Os Dom Quixotes modernos
Em 1605 foi publicado o livro “El ingenioso hidalgo Don Quixote de La Mancha” de Miguel de Cervantes.
O autor contrapôs seu herói, que variava entre a loucura e a lucidez, aos heróis dos livros sobre aventuras de valentes cavaleiros, comuns na época.
Cervantes transformou em comédia o que normalmente seria considerado eventos tristes, as atitudes frustrantes de um louco.
O mundo do século XX assistiu assustado a ocorrência de várias tragédias como a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais com o Holocausto dos judeus e várias outros conflitos, o crescimento do Comunismo em vários países acompanhado de genocídios de populações, a influência de seus líderes e suas personalidades que, embora tenham conquistado um número incontável de admiradores, sempre foram carregadas de um ímpeto assassino.
Talvez para aliviar um pouco a tensão emocional nascida desse clima tenso, as sociedades ocidentais tenham aprendido a fazer humor, mesmo com situações que, a princípio, não eram motivos para se rir.
Mas, eis que, principalmente dentro de universidades dos Estados Unidos, a partir da década de 1960 começaram a aparecer os “reformadores do mundo”. Estes, ao que nos parece, são seres profundamente infelizes, não propriamente com sua condição material, visto que sempre tiveram e têm quem sustenta seu conforto, mas por terem suas mentes atingidas por algum fator deletério em algum momento de suas vidas.
No seu propósito auto instituído de “salvar o mundo” passam os dias e as horas “procurando piolhos nas cabeças dos outros” e diariamente nos apresentam “um novo mal a ser combatido”.
Esses “guardiões do Planeta” não conseguem perceber que ter seres absolutamente desprezíveis como ídolos, tais como Lenin, Stalin, Mao, Fidel Castro, Che Guevara, etc., pode ser sintoma de uma anomalia mental, mas veem um grande mal em se referir a pessoas negras como “negro”.
Em consequência disso, Miguel de Cervantes ficaria perplexo de ver como seu “cavaleiro da triste figura” proliferou no mundo atual e como tem “guerreiros” por todos os lados lutando contra moinhos de vento e rebanhos de ovelhas.
Os Dom Quixotes modernos realmente são “cavaleiros da triste figura” porque deixam transparecer em suas faces e nas suas atitudes a desordem de suas mentes.
Por aqui, esses “fidalgos” se empenham em lutar contra inúmeros monstros, tais como:
- o nazismo/fascismo (muitos deles tem como ídolo nacional o fascista Getúlio Vargas);
- o Capitalismo (que os sustenta);
- a sociedade malvada;
- a família opressora;
- o racismo estrutural;
- o racismo ambiental;
- o racismo climático;
- o racismo alimentar;
- o racismo astronômico, representado pelos buracos negros;
- a herança colonialista;
- a dívida histórica;
- o neo pentecostalismo;
- a linguagem ofensiva, como a palavra “denegrir” e chamar menino de “menino”, gordo de “gordo”, desempregado de “desempregado”, morador de rua de “morador de rua”, etc.;
- os combustíveis fósseis;
- o aumento do aquecimento global decorrente do pum das vacas (ignoram que essas vacas produzem o esterco para as culturas orgânicas);
Obras primas da literatura e filmes que pretenderam nossa atenção no passado, também se tornaram monstros a serem combatidos por esses “cavaleiros da triste figura”.
No prólogo de seu livro Cervantes diz “Então o que poderia criar meu árido e mal cultivado engenho a não ser a história de um filho seco, murcho, caprichoso e cheio de pensamentos desencontrados que não passaram pela imaginação de nenhum outro, exatamente como alguém que foi concebido num cárcere, onde todo incomodo tem seu assento e onde toda triste discórdia faz sua moradia?”.
Temos que nos perguntar, pelo bem da civilização, que espécie de “cárcere” está produzindo essa legião de Dom Quixotes, eles próprios rocinantes, que acreditam que sua natureza humana é melhor do que a natureza humana dos outros e que precisam ser moldadas a sua confusa e feia “imagem e semelhança”?