Como Elle Woods me fez entrar em direito

Quando eu era criança era bem gordinha, passei bastante tempo sozinha, brincando com as minhas barbies, passando canetinha nos cabelos delas e lendo. Sempre gostei muito de me vestir com “roupas da moda”, coisas com muito brilho, rosa, dourado, prateado, tudo muito “patricinha”.

Comecei a ler bastante quando eu tinha uns onze anos, livros como “O Diário da Princesa” e essas coisas. O primeiro livro que eu gostei de ler foi “A Bolsa Amarela”, mas antes dele tinha lido “Sonhos de uma noite de Verão”, de Shakespeare.

Esse gostar de mundos diferentes fez com que minha cabeça entrasse em parafuso, pois eu não era popular, era nerd, gostava de ler, de ficar sozinha, mas ao mesmo tempo adorava maquiagem e cor-de-rosa, me vestir, brincar com as minhas barbies e todas as coisas que os filmes de pré-adolescentes falavam que eram fúteis, de “meninas burras”.

Eu não queria ser burra, eu queria ser o mais inteligente possível, principalmente nas áreas da escola que tinham leitura, linguagem e essas coisas humanas, que eu nem fazia ideia que se chamavam de humanas.

Uma sexta-feira, ainda lembro, estava uma Victória de onze anos zapeando pelos canais da televisão, quando vi que ia passar o filme Legalmente Loira. Era um filme meio “velho” já, mas que eu nunca tinha visto antes porque eu era pequena, mas a propaganda me interessou, tinha muita coisa cor-de-rosa, muito brilho e além disso falava que ela estudava direito. Esperei até as 22:00 e finalmente o filme começou.

No começo do filme Elle Woods era uma moça considerada fútil, que entendia de coisas de moda e beleza, determinada, que não mediu esforços para entrar em Harvard, porque achava que o amor de sua vida iria querê-la de volta se mostrasse que ela era capaz de entrar em uma coisa séria.

Ao desenrolar da história várias coisas aconteceram, pouquíssimas pessoas em Harvard acreditaram no potencial de Elle, e quem acreditou, ainda esperava que ela provasse que podia. Já as pessoas do mundo dela acreditaram bastante, e viram os esforços que a mesma fez para conseguir se adaptar na academia.

Elle mostrou que, independente da cor que usasse, de suas roupas da moda e seu gosto por maquiagem e fazer as unhas, ela podia ser inteligente sim, podia falar e discutir sobre assuntos importantes, podia ler livros e se formar em direito em Harvard.

Assisti o filme todo com um brilho nos olhos e fiquei feliz demais com o final, Elle era advogada, linda e também inteligente.

A Victória de onze anos viu que poderia ler e gostar de maquiagem sem nenhum problema, e que não poderia ser diminuída por nenhuma das duas coisas.

Como Elle Woods, eu também cursei faculdade de moda antes de cursar direito, não conclui moda e não sou a miss Havaí nem nada do tipo, mas gosto e muito de beleza e arte.

Meu coração dispara ao ver alguma maquiagem bonita e brilhosa, como também dispara ao ver um livro novo na livraria. Gostar dessas coisas não me faz fútil, eu, na verdade, não me considero de maneira alguma fútil.

As meninas podem gostar de qualquer coisa, podem gostar de andar de skate, de maquiagem, ler ou jogar futebol, nada disso importa se faz bem.

Legalmente Loira foi um filme muito importante na minha infância e pré-adolescência. Ele tem sim várias coisas problemáticas, mas não é um filme para ser politicamente correto, a eu de onze anos, extraiu a melhor coisa que poderia ter dentro dele, que eu poderia ser qualquer coisa que eu quisesse, gostar de coisas muito distintas e ser feliz, do meu jeitinho, independente de quem julgasse.

Victória Santin

2016