CASTIGO DE DEUS!
O retrocesso da psique humana mediante às situações de calamidades
*Por Antônio F. Bispo
Dizem que o silêncio é a melhor resposta para certos questionamentos.
Eu concordo em partes, principalmente quando o quesito é tentar explicar Deus, sua ira transloucada, seus modos absurdos de punições valendo-se de desastres naturais ou sua vontade duvidosa com sentido indefinido, suscetível e a todo tipo de interpretação!
Àquele que a tudo foi dado pelos homens, esqueceram-lhe de introduzir em sua personalidade a mais importante entre todas as virtudes humanas: a racionalidade e a compaixão.
Os teólogos e doutores do mundo antigo enfeitaram-no com atributos, que de tão bonitos e difíceis de se pronunciar, tornaram-se incompreensíveis aos de pouca ou nenhuma escolaridade.
Aos pobres e oprimidos deste mundo, coube-lhes a função de retratá-lo como aquele que um dia vingaria suas dores e castigaria seus algozes.
Aos ricos e avarentos restou o papel de designá-lo como muleta pessoal, um pilar para sustentar causas imorais; um tutor singular, emissor de alvarás para uma opressão consentida, cuja permissividade gerou a licenciosidade. Esta, por sua vez, fez surgir nos homens a ideia de castas, da governança em nome dos deuses e dos abusos sofridos ou cometidos em nome da fé.
Uma mesma ideia, várias interpretações e um mesmo sintoma: MEDO!
Como se fosse uma caixinha de infinitos rótulos, cada um toma para si ou para os outros, aquilo que mais lhe favorece desse conceito.
Fica evidente o retrocesso da mente humana toda vez que nos valemos da concepção de DEUS para justificar nossos próprios atos ou condenar nos outros aquilo que repudiamos (por vezes por não sermos ou termos o que no outro há).
Se é uma comédia, a interpretação do comportamento humano baseado nos editos do deus bíblico, seu rompante ou sua cólera, a explicação (ou entendimento) do universo e suas leis por esse mesmo ângulo de visão, é uma tragédia.
Principalmente quando se põe a suposta salvação do homem no centro de tudo ou quando palavras como “apocalipse”, “besta”, “anticristo”, “fins dos tempos” ou “Jesus está voltando”, parecem querer encerrar de forma abruta, tentativas coerentes de encontrar uma solução para uma determinada causa.
Qualquer um que se diga profeta, ungido de deus ou entendedor dos supostos projetos divinos, se tornaria um poeta se ao deparar-se com determinados fenômenos, apenas parasse e observando não desse um pio, a fim de não reforçar essa imagem, já por vezes demonizada (pela própria bíblia) desse “Deus de Amor”. Retrato este, pintado “desde os primórdios”, reeditado sempre que novos problemas ambientais ou sociais surgirem.
Sempre que o medo, a ganância, a soberba, o ódio, as traições e falta de compreensão do mundo ao nosso redor for maior que o nosso vocabulário, Deus se fará presente como resposta definitiva, trazendo o ser humano ao seu estado primitivo natural, territorialista, brutal e egoísta.
Essa resposta automática do homem confuso (seria confundido?), pode ser vista como uma benção aos que desejam silenciar os rumores da própria mente ou seria como uma maldição por aqueles que buscando um patamar maior, procuram soluções reais e causas prováveis, não somente no imaginário coletivo do “homem das cavernas”.
O homem preso ao próprio passado, impedido de olhar para frente ou para cima, é o homem “cheio de deus”, que vive para ele, por ele ou com medo dele.
Nenhum bem constante ou desinteressado pode vir daqueles que inalando deus, expele-o de próprios pulmões, cuspindo-o diretamente na boca alheia, e como perdigotos que devem ser evitados, todo deus assim consumido, sai das entranhas daquele que o ingeriu já contaminando com os interesses próprios de quem o soprou. Um a um, ao consumir esse conceito, dará vasão a uma versão mais atualizada daquilo que eles chamarão de sagrado ou profano, dali em diante.
Em certos casos, esse conceito é como o de uma âncora atirada a um pântano de lodo, cuja embarcação e seus tripulantes ficarão impedidos de singrarem outras águas, achando que o resto do globo também se resume àquele charco que estão plantados.
Alguns escritos ditos sagrados que mais revelam a obscuridade desse deus ao invés de sua preocupação paternal, também foram interpretados por gente de moral e sanidade questionáveis, cujos antepassados também viveram às sombras dessa criatura mítica, capaz de afogar em águas de um dilúvio todos os seres vivos de um planeta inteiro, só por não saber “conviver” com o livre arbítrio de alguns e o “pecado” de sua própria criação.
Incapaz de distinguir a própria mão esquerda de sua direita, esse ser cabuloso e suposto juiz e todo o universo, em seus julgamentos, não tinha sequer a capacidade de manter o princípio básico da justiça que é imparcialidade, não tomando o justo como pecador ou vice-versa.
Por questões de “meras viadagens” de alguns, ele incendiou duas cidades inteiras na antiga mesopotâmia, matando todos os seres humanos que ali residiam, bem como sua população de animais, plantas e insetos que ali habitavam. Tudo fora consumido pela chama do seu furor.
Nada foi poupado, a não seu um pai solteiro (viúvo pela ira divina?) e suas duas filhas virgens, que ao julgar não haver mais homens no mundo inteiro para copular, embriagaram o próprio velho, e do coito com o seu genitor, povos nasceram para guerrear entre si e dar continuidade a essa cultura fratricida, do ódio entre irmãos (de sangue e de fé), digladiando-se por questões tolas, que jamais poderiam ser mudadas ainda que fossem todas elas verdadeiras, arrastando para tal conflito todos que ao ser contaminado por essa ideia (de povo santo), tome partido em alguns dos lados.
Essa cultura da insensatez e do medo descabido a um ser destemperado e ilógico, arrastou-se por mais de 5 mil anos, atravessou o ocidente, conquistou (pela espada) vários povos, e desta vez chegou ao Rio Grande do Sul, um dos 26 estados do vasto território brasileiro.
Um país com dimensões continentais que de tão gigante, suas terras chegam a ocupa partes em dois hemisférios, 2 trópicos e cujas bacias hidrográficas detém quase 15% de toda água doce do planeta, sem falar em seu imenso litoral com quase 15 mil km de extensão.
Como se não bastasse um “alvo” tão imenso, tão disposto a diferentes tipos de temperaturas, vegetações, biomas ou reações diversas por ações humanas e reações naturais, como se tudo isso não fosse o bastante, trouxeram deus, justamente o deus da bíblia para julgar parte do nosso povo.
Esse ser insensato, apoplético desde o berço e desprovido de qualquer sentimento de bondade.
Entre tantos deuses já inventados pela humanidade, trouxeram justamente este para castigar o RS.
Que lástima!
Os investigadores do altíssimo, os detetives das paróquias celestiais e os “fiscais ungidos do c# alheio” deram 3 possíveis casos para tanta devastação naquele estado num espaço tão curto de tempo: a primeira causa apresentada foi o show da Madona. Aquela bela idosa, famosa e endinheirada, que só é odiada pelo “povo santo” por não ser dizimista fiel de alguma igreja evangélica e por não dobrar a espinha para nenhum padre ou tradição católica, apesar das tentativas de subvertê-la. A loira de olhos claro, sempre com luxúria exposta, fazia questão de expor a santidade hipócrita que se esconde sob o manto da fé que faz fissurar vida alheia enquanto não se cuida da própria. Se por acaso o nome desta bilionária constasse nos livros de dízimos de alguma igreja, ela jamais teria o seu quadro pintado com tanta infâmia. Dizem que foi ela, o Pablo e a Anita, que naquele "ritual satânico", fez uma oferenda de almas a uma potestade das trevas, e este por sua vez recebeu a oferenda, minimizando o deus e as orações 200 milhões de brasileiros e milhares de igreja evangélica, passando por cima de tudo e de todos para trazer caos aquele setor.
Quanta babaquice!
O Segundo pretexto para a ira de deus quanto ao povo do sul, seria o “fato” de que, nessa colônia, há diversos terreiros de macumba, cultos de matizes africanas, cujos locais são pretensamente usados para fazer oferendas ao “coisa ruim”, o arqui-inimigo de deus (e seu parceiro nas horas vagas). Por isso, deus irou-se contra um estado inteiro da federação, e resolveu afogar (assim como no passado), animais, plantas, pessoas, construções e monumentos. Desestabilizando a economia de um país inteiro, quiçá a de outros lugares do globo que também dependam de seus produtos agrícolas e do seu rebanho.
Que idiotice!
O terceiro e último “fato” mais recém-apresentado, atesta que deus precipitou-se com tanta fúria contra essa gente do sul, pelo simples motivo que do governador de lá não ser um “homem com H”, e cuja primeira dama do estado, não é exatamente uma mulher com útero, cabelos longos e seios femininos. Quem sabe se este (a), fosse a quarta esposa de um messias ilibado, ou se andasse de igreja em igreja contado lorotas, usando o nome do sagrado para ocultar suas reais intenções, esse deus, o deus abespinhado bíblico, estivesse menos colérico com essa pobre gente.
Minhas condolências ao povo do sul!
Pior que ser açoitado por desastres naturais e ser chicoteado por descrições de gente abilolada, que com sua confusão mental (qual chamam de deus, fé, amor no coração), mais atrapalham que ajudam!
Aos que vivendo os desastres em sua própria pele se valem de tais termos para descrever tal agravo, é compreensivo tal desespero.
Aos que estando de fora, não sofrendo dano algum e tomam para si a interlocução e domínio do querer divino para vociferar aquilo que nunca foi dito ou autorizado por essa suposta autoridade suprema do universo, só lamento, pois vosso estado de consciência tem sido inferior àquilo que vossa própria crença chama de diabo, por tais aspirações.
Quanto aos que visando somente os lucros, likes e outros tipos de benesses do mundo virtual se valem da tragédia alheia como trampolim pessoal, me pergunto: vocês ainda são humano ou se fundiram a outro tipo de consciência rasteira vinda de algum ponto obscuro da galáxia?
Sem palavras…
Desastres naturais ou causados por humanos sempre existiram e sempre existirão.
O planeta está em constante movimento e rearranjo.
Nada é fixo ou estático nesse universo.
Tudo muda, tudo se renova, tudo se destrói e se ergue outra vez!
Palavras como destruições, tragédias, vida, morte, nascimento (ou ressurreição) são apenas descrições humanos, meros termos finitos para descrever uma infinidade de possibilidades ao nosso redor.
No universo, as coisas simplesmente existem, acontecem, são como são...
Tudo é efeito de uma causa ou causa de outro efeito posterior.
Tem sido assim desde sempre e assim o será. Não há nada de novo e não há motivos para desesperos. Apenas lugar para compaixão pelos que sofrem e planejamento futuro a fim de evitar novas tragédias.
Os humanos sempre foram nômades, vivendo por todo o planeta, aproveitando as melhores estações em um lugar, ou fugindo das piores em outras.
Há menos de 15 mil anos começamos a fixar residência, a nascer, viver e morrer em um só lugar.
A partir de então começamos a sofrer (e registrar) tragédias climáticas anos após anos e a construir deuses para justificar nossa falta de sanidade e preguiça para ser reerguer do zero em meio aos escombros, como sempre fizemos.
A ideia de posse, de bens materiais e do acúmulo de riquezas (sempre tive dificuldades de ingerir esse conceito), nos deixou ainda mais vulneráveis e dramáticos, pois colocando em risco a nossa própria existência, invadimos os limites da natureza, criando nossos próprios limites, a fim de que os pronomes possessivos (meu, seu, nosso, vosso, deles...) sejam “igualmente” distribuídos, e a ilusão do efêmero, do ter, do possuir, seja maior que a oportunidade de SER, de EXISTIR, em determinado tempo, época e local.
Passamos a fabricar deuses justamente para chancelar o nosso direito de posse de territórios ou pessoas, bem como as que estes ou destes possam derivar.
Um santo para cada doença ou problema humano e um padroeiro para guardar cada cidade (de que mesmo?).
Objetos de paus, pedras, gesso e metais preciosos, que após pequenos ou grandes abalos, servem somente de monturo, entulhos que deixarão as ruas ainda mais intransitáveis.
MEDO.
Objetos do medo ou feito para amedrontar.
É assim que cada divindade metafísica é ou tem sido usada.
Artefatos de nossas taras e perversões mais libidinosas, que para nada servem a não ser nos conduzir a um estado coletivo de infantilidades. Em dias de angústias estes serão substituídos por pessoas reais envolvidas em resgates ou por ferramentas criada pela tecnologia humana, tão sutilmente desprezada pelo fanatismo religioso.
O único meio de combater esse comportamento MEDONHO que deixa transformam as pessoas em tacanhas quando tentam explicar o universo por meio de sua própria compreensão da divindade, é dedicando-se ao estudo e aprendizado constante, sobre várias culturas, vários deuses e não apenas o do seu próprio panteão.
É preciso reduzir todos os deuses a amuletos iguais, seres subordinados ao querer e maldade dos homens e não inverso disso.
Quando todos eles forem semelhantes, não haverá deus verdadeiro ou falso. Tão poucos os “humanos falhos e pecadores” deixarão de sofrer punições por amar demais a uns e esquecer-se dos demais.
Ponha-os todos eles na categoria do folclore, pois é justamente isso que o seu “deus único verdadeiro” é para os de outra cultura, que não se submetem a sua fé. Do mesmo modo que o deus deles não passam de um objeto decorativo para ti.
Assim deve ser todos eles.
Quando houver um deus que seja capaz de amar a todos indistintamente, que não tenha preferência por grupo ou raça alguma e que não dê a paga aos seus fiéis tendo como premissa principal a guarda de dias e alimentos sagrados, ou de usos e costumes de roupas e adereços puramente estéticos ou locais.
Quando houver um deus assim, curve-se a este e quem sabe, só assim eles possam ser dignos de algum tipo de atenção.
Aliás, caso houvesse algum com essas virtudes, ele jamais aceitaria ser adorado, venerado ou idolatrado. Ele nem sequer deixaria se chamar deus. Quem sabe se rebaixaria a um mero instrutor da ascensão a um nível maior de mentalidade, sem jamais exibir uma ínfima parte do seu potencial. Seria tão falho e simples quanto todos os mortais e jamais se afiliaria a nenhum grupo político ou ideologia, de quem quer que fosse.
A mente humana em seu estado primitivo jamais seria capaz de urgir um ser tão perfeito, pois todos os deuses já criados ou venerados, servem justamente para beneficiar o idólatra e castigar todos os que fiquem em seu caminho.
Os que buscam um deus universal, que ama a todos, de pronto modo sê vê liberto das amarras das religiões. É da ideia de não possuir deus algum e nem por eles sermos possuídos que passamos a enxergar tais seres como realmente eles são: frutos de nossa fantasia, um lugar de refúgio para nossos desalentos. Um porrete primordial para esmagar o crânio de nossos supostos algozes.
Quantas décadas, séculos ou milênios ainda teremos de nos arrastar neste lastimante estado de ser? Não há como saber.
Quem sabe, nas próximas tragédias, um edito oficial possa ser compartilhado com os seguintes entre os interessados em espantar agoureiros e abutres.
Os dizeres seriam mais ou menos assim:
— CARO RELIGIOSO, PROFETA, UNGIDO OU INTERPRETE PESSOAL DOS SABER DIVINO: Por gentileza, mantenha somente para si, a descrição da suposta causa desse evento. Soque bem no olho do seu c# sua opinião de fé sobre aquilo que julgas ser a causa de tanto sofrimento e desgraça. Se o teu deus é o causador de tais catástrofe, não o queremos aqui e tampouco a ele nos curvaremos! VOSSO SILÊNCIO POÉTICO SERÁ RECOMPENSADO!
Quem sabe frases fizesse inibir esse desejo profano de ser tornar um "atalaia da fé", cuja duração de glória não seja maior que 15 minutos e a infâmia, por palavras descabidas, possam render processos criminais ou ser causa de chacota por uma vida inteira.
Nunca esqueçam que opinião sobre os ditames de deus para a vida dos outros é como roupa íntima.
Se deus falou contigo, GUARDE SOMENTE PARA SI tais revelações.
Caso ele e possa e realmente queira se comunicar no coletivo, faça-o por meio plausíveis, de modo claro e público!
Tão duvidoso quanto um deus que morre em público e ressurge em particular, é o deus que abençoa no privado e castiga no coletivo.
Abram seus óleos...
Revejam Seus conceitos!
Saúde e Sanidade à Todos!
Texto escrito em 19/5/24
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.