sentido literal ou figurado, sempre que duas ou mais pessoas disputam a atenção dos deuses metafísicos. Fiquem longe disso!
Agora pense bem seu devoto puritano: o primeiro adorador em condições humanas em toda estória era 100% fiel e fazia tudo certinho! Mesmo assim, Deus o deixou morrer à pedrada pelo próprio irmão “vigarista”! E você aí, se achando o “cambalacho da santidade eclética”, só porque todos os dias põe 2 horas de louvor para tocar na playlist do seu smartphone enquanto cuida da casa, e de quebra, ainda manda nudes para o seu pastor casado!
Vá se achando, SRS!
Cara... Abel, o primeiro “sacerdote e levita” morreu à pedrada!!!!!
Dá para imaginar o grau de sadismo da criatura que assistia a tudo e nada fez?
Era um súdito, um aliado, um parceiro...
CARAMBA!
Quem tem um amigo assim, nem precisa de inimigos!
… Isso apenas prova o quanto (segundo essa visão), somos irrelevantes aos seus olhos!
Este não foi o primeiro nem o único caso de pessoas que “andaram com Deus”, que fizeram tudo o que deveria FAZER “nos mínimos detalhes”, e na hora H, foram abandonadas por ele feito um cão sem dono!
Alguns foram mortos sem piedade, justamente por seus algozes, “adoradores do demônio”, enquanto dos altos céus, o criador a tudo via e nem se mexia, de tão descartáveis que somos.
No máximo, tu que se dedica à causa dele, te tornarás um epitáfio em algum tumulo frio ou serás figura de contos folclóricos, usados para iludir outras trouxas ao mesmo destino cruel.
Que viajem!
É preciso muito mais que LSD para manter por tantos milênios, psicoses tão estimulantes e em tantos lugares do planeta simultaneamente!
Imagine o estrago social que estórias como estas provocam nas sociedades, quando repetidas durante mais de 6 mil anos seguidos.
O caso é sério!
A regra é clara: se correr, o velho do porrete te pega! Se ficar, ele te segura e dá para o “bicho te comer”.
Desse modo, entenda (eles dizem) que você foi criado única e exclusivamente para exaurir suas forças mentais, físicas, saúde, tempo e recursos financeiros a fim de agradá-lo!
No final, por mais perfeito que conjectures ser, ainda serás punido com pragas, doenças, pobrezas e por fim, o inferno será a sua paga final!
Isso por que ao longo de tua caminhada, você cometeu um ou outro deslize que O deixou furioso.
E se não tivesse cometido, seria punido do mesmo jeito!
Sem falar, que em meio a dezenas de religiões, centenas de milhares de igrejas e milhões de ritos devocionais diários que cada um adota, presumindo alcançar o âmago do seu querer, você pode ter tido o infortúnio de escolher o rito, igreja ou religião errada (como saberia?).
Assim, aumenta em milhares de vezes suas chances de ser vizinho do tinhoso.
Quanto maior for a quantidade de igrejas e a divergência entre elas, maior será a chance de que você esteja no lugar errado, sendo um apóstata ao invés de um verídico adorador.
Já pensou nisso?
Como paga de tua falta de atenção (e onisciência), tu serás lançado no lago de fogo e enxofre e arderá para sempre com os infiéis.
Mesmo tendo uma vida pacata, regada às formalidades e oferendas, ensinados por sua congregação, mesmo assim, tu serás adjunto da pessoa que “vivia a vida adoidado”, sem modos ou preceitos algum!
Já prestou atenção nessa possibilidade?
E sabe quem preparou o lago de fogo e enxofre para você e para os demais, mesmo antes da fundação do mundo, pois já sabia de forma antecipada que tu irias para lá? Sim, ele, o Deus criador, onisciente e mantenedor de todas as coisas!
OH LASQUEIRA!
Quem de loucura não morrer, na doidice viverá, se der ouvidos às tantas lorotas!
Só pensando e repensando em tudo que nos dizem ou impõem à cerca das divindades é que poderemos alcançar algum nível de sanidade.
Com 5 ou 6 gerações adiante, quem sabe esse sistema poderá ficar tão enfraquecido ao ponto de ser visto apenas como uma mera manifestação cultural de povos primitivos.
Duzentos anos depois dessa iniciativa, possa ser que esses seres cabulosos sejam postos nos bancos dos réus (ainda que in memoriam) e sejam punidos por todos os seus crimes, sendo lançados no mar do esquecimento da humanidade para sempre, deixando-a evoluir, seguir a um ponto mais alto, longe desses penduricalhos, que como ancoras num pântano da afronésia embotam a todos os que a ela cedem.
É como uma “gangrena cerebral”: algum dia, de um ou de outro modo, o fiel perderá a cabeça por falta de oxigenação. Quando não, a decepará a de outrem que discordem de suas “verdades”, como tem sido desde sempre.
Outra forma não há de livra-se de tão medonha forma de existir, a não ser pondo interrogações diante (ou ao lado) de toda verdade enlatada, pré-estabelecida, passada de geração a geração.
Se pensar for um crime, melhor ter como sentença de morte a cicuta por se recusar a ser um “todo mundo”, que morrer apedrejado por sua própria irmandade, à vista do seu próprio mentor, mesmo tendo seguido à risca tudo o que ele te mandou fazer!
… Enquanto os deuses povoarem a mente dos homens, a ambiguidade de caráter e a falta de decoro nas relações, serão sempre símbolos dessa era de trevas, traições, perjúrios e de todo tipo de delitos que cometemos uns contra os outros por tentar agradá-los!
Nosso maior atraso e peso existencial ainda consiste no castigo e recompensa, baseados em prêmios ou condenações imaginárias, que serão concedidos por seres que falam por procuração e nunca “deram as caras”, ou falaram de forma clara para quem quer que fosse única vez!
QUANTA BABAQUICE NOS É IMPOSTA SEM DIREITO A DEFESA LEGÍTIMA!
Continua!
Texto escrito em 16/6/24.
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.