ESPIRITUALIDADE COMO AUMENTO DA POTENCIALIDADE DE VIDA
Há dias em que, quando você acorda e abre os olhos, sente-se acolhido(a) pela vida: o sol brando, a luz não ofuscante aos olhos. Junto a isto, você está disposto(a) a fazer o que deve ser feito para manter este estado de bem-estar. Contudo, nem sempre, as experiências se repetem. Em outros momentos, nos sentimos desconectados do fluxo da vida, que constitui a realidade na qual estamos imersos. Essas percepções da realidade que nos cerca estão relacionadas ao modo como ela nos afeta, não como é objetivamente. Não percebemos o mundo em sua objetividade, mas como ele nos afeta.
Não percebemos as coisas como são. Para nos conectamos com o mundo, o nosso corpo consigo mesmo, com os outros e com o ser transcendente, é necessário mudarmos o modo de compreender as nossas relações com a noção de finalidade, ou seja, quando reduzimos a vida a conquista de um ou mais objetos: prazer, riqueza e reconhecimento, por exemplo. Não há problema em buscar o prazer, nem em ter riqueza. Quando os colocamos como a finalidade última da vida, os outros passam a serem vistos como objetos para que eu possa alcançar a minha finalidade.
Em que sentido o modo de se perceber as nossas relações, a partir da noção de finalidade, não nos permite aumentar a nossa potencialidade de vida? A primeira resposta diz respeito à flutuação dos nossos próprios desejos, que soa como sinônimo de fraqueza humana. Para dar um “UP” na nossa vida, buscamos o prazer do reconhecimento e a conquista de riquezas como finalidade última da nossa existência. Fazemos isso porque projetamos os nossos desejos naquilo que desejamos. O outro deixa de ser visto em sua singularidade para se tornar objeto dos nossos desejos.
Sem perceber, as nossas relações passam a ser regidas por esse princípio compulsivo, inclusive a nossa relação com o ser transcendente. Buscamos realizar diversas experiências com o objetivo de satisfazer os nossos desejos. No entanto, não percebemos como o tempo todo estamos sendo afetados por Deus.
O canto da criação de Francisco de Assis expressa como as coisas criadas por Deus não são apenas objetos para satisfazermos os nossos desejos, mas para sentirmos a sua presença próxima a nós. Somos criaturas divinas, que possuímos em nós a potencialidade de Deus em nós, no outro, nos animais, nas planas, no cosmos. Quando realizamos encontros significativos, aumentamos a nossa potencialidade de vida e a do outro. A tristeza, a melancolia, a raiva, o rancor etc. diminuem a nossa potencialidade de vida, e a alegria, o amor, a caridade, a compaixão a aumentam.
Como forma de experienciar o aumento de sua potencialidade de vida reserve um momento para você e ouça ou leia o Canto da Criação de Francisco de Assis, ou faça as duas coisas. Permita-se ser afetado(a) por cada criatura que compõe esta canção.
Por Silvano Severino Dias
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