SENTIMENTO, POESIA E O POEMA

Além do chamado "dom de poetar", que se revela através da intuição e inventiva, fazer poemas (com Poesia) é fruto maturado da vontade de trabalhar a linguagem e a singular lucidez aliada ao talento para inaugurar a magia da palavra em sua indumentária de gala.

Tudo isto entremeado de muita dedicação e paciência no sentido de traduzir o embate entre os efeitos do exercício do sentir e a competência educacional adquirida para lograr traduzir a emoção com a centelha inusitada da farsa, da fantasia, do sonho, na curiosa antessala do razoável patamar estético.

É este o formoso organismo verbal assentado na mentira e na abstração metaforizada, resultado da subversão do sentido genuíno da palavra em pauta, produzindo o voo e/ou a superposição das imagens acaso emergidas.

É através deste conjunto de figurantes que a Poesia desfila e flui dançarina às nossas extáticas retinas, e mais: é sonora musicalidade aos ouvidos, eis que a musa do mimetismo poético é, também, prima-irmã da Música.

Também são urgentes e necessários alguns punhados de aptidão em relação à palavra escrita, plástica, pictórica, verbalizada e/ou contextualizada entre os seus peculiares rituais de encantamento, ritmo, imagética e figuração de estilo ou linguagem.

É correto o aporte histórico que alerta que, por si só, o Sentimento não se confunde com Poesia, nem ele a produz ou a extrai do mundo dos fatos, simplesmente pelo fato de que o organismo verbal que contém, emite, inspira ou suscita Poesia se faz e/ou se compõe com palavras.

O que vale dizer: vocábulos com significantes e significados aportados no poema, e a este cabe, na qualidade de mimo ou prenda poética, traduzir os sentimentos nascidos da emoção vivificada.

Também pudera! Não é tarefa fácil a identificação da Poesia, visto que é ela pura abstração, logrando adquirir concretude somente quando aparece sua materialidade concreta, o Poema.

Contudo, não é menos verdade que o exercício do sentir pode ser o dossel da centelha que incandesce o leito onde repousa o baú dos sentimentos emergidos do cadinho fervente das inquietudes e paixões do gênero humano em suas costumeiras desumanidades.

Com relação a essas infelizes ações que envergonham a espécie, o poema, humildemente, pretende reconstruir os guetos prenhes de anomalias com as presenças da musa Beleza e a dama Felicidade.

Com o aporte destas últimas personagens, se pode aquiescer num Novo Homem em seus sobressaltos, embora sempre relativos à passagem do Senhor Tempo: o saltimbanco obscuro de todos os recantos planetários.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2024.

https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=8015739