Pensamento louco-persistente nº2: sendo eu quem sou
“Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio…
pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem.”
Heráclito de Éfeso.
Sendo quem sou, mesmo querendo, fazendo tudo para, posso ser outro além deste?
E se eu me transformar, me modificar completamente, adotar novos hábitos, outra cultura, nova identidade, recriar meus aspectos mais básicos: rosto, gênero, corpo e cabelo?
Ir embora de casa: trocar de cidade, de estado, de país; outro continente?
Ouvir música clássica, funk, pagode, rock ou sertanejo?
E se eu entrar para alguma igreja, me batizar nas águas, fazer a cabeça, me converter ao islã? Fazer meditação, ioga, zumba, musculação?
Escrever um livro, fazer artesanato: crochê, bordado, pintura? Entrar para um campeonato de pebolim. Fazer aulas de teatro, alpinismo, canto lírico, triatlo? Comprar um collant, ensaiar passos de balé?
E se eu fundar uma seita, um grupo de autoajuda, um time de futebol? Ficar rico, muito rico ou pobre, muito pobre? Fazer uma tatuagem, colocar um piercing, deixar o cabelo crescer, pintar de laranja, ficar careca?
Rir de todos, de tudo, de qualquer coisa. Me transformar em um palhaço, um bobo da corte, o bobo da turma? O contrário: me tornar o mais rabugento de todos, o do contra, o pessimista?
Cinéfilo, colecionador de selos, caçador de borboletas? Um parasita: acomodado, lento e preguiçoso; consumista e consumido?
Voltar para a escola, sair dela, fazer faculdade, trocar de curso, abandonar tudo?
Se eu fizer tudo que for possível, mudar tudo que for possível mudar, me revirar do avesso, criar e recriar todos os meus incômodos. E se me livrar de tudo, jogar no lixo?
Adicionar e subtrair, dar e receber. Perder, roubar. E então? O que serei depois de tudo isso? Serei o que já fui, quem eu quis ser, quem eu poderia ser ou o que sobrou de mim?
Estou em um projeto de de livro (GABRIEL ANDARILHO) onde o personagem principal é um andarilho louco cheio de pensamentos fixos que vem e vão sempre com a mesma intensidade. Este daqui é o SENDO EU QUEM SOU.
Sei que é bobo e raso, inocente e atrapalhado, mas estas são as características mais marcantes deste personagem.