Perdoar... Um Desafio
Já dizia o poeta: o caminho é feito ao caminhar!
Não temos um caminho definido quando embarcamos nesta viagem a qual chamamos VIDA! São tantos os acontecimentos que nos moldam e muitas as razões que nos levam a profundas e incontáveis metamorfoses.
Ao longo do estradar tropeçamos, caímos, brindamos as conquistas e transpomos obstáculos. Temos momentos de euforia, outros melancólicos e introspectivos.
Colecionamos mais objetos do que realmente precisamos. Conseguimos reunir poucos amigos verdadeiros e acumulamos sentimentos contraditórios. E é justamente sob o peso dos acúmulos desnecessários que muitos sucumbem.
A forja que nos dá forma e nos define se alimenta, principalmente, das nossas percepções em relação ao que recebemos ou deixamos de receber das outras pessoas. Pior, do que julgamos merecedores e não fomos contemplados. Tal percepção nos estimula a progredir ou nos empurra para um abismo existencial de difícil escalada. Somos profundamente afetados pela paixão, pela inveja, pela traição, pelas demonstrações de generosidade ou compaixão, pelas pequenas e grandes vitórias, ou pelas derrotas, reais ou imaginárias, de semelhantes dimensões...
No entanto, quando estamos magoados com o outro e a situação nos sugere o exercício do perdão, como uma válvula para descarregar um pouco deste peso emocional, não nos sentimos motivados à ação.
O perdão está enraizado no amor mais genuíno, na essência daquilo que nos traz paz e nos faz bem. A sua prática é capaz de causar um bem-estar imenso àqueles que conseguem estendê-lo ao próximo como manifestação concreta da centelha divina em nós. Perdoar nos alivia do peso imposto pelas decepções que, não poucas as vezes, são frutos das nossas expectativas.
“Perdoa-nos as nossas ofensas, tal como temos perdoado aos que nos ofenderam.”
“Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará."
Estas duas frases, ditas há mais de dois mil anos, ainda nos chocam pelo reconhecimento da nossa incapacidade de amar. Na segunda, há um condicionamento da absolvição divina à nossa disposição de perdoar aos que nos decepcionam. Como posso desejar misericórdia se não sou capaz de ser condescendente com quem está ao meu lado?
Podemos interpretar isto como um sentimento cristão. Ou afirmar que se trata da lei do retorno. Ou ainda sintetizar tudo no ensinamento do nosso Profeta Gentileza: “Gentileza gera gentileza.”
Amar ao próximo como a nós mesmos não é fácil! Isto inclui estender o amor a possíveis inimigos, colegas de trabalho, vizinhos, parentes – todos os parentes!
“Se alguém não cuida de seus parentes, e especialmente dos de sua própria família, negou a fé e é pior que um que em nada crê.” Esta dura afirmação também está no Livro Sagrado.
E fica a reflexão: estamos dispostos a mudar o nosso olhar? Dispostos a praticar um novo jeito de olhar, ouvir e agir?
Mudar o nosso modelo mental é um exercício árduo e nos exige persistência, no entanto à medida que acontece, o nosso caminhar tende a torna-se mais leve e prazeroso.
Texto escrito para a coluna A Poética do Olhar, do blog Bendita Existência (www.benditaexistencia.com.br)
Imagem: Blog do Vitor Germano