A PRÁXIS E A ÉTICA DO PSICOTERAPEUTA 

     O psicoterapeuta é todo profissional da psicologia (mormente no seu viés clínico) que busca auxiliar o paciente na sua recuperação, fortalecimento e desenvolvimento pessoal. Na própria etimologia da palavra psicoterapia, encontramos o sentido de cuidar do ser; cuidar, para ser mais preciso, de suas questões emocionais, existenciais, psicológicas por meio de uma investigação bem elaborada. E, além disso, uma intervenção e uma análise que possibilitam uma clarificação de seus conteúdos trabalhados em terapia, favorecendo, dessa forma, o conhecimento da própria vida do paciente em processo de análise e compreensão.

     A atuação do psicoterapeuta é um trabalho cuidadoso que, como a própria palavra ''psique'' nos revela em sua etimologia, traz a ideia de cuidar da alma de um ser enfermo. Esse processo não deixa de ser (com um prazo indeterminado) um encontro de seres conscientes de seu papel. Ou ainda, um verdadeiro encontro de almas...De fato, todo terapeuta busca cuidar daquele que sofre não somente por meio de conselhos e do suporte emocional, mas também através da escuta que favorece a compreensão, a confiança e a condição do padecente de falar com mais desenvoltura acerca de seu sofrimento, seja ele de qual natureza for. Por outro lado, todo analisando tem como tarefa facilitar a compreensão do Analista/terapeuta acerca de suas motivações que o fizeram procurar auxílio profissional.

     Uma psicoterapia bem desenvolvida certamente carrega todos esses elementos, além da técnica terapêutica que instrumentaliza a organização do trabalho de uma terapia. No entanto, antes de qualquer técnica, o profissional do encontro precisa ser consciente do quanto a sua motivação e a estima por aquele que sofre são fatores de grande peso: fundamentais, portanto, para o progresso de um processo terapêutico.

     Ao mesmo tempo, nunca podemos deixar de ressaltar a própria ética de um psicoterapeuta que, mais do que ser apenas uma cartilha profissional, é uma junção de motivação psíquica que orienta a prática profissional; de inspiração de como proceder corretamente; e de filosofia que, enquanto epistemologia servindo de fundamento a ciência psicológica, auxilia no bom senso da práxis psicoterapêutica. A ética, sem dúvida, é essencial para um ser que está numa posição de escuta/ajuda para fazer toda diferença no seu meio de atuação. Ela só está presente quando está efetivamente enraizada no coração daquele que busca criar um caminho de escuta, com-apreensão e ajuda que norteia o aconselhamento.

     Antes de ser um código que auxilia o psicólogo na sua integridade profissional (o que não deixar de ser válido para que o profissional reflita sobre sua práxis), é também a sua própria condição e o seu próprio alicerce para firmar a sua consciência do que deve ou não ser feito. E para fazer germinar a liberdade de fala acerca das vivências mais profundas do paciente. A ética possibilita a abertura da confiança na práxis psicoterapêutica, sendo um recurso profundamente viável para o autoconhecimento tanto daquele que escuta, quanto daquele que é ouvido sem reservas.