🔴 O Forrest Gump brasileiro
O instinto de sobrevivência e a modéstia me mantiveram escondido esses anos todos, entretanto, sinto que chegou o momento de compartilhar minha acidental existência. Fui o personagem de alguns retratos que eternizaram momentos cruciais, seja para o Brasil, seja para o mundo. Muito embora, frutos do acaso.
No Brasil, falei que lutei pela democracia, correndo da Polícia e do Exército, enfrentando cavalos. No entanto,, levei a pior, escorregando em bolinhas-de-gude. Os policiais correram para me ajudar. Contudo, o disparo fotográfico me foi generoso, portanto, mantenho a narrativa que lutei contra a Ditadura.
Perseguindo, com tenacidade, o objetivo democrático, fui surpreendido por um clique dedo-duro. Desta vez, pixando um muro. Eu estava escrevendo “Abaixo a ditadura do proletariado”, mas fui interrompido. A frase, que inclusive virou enredo de escola de samba, saiu na emergência da atitude. A fotografia ficou histórica, mas meus pais nunca gostaram dela.
A Copa do Mundo de 82 me proporcionou uma tristeza incompatível com o choro, mas irresistível para um clique: acabou o amendoim! Apesar do motivo trivial, achei que era válido manter aquela narrativa da imagem da “Tragédia do Sarriá”.
Minha avó sempre achou que eu estava pendurando um quadro num muro, mas eu juro que ajudei a derrubar o Muro de Berlim. Dizem que há um conflito entre cultuar Che Guevara, Fidel Castro, Lênin, Stalin e ajudar a derrubar esse símbolo do Socialismo. Eu refuto, pois era um evento histórico e havia câmeras do mundo inteiro. Como no ‘Rock in Rio’, eu tinha que estar lá. Eu fui!
Na Praça da Paz Celestial, estive no lugar errado, na hora errada. O nome bonito e uma certa agitação que havia nesta praça me atraíram para lá, de modo que resolvi alterar o meu retorno do supermercado. Contudo, obstruindo o meu novo caminho havia blindados. Inocentemente, não desviei e, para minha surpresa, os veículos recuaram. O mundo inteiro achou que foi coragem minha, mas foi pura inocência e falta de noção do perigo.
Mesmo tendo escondido por tanto tempo, resolvi compartilhar as fotografias famosas e me revelar como o protagonista destas cenas. Uma mentira rejuvenescedora.
PS: A efeméride do início de abril me abriu a “licença poética” para a incoerência etária e a megalomania.
Texto com imagens no blog:
Gazeta Explosiva