A morte como força motriz da existência

Acredito que a morte, desde os princípios da razão, é o motor evolutivo indispensável para a vida racional e irracional. Quando digo morte, refiro-me ao fato do fim, ou seja, um ponto final em algo que teve um início, seja ele breve ou duradouro. Nessa ótica, é imensamente interessante como a vida se molda aos caprichos de um final: como os animais agem instintivamente para sobreviver, se adaptando por intermédio de camuflagens e, em alguns casos, utilizando até mesmo a tanatose, enquanto os seres humanos tentam agir “racionalmente”, criando soluções e construindo ideais para obstáculos que antes pareciam irremediáveis, apenas para tentar se convencer de que estão “vivendo” e não apenas sobrevivendo.

Deveríamos aprender mais com o fim de obras artísticas, tal como em filmes e livros, em que o final sempre tem algo a nos ensinar. E, mesmo que isso pareça clichê, é algo extremamente lógico e realista. A morte é muito mais simbólica para quem está vivo, já que é a partir dela que gozamos do privilégio que apenas os vivos podem ter. Refiro-me à regalia de absorver, refletir e aprender, já que, além do fim, a morte não passa de um erro a ser corrigido, mas não pelos que padeceram, e sim por aqueles que sobrevivem.

A partir desse viés, as situações se tornam interessantes, pois o temor de um ponto final desenvolve a demanda crescente de todo ser humano em ser lembrado. Isso resulta na criação de pensamentos, reflexões filosóficas e descobertas científicas, forçando assim a evolução humana e, consequentemente, de tudo ao nosso redor, incluindo a natureza e os animais.

Não há como escapar da morte, ainda assim é possível atrasá-la, e graças às invenções humanas temos a chance de nos vangloriar por esquecer por um segundo que o que vemos e sentimos agora é apenas parte de algo finito. Isso não é uma alusão à alienação, não me entenda errado. Eu, particularmente, sou grato por ser ignorante a maior parte das vezes, pois ser inteligente é carregar o fardo de reconhecer que estamos apenas esperando.