Consciente e inconsciente: O sincretismo conjurador da inspiração
A ótica poética — essência do âmago em ascensão — que atravessa e entrelaça qualquer percepção sensorial condensada na sensibilidade e sinestesia imaginativa de seres que exercitam seu pertencimento, é desenho e tradução da transversão humana de ressignificar e recriar psíquico toda existência à volta. Produto da arte, o desenvolvimento de sua concepção e processo molda-se à natureza do método simbiótico, sentimento e razão tecidos em beleza criativa. Assim, semelhante à absorção dos sentidos e sinapses ao deitar-se sob o sol de outono, e poder mesmo com os olhos fechados, perceber além da realidade presente, o calor e claridade que unem o tempo direto com o espaço de outras sensações do plano multidimensional das ideias.
Todavia e em conformidade (as divergências não se anulam), tal estado de ser arauto — elemento da transmissão de poemas — é como cristalizar em fotografia imersiva a conexão frágil e passageira da sobreposição exata das ondas de luz e sombra, captar essa união que conjura e flui a iridescência de cores ondulatórias na superfície das águas. Não controlar o movimento, mas poder representar em outros símbolos, a magia e profundidade da sua manifestação.
Dessa maneira, no percorrer dos meandros da diversidade imaginativa, complemento essa reflexão na extensão de que a arte é volátil ou, a melhor designação, alcança os espíritos românticos. É como um feitiço complicado que às vezes se materializa num pergaminho inteiro e quiçá agracia ou amaldiçoa aleatoriamente a lembrança de seu discípulo para realização de sua intrincada magia. Seja expressão lírica, surrealista e mórbida, o artista absorve e transpassa a conjuração da Musa além de sua unidade criadora, como enlace metafísico que figura e também se estende à esperança, determinação e resiliência.
Destarte, apesar do flagelo das circunstâncias, é preciso o rigor dos realistas expectantes, a consistência da melancolia suave que se mantém, todavia em fogo brando sob a pele, e que a menor promessa e horizonte, capta, crepita e condensa sua emoção, sentimento, o combustível para o eterno fogo da imaginação. Entretanto, e para adição elaborada, descrevo essa magia — espero que sem tantos simbolismos densos — como jogo no qual o artista é um personagem, o ator que recria e interpreta sua própria peça. Mas o truque da beleza e sentido desse paradoxo consiste em que atuar ficções no espaço-tempo tridimensional em que se encontra — além da percepção de só mais uma fantasia, entretenimento à primeira vista de um possível público — é o ato e perspicácia de espontânea e sistematicamente conjurar palavra por palavra do feitiço que molda e transforma essa dimensão. E o livro mágico em que repousa tais sortilégios é a efervescência do inconsciente e deságue do consciente no regenerar a partir dessa retroalimentação do plano físico. A infinidade de universos alternativos no qual finalmente a espécie de atuação invoca e se modifica em verdade, a nova percepção do encanto da vida como símbolo do engenho artístico.