Reflexões sobre o estudar e ensinar filosofia

A proposta do Prof. Silvio Gallo do ato pensar a filosofia no ensino de filosofia pela ótica de Michel Foucault.

O ato de ensinar é uma ideia de transmitir algum conhecimento, algum valor, no ensino de filosofia, que é uma questão do que transmite quando se ensina filosofia aos jovens estudantes. Transmite-se uma tradição, uma postura filosófica, algum conhecimento ou nada disso?

Pode-se considerar que transmite na filosofia a tradição filosófica de mais de dois mil e quinhentos anos, e que só pode ser realizada através dos textos dos filósofos na íntegra.

Transmite-se, também, conforme Jacques Franciére, na sala de aula, algo muito mais interior ao ato filosófico para sair do estado de ignorância filosófica e sua natureza crítica. Deve-se transmitir o sentimento filosófico que é a ignorância ou o mestre ignorante, numa sociedade pedagogizada que se efetua através de explicação.

O que se pode e deve transmitir a aula de filosofia é uma resposta considerada hegemônica, mas não pode ser considerada única, numa determinada visão filosófica. Conforme Deleuze, que distingue o aprender e o saber, pois o pensamento pode-se fazer pelo aprender e também pelo saber. O pensamento se orienta pelo aprender ou pelo seu produto, que é o próprio saber.

Pode-se trabalhar com conceitos do pensar e o que é filosofia e o que é trabalhar, filosoficamente, os conceitos. O conceito, no claro, não é uma verdade acabada, mas uma travessia, algo inacabado.

Foucault diz que a história traz a filosofia como um trabalho de espiritualidade, que é um subjetividade e outra que a filosofia é um tipo de conhecimento.

De um lado a filosofia é um saber, ou seja, um produto, que se traduz em textos filosóficos, o que se pode ensinar a filosofia pelos textos filosóficos.

Assim, há dois caminhos possíveis para o pensar do ensino de filosofia, conforme Foucault: 1) prática de espiritualidade: separar o que seja verdadeiro ou falso, e que a filosofia é uma forma de pensamento que estabelece condições e limites, e que assim constitui para se ter acesso à verdade; 2) afirmação de que não se tenha acesso a verdade e que por isso precisa de uma espécie de mediação para poder chegar a verdade; 3) para que haja a verdade, é necessária a transformação do sujeito, o que seja uma conversão do sujeito; 4) produzir efeitos sobre o sujeito, que provoquem efeitos no sujeito sobre a verdade; 5) exercício sobre si mesmo.

Aristóteles tomou a forma revolucionária da verdade, ou seja, como conhecimento, o que o desvencilha sobre a espiritualidade da filosofia. Separa-se a filosofia da espiritualidade, no momento cartesiano, ou seja, que levou a um processo, com base no cristianismo, pois houve a desespiritualização da filosofia.

O ensino de filosofia é uma relação com conhecimento, no caso, com os textos filosóficos, e daí a transmissão e acesso à verdade sobre o conhecimento.

A espiritualidade proposta da filosofia pelo Foucault é uma espécie do ato de pensar de conversão do sujeito, com proposta da estética da existência tirada da ideia de Pierre Adolph.

A filosofia grega, por sua vez, foi um verdadeiro exercício espiritual, como prática de exercícios, e que se verifica nos textos filosóficos estudados, desde a antiguidade.

A temática da filosofia como exercício espiritual em várias direções quando se afirma a marca da filosofia antiga para se pensar momentos presentes e a vida.

Pode-se então haver uma transformação do sujeito, mas não a construção do sujeito, como teorizou Adolph ao comparar tempo presente com textos antigos filosóficos.

Fazer filosofia é fazer exercícios mentais, que são considerados espirituais, em relação a exegese de textos filosóficos e governo de si mesmo, ou seja, controle de próprias ações.

A filosofia é uma arte de diálogo e de aprender, como também, arte de morrer, conforme Pierre Adolph, bem como aprendizado.

Bergson, Nietzsche e existencialistas auxiliam de como aplicar o ensino de filosofia na sala de aula, mas como um método de transformação do ser humano, que parte da filosofia teórica e abstrata para uma arte de viver na concepção prática.

Não se pode, portanto, conceber a filosofia somente como espiritualidade, que é um pensar sobre si mesmo.

A filosofia pode ser concebida como saber ou como uma prática, um ato de se conceber a si mesmo. A análise do conceito de si mesmo é um exercício que se recorre a filosofia como exercícios espirituais.

Foucault propõe na filosofia moderna indícios de práticas espirituais com ênfase no conhecimento, uma vez que a filosofia atual é baseada no conhecimento filosófico acumulado perante a história da filosofia.

O governo de si e dos outros, de acordo com a Foucault, na questão da coragem de dizer a verdade, que se esmiúça na filosofia política. O autor recorre aos textos antigos, como de Platão, o qual analisar a filosofia como prática de dizer a verdade, o que é o real da filosofia: dizer a verdade sobre a verdade (orientação da verdade e do conhecimento).

Para Foucault, a filosofia não estava voltada, antigamente, pelo texto de Platão, para a verdade, e sim, para a política. Daí, que as práticas da filosofia são algo de um caminho a percorrer e cujo fim pode chegar, numa escolha, a fim de se orientar por um guia a fim de percorrer determinado caminho, ou seja, a filosofia como uma prática de si mesma.

Foucault sobre o estudo de sua paresia, ao analisar textos antigos de Platão, o qual se preocupava com seu próprio papel como prática de si mesmo, prática com os outros, prática política e prática intelectual, ou seja, do papel do intelectual na sociedade.

Todos os estudos foram para tomar posição sobre o presente, bem como sobre a arte do ensaio e do próprio pensamento, que se consolida na própria modernidade.

Reorienta-se a filosofia para o sentido e para a ação do presente, considerada uma filosofia marginal ou menor, neste sentido, como prática filosófica espiritual.

A afirmação da filosofia como prática como fruto do saber é decorrente dos exercícios espirituais da filosofia pela antiguidade em consonância com o exercício da busca da verdade pela modernidade.

O logos na filosofia é a palavra que transforma o indivíduo, o sujeito, que é o destinatário das aulas de filosofia, mesmo que na passividade, pois o logos se aloca na alma. A passividade que passa na alma sem haver transformação, não se alcança o propósito da verdade. E há a passividade que passa na alma com transformação, o que se alcança o propósito da verdade e da filosofia, que decorre a experiência de si mesmo.

Conforme Deleuze, quando os signos são capturados pela palavra do professor, o que pode proporcionar experiência filosófica singular.

A filosofia, então, adquire-se pela reunião e conjunção de viver com, ou seja, coabitar com a filosofia, o que constitui a própria prática da filosofia, conforme entendimento de Foucault sobre Platão. É o render-se com a própria prática filosófica.

Filosofia não é só ensinada com textos, mas com o seu real, sua indicação, o que pode proporcionar a prática do ensino de filosofia a partir de práticas como proceder com a experimentação do pensamento filosófico.

A filosofia como conhecimento de experimentação de fórmulas cognitivas, é o que é transmissível, mas que se deve fazer junto com alguém, nas práticas filosóficas como atividade da alma (mente).

O ensino de filosofia é passado para o saber e o aprender filosofia, não só pelo transmissível, mas viver o pensamento e a prática de um com outro, a fim de fazer a filosofia acontecer pelos exercícios espirituais.

Refletindo sobre o vídeo da aula do Prof. Silvio, pode-se concluir que filosofia não é só conhecimento acumulado pela história de textos dos filósofos, mas é uma prática de viver e realizar exercícios espirituais filosóficos, no sentido de conhecer a si mesmo e buscar compreender as experiências práticas da vida.

Referências

FOUCAULT, Michel. Hermenêutica do Sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

GALLO, Silvio. Aprender filosofia: os desafios de um exercício de si. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Cd7k-_wRIQk. Acesso em 20 mar. 2023.

Lúcio Rangel Ortiz
Enviado por Lúcio Rangel Ortiz em 08/06/2024
Código do texto: T8081618
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