o lobo e o rebanho (ou quem sabe da fenda, um novo amanhã)
No entanto, e apesar de tudo, ainda resta uma sútil, porém, ainda vibrante, possibilidade de tudo ser superado. O tempo, mais que qualquer outro remédio, é curativo por essência. O tempo, e somente o tempo, avança, apesar de, às vezes, a gente querer que congele.
Sofrer em segredo, coisas inexplicáveis para quem vê de fora, é algo incompatível. Mas como saber se de fora vê -se outra coisa que não é de quem está dentro. Assim, ao que tudo se pode deduzir, não tem, porque não há de ter, a mínima razão quem crítica o outro somente porque não entende o que o outro sente. À César o que é de Cesar. De maneira semelhante: ao outro o que é do outro.
Ninguém é capaz, por mais esforço que faça, de sentir o que ao outro se aplica. A dor e a ferida são privadas, públicas, somente a repulsa e a denúncia!
Não difere àquele que, impossibilitado de levar a frente o que julga ser seu inabalável argumento, impede o outro de se expressar e tentar recolocar em debate o objeto da discussão, numa nova, porém, fundamental propositura, que é a contextualização da pauta. Ambas situações, parecem, não consideram o que cabe ao outro. Excluir o outro de suas possibilidades, isto é, de suas prerrogativas enquanto sujeito autônomo e, portanto, igualmente, instituído de direitos, é postura típica de autoritários ou pessoas que sabem não saber usar de argumentos e, portanto, exercem, ou tentam exercer, predominância sobre o outro como forma de silenciá -lo numa reprodução dos sujeitos afásicos, menos por disfunção neurológica, mas mais por má fé ou rompante de prepotência e arrogância.
É característico do sujeito avesso aos sentimentos e razões do outro, não dar a menor atenção àquilo que julga ser fraqueza do outro. É do DNA desse sujeito agir sem considerar opiniões que não convergem com as suas. Para esse, qualquer possibilidade de divergência, qualquer possibilidade, mínima que seja, que possa expor a fragilidade de suas "argumentações", para ele, esse pequeno "conflito" , lhe chega como se derretesse, tal qual gelo no fogo, todas as suas convicções. O sujeito não acostumado com a essência de qualquer debate, esse sujeito, pobre alma perdida no mundo dos homens, esse sujeito, por uma fragilidade na auto -estima, o coitado não consegue converter suas frágeis certezas em possibilidades de novas aprendizagens. É triste, porém, real, que nesse mundo de mitos ocos de ações heroicas, é triste saber que sempre haverá seguidores de falsas lideranças. É o rebanho seguindo o lobo; ao fim da jornada, o abate e a degola, que importa, dirão seus idealizadores, se aos nossos passos vieram ingênuas criaturas, disso não nos cabe saber; não queremos saber.
E assim, sem que se possa entender, se conjecturará tantas, e talvez, improváveis certezas, que a ocorrência do que se descobriu, ao fim da montanha, é que não se tentou evitar o flagelo humano como uma espécie de síndrome do fim, do inevitável como única "certeza" alimentada por crenças e dizeres recheados de algum interesse. Se assim é, o que resta senão, e disso se vangloriarão os discípulos do cãos, esperar que tudo se resolva por sua e exclusiva ocorrência?
Enfim, as flores, já secas, não voltarão a ter as cores que fizeram das manhãs ensolaradas o repouso do belo.
E quem sabe, talvez, sem que ninguém veja, escondido numa fenda qualquer do penhasco, estará o novo casal que fará surgir uma nova humanidade; esperemos.