Surf na Ribeira Grande: Marketing & Pés de Lã - VI
Marketing & Pés de Lã - VI
Receita? Antes de mais, uma equipa coesa e trabalhadora. O resto veio de forma natural: Um pouco de marketing, provas regionais com cobertura pela RTP (toda a que quanto se conseguisse). Adequar às provas locais o que Rodrigo Herédia fazia nas provas nacionais e europeias. Contas certas e equilibradas. Boas relações com todos: clubes (das três Ilhas), patrocinadores, autarquia, região. Tudo isso temperado com amor à camisola e pezinhos de lã.
Pode (até) (à primeira vista) parecer um paradoxo (improvável) ou até (uma mera) gabarolice de quem (eventualmente) o afirma, e, no entanto, existem provas (consistentes) de que foi no rescaldo e no pior da crise do COVID-19, que a equipa de António Benjamim deu um (novo) e decisivo ímpeto à consolidação da AASB. Acrescente-se à trapalhada do COVID 19, a (inesperada) mudança (em Outubro/Novembro de 2020) do Governo Regional. Com efeitos imediatos (já não só pela invulgar mobilização de recursos que a luta contra o Covid 19 exigia mas já por uma maneira diferente de encarar o desporto) O que (por cálculos distintos) se traduziu (na prática) no ‘apertar a torneira’ ao apoio à modalidade (e a muitas mais). A opinião a esse respeito de um destacado militante e (ex) dirigente social-democrata é (por demais) insuspeita. António (terceiro Presidente da AASB) é um veterano dos tempos iniciais da ASSM de João Brilhante. Passou (também) pela USBA de Pedro Arruda e & C.ª E era (também) empresário da área dos desportos náuticos. Quem eram os companheiros de Direcção? Aires Ferreira, vice-presidente, funcionário da EDA na área da informática; Pedro Viegas, tesoureiro, funcionário de uma empresa de construção civil, pertencera à Direcção anterior; Roberto Pastor, vogal, com muita experiência nos desportos motorizados, Miguel Cruz, com experiência empresarial, e Sérgio Sampaio, também surfista e colega de António na RTP/A. Conheciam-se (de maneira geral) das praias. Apenas dois praticavam surf, mas todos tinham filhos no surf. Além de si, atraíram (sabiamente) elementos da direcção anterior. Por exemplo, três Presidentes anteriores: Francisco Melo, ficou como suplente da Direcção e Luís Miguel Silva Melo, como Presidente do Conselho Fiscal; André Avelar, da Assembleia-Geral, transitou para a Assembleia-Geral da nova direcção. Além destes: João Alves TRIKI sai do Conselho Fiscal e vai para o Conselho de Arbitragem. Nesse mesmo órgão, continua Pedro Medeiros Violante. E, sem se esquecerem (de alguns) dos (eminentes) fundadores da AASB, integram Sérgio Aparício, Ricardo Ribeiro, Paulo Ramos Sagão e Manuel Varão. Com esta (perfeita) simbiose de veteranos e de novatos, combinam um espírito de inovação a um de continuidade.
Ainda que a direcção continuasse a não integrar (quaisquer) representantes da Ribeira Grande (cidade), o que me parece ser uma (flagrante) contradição e um erro (crasso), ainda assim, Benjamim (o diplomata de pezinhos de lã) (e a sua equipa, claro) cultivam uma relação (de interesse e respeito mútuos) com a autarquia (e os privados) da Ribeira Grande. Outra (muito bicuda) questão (muitas vezes só referida em surdina, como a querer negá-la) e no entanto, sempre latente, foi a de (saber) gerir com (muito) tacto, as diversas ‘sensibilidades’ e ‘bairrismos’ entre São Miguel, Terceira e Graciosa. O que (com mais ou menos dificuldade) conseguiram. Ainda outra situação, não menos bicuda, foi a de gerir (com pinças) a relação entre clubes/empresas e a AASB. Apesar de ter o coração na vertente formadora e competitiva do clube, José Seabra abrira a sua escola de surf num espaço da sua loja, havia participado no projecto (de surf social) de Luís Melo em Rabo de Peixe, como empresário, percebe a sua posição, assim, em vez de ‘hostilizar’ os clubes/empresas (associados à AASB) por não dedicarem mais tempo à formação, concede-lhes (de forma condicional, é certo) o benefício da dúvida. Em São Miguel, eram (quase) só eles a formar, treinar e a orientar os atletas nas competições. Conciliador, refere no programa inicial da AASB ainda em 2018: ‘Tem-se verificado um maior empenhamento dos treinadores e clubes no incentivo e apoio aos seus melhores atletas.’
No entanto, apesar de toda a boa vontade dos clubes/empresas e da AASB, do benefício da dúvida, o inevitável acabaria por acontecer. Como aumentasse (a olhos vistos) o crescimento turístico, já em 2021/21, a balança pendia (muito) em desfavor dos clubes. Sérgio Aparício (um dos três empresários em questão) (sem esconder nada) confessou-me ‘O maior número de alunos vem do turismo. É o que nos dá dinheiro. E de cá, a maioria vem de Ponta Delgada. Não tenho ninguém da Ribeira Grande.’ O que, tanto quanto consegui já apurar, corrijam-me se estou muito ou pouco errado, assenta que nem uma luva (a partir de certa altura) no caso de João Alves Triki, mas, graças a um esforço de equilíbrio, que ainda assim está quase no limite, não se aplicará ao do Ricardo Ribeiro Xolim.
Em 2022, no que diz respeito à formação, sobretudo ao nível dos primeiros escalões, em gritante contraste com a realidade de São Miguel, os clubes da Terceira e da Graciosa (já) ultrapassavam (percentualmente e em número absoluto) os federados dos clubes/empresas micaelenses. Chamo a atenção para um facto importante: parte daqueles federados (os quais não contabilizei nem apurei) não eram nem praticantes nem atletas. Porque se federaram então? Por um lado, dizem-me, conseguia-se (desta forma) mais apoios oficiais (da Região). Por outro, obtinha-se mais poder de voto no seio da AASB. Como? Cada clube tem direito a um número de votos consoante o número de federados de que dispõem. Vejam-se os Regulamentos Internos da AASB.
Voltando ao fio da meada. Sabendo de antemão (que mais dia menos dia) iria acontecer o desequilíbrio, a AASB, em parceria com a Câmara Municipal de Ponta Delgada (a financiadora), organiza uma campanha de promoção do surfing nas três escolas secundárias da cidade de Ponta Delgada. Por que razão (não resisto a indagar) terá a Ribeira Grande ficado de fora dessa campanha? ‘Havia na Ribeira Grande um certo medo ainda do mar, por isso, decidimos não apostar lá.’ A opção, justamente por isso, deveria (a meu ver) ter sido (exactamente) a contrária: ir à Secundária da Ribeira Grande (que reúne alunos de todo o Concelho) e (tentar) desmontar o (motivo do) medo. Pensando melhor, talvez os seus responsáveis tenham julgado desnecessário entrar naquele projecto, já que haviam (não há muito) celebrado um protocolo (nesse sentido) com o clube/escola de Ricardo Ribeiro Xolim.
Do que não podem restar (quaisquer) dúvidas, é de que a Direcção de António Benjamim enfrentou, aguentou e contornou (estóica e inteligentemente como vejo surfistas e bodyboarders fazerem-no dentro da água) as contrariedades impostas pelas medidas adoptadas para enfrentar a Pandemia Mundial do COVID-19. Entre Março de 2020 e 7 de Maio de 2021, parou tudo. Em 2019, primeiro ano dos quatro de mandato, o programa havia sido (palavras do relatório) satisfatoriamente cumprido. No segundo, em 2020, seria ainda pior, foi o descalabro absoluto: ‘Não foram atingidos em virtude das imposições e restrições colocadas pela Pandemia de COVID-19, que obrigaram ao cancelamento das atividades desportivas de lazer e competição durante a primeira vaga, entre Março e final de Agosto, e a partir de final de Novembro, estando também limitadas as atividades que implicassem o ajuntamento de pessoas e as viagens. Apesar de entre Agosto e novembro existir uma relativa normalidade, continuou a haver receios para (a) plena prática desportiva.’ Em 2021, a situação andava ainda (muito) longe da normalidade, porém, já se entrevia ‘uma luz ao fundo do túnel:’ ‘os objetivos (…) foram parcialmente atingidos em virtude das imposições e restrições colocadas pela Pandemia de COVID-19, impedindo a realização de várias atividades e provas planeadas. A primeira atividade só se realizou a 11 e 12 de Setembro, após se verificarem 7 (sete) adiamentos devido a falta de licenciamento das autoridades.’ Finalmente, em 2022, último ano do quadriénio da Direcção de António Benjamim, finalmente, um motivo para celebração: ‘os objetivos (…) foram maioritariamente atingidos.’
Já de saída, em Novembro fora eleita uma nova Direcção, António Benjamim (fazendo eco ao sentimento comum a toda a Direcção) aproveita uma entrevista que concede à Surf Total para fazer o balanço do mandato. Porque (apesar dos constrangimentos) tiveram êxito? ‘Julgo que tem a ver com a estratégia que definimos há 4 anos, tornar o surf numa modalidade organizada e credível (…).’ E qual foi o plano traçado? ‘Estabelecemos parcerias com entidades públicas e privadas, empresas, autarquias e governo regional. Depois descentralizámos o campeonato regional, para além de S. Miguel, levando à Terceira e Graciosa [em boa verdade, a direcção anterior já o havia feito], e por último promovendo o Surf na RTP, onde pela primeira vez tivemos a cobertura de todo o campeonato, com um programa de 30 minutos para cada etapa, nunca um circuito regional teve esta cobertura, disponível na RTP Play, dando o retorno desejado a todos os patrocinadores [Isso, sim, foi inovador. Facilitou o facto de Benjamim e Sérgio Sampaio serem funcionários da RTP/A].’ Por tudo isso, conclui (do que se infere o sucesso do plano): ‘O surf foi a modalidade que mais cresceu nos Açores, de tal forma que passou a ser reconhecida como modalidade estruturada, aumentando assim o apoio por parte do desporto da região, passou, também a estar presente no CADAR (Conselho Açoriano para o Desporto de Alto Rendimento).’ Nessa entrevista, de uma maneira bastante perspicaz, Benjamim ainda destacaria o contributo do surf para o desenvolvimento da capital do Surf. Antes de tudo, sempre delicado e justo nas apreciações que tece, seja a que propósito for, elogia (julgo que com sinceridade) o responsável pelo êxito: ‘(…) a autarquia, na pessoa do seu presidente Alexandre Gaudêncio.’ Porquê? Porque ‘tem tido a sensibilidade para perceber que o Surf é um fator de desenvolvimento nos locais onde há boas ondas. A Ribeira Grande tem isso tudo, possui praias magníficas com ondas de classe mundial, e está a aproveitar isso da melhor forma, transformando toda a sua frente de mar e criando um destino turístico jovem, criativo, moderno e sustentável, captando um novo mercado e dinamizando a economia.’ Nisso, em abono da verdade, continuou (e bem) o trabalho de Ricardo Silva. Mas aprofundando-o. Dando-lhe um alcance que em 2008 não se suspeitaria.
Que impacto terá tido (de facto) o Surf (nesse período de 2019-2022) na Ribeira Grande? Para o conhecer, há (já) duas teses (pioneiras) de mestrado, no entanto, não abordam (especificamente) a relação entre o surf e a Ribeira Grande. E (quanto a mim) do contributo de um magnífico programa (Sociedade Civil – na RTP Play) (que segui hoje, dia 26 de Fevereiro de 2024) e que (sem se referir ao caso da Ribeira Grande) deu para aprofundar (um pouco mais) o (pouco) que (já) conheço sobre o tema. Mesmo assim, estamos (há que o reconhecer) limitados a (razoáveis) indícios (não a indicadores seguros). E (o impacto) na sociedade e na cultura? Uma coisa é (porém) segura: a influência desportiva (ou seja, a atracção de gente da Ribeira Grande para a prática do Surf) é praticamente nula. Ainda que (na Ribeira Grande) haja (certifiquei-me disso) uma trintena de surfistas/bodyboarders, não existe (entre eles) um espírito de (corpo, de pertença) comunidade. Há (dizem-me) uma comunidade nos Mosteiros (sobretudo um punhado deles). Será que existe esse espírito em Ponta Delgada? Qual Ponta Delgada: cidade, concelho? E na Lagoa? Ou em Vila Franca? Só com um inquérito aos surfistas/bodyboarders (como é evidente) poderíamos (eventualmente) esclarecer a dúvida. Para já, a impressão é que – tirando a (possível comunidade) dos Mosteiros, uma comunidade muito fechada -, e talvez uma pequeníssima de Vila Franca do Campo, os surfistas da Ribeira Grande (devido à complementaridade das praias das Milícias/Monte Verde/Santana, e de – muitos deles -, trabalharem em Ponta Delgada, etc..) diluem a sua identidade com os de Ponta Delgada (que – tal como me apercebi -, engloba todos os que não são da Ribeira Grande). É, por outro lado, (notório) o vaivém (diário, ainda não quantificado) de surfistas/bodyboarders de fora (da Ilha e de fora dela) às suas praias. Como (ainda) é notório a afluência de visitantes à Ribeira Grande (cidade e Concelho) (não só atraídos pelo surf) fazendo disparar (como nunca) a oferta no alojamento local. Dois exemplos. Para 2019: inauguração do Hotel Verde-Mar e da Volcanic House. Por força dessa (mesma) proximidade às praias, haverá (há?) ainda (também não há dados concretos) mais gente de fora a escolher a Ribeira Grande (cidade e Concelho) como local de residência. A vinda de gente à terra com poder de compra, já não só de passagem, após uma curta paragem para ver a ribeira e a praça central, ira à casa de bano mais próxima, e pouco mais, levou a uma (maior) diversificação na oferta da restauração. Um exemplo: remodelação (de alto a baixo) do TUKA TU LÁ. Ou a da criação de negócios ligados ao mar. No interior do (requalificado) Mercado Municipal (oitocentista) é inaugurada a Loja ‘Queimado’ de Roberto Borges (um amante do Surf da Ribeira Grande). Primeiro construtor de pranchas de surf (em madeira) da Ribeira Grande. Alexandre Gaudêncio, na ocasião referiu que ‘mais do que criar marcas, importa gerar uma nova dinâmica na economia local e a Ribeira Grande – Capital do Surf tem merecido especial atenção de um novo público que nos procura para ter uma experiência diferente.’ Paulo Sousa Pilão, surfista da primeira leva de surfistas da Ribeira Grande, em 2023, e Tomás Anselmo, da segunda leva, aluno de Paulo Sousa, ainda em 2022, criaram duas empresas (marítimo-turísticas) com forte implantação na Costa Norte. Daniel Almeida Ferreira, já o fizera em 2018. O Surf interessa ao comércio e à indústria local? Os relatórios anuais da AASB, mostram-nos que, além do apoio da autarquia, a maioria dos patrocinadores privados (da AASB) são empresas do Concelho.
E quanto à autarquia? Apesar de toda a turbulência instalada, reeleições, ameaças e quejandos, o seu apoio mantém-se (absolutamente) inquebrantável: de pedra e cal. Apoia os atletas do Concelho que mais se destacam. É o caso de Peter Galvão Healion, ‘atleta de uma escola de surf sediada na Ribeira Grande [o Santa Bárbara Surf School, de Sérgio Aparício]. Representou ‘a seleção da Irlanda [origem do pai] no escalão júnior e disputou o Men’s Junior Tour, prova que integra o calendário do World Surf League, tendo disputado recentemente a prova que teve lugar em Espinho.’ Diz o Presidente da Câmara, que é um ‘investimento num jovem que projeta a Ribeira Grande e contribuiu para a divulgação da marca Ribeira Grande – Capital do Surf.’
Levando muito a sério a promoção da marca Ribeira Grande Capital de Surf, a autarquia celebra ‘pela primeira vez’ um protocolo com a AASB. Há uma excelente relação entre autarquia e AASB (e o clube que tem protocolo com ela): ‘A primeira prova do circuito de São Miguel de surf da Associação Açores de Surf e Bodyboard, organizada pelo Azores Surf Club, contou com a presença de cerca de três dezenas de atletas inscritos que aderiram ao desafio lançado pela organização que optou por cobrar o valor da inscrição em donativos para a Casa dos Animais da Ribeira Grande.’ Alexandre Gaudêncio está convencido de que ‘todo o investimento realizado ‘tem permitido levar mais longe o nome da Ribeira Grande, município que é cada vez mais conhecido como destino de surf, não só a nível regional mas, também, a nível nacional e internacional.’ Em Setembro de 2019, sendo capital de Surf e o Surf já sendo uma modalidade olímpica, candidata-se a ‘uma etapa do campeonato nacional de surf.’ A razão, segundo o Presidente, continua a ser (sobretudo) económica: ‘poderá refletir-se em mais-valias para a Ribeira Grande.’ Sem (nunca) perder de vista a economia, pretende rendibilizar o potencial das ondas do Concelho. Como? De duas maneiras (ambas complementares): proteger as ondas (no seu todo) e aproveitar as gigantes (ainda não aproveitadas). Em Fevereiro de 2021, surfistas de fora reconfirmam ‘dois locais propícios no concelho para a prática de surf em ondas grandes, nomeadamente ao largo da praia de Santa Bárbara, na zona poente, e na praia da Viola, na Lomba da Maia.’ Iniciativa apoiada pela autarquia e promovida por Marco Medeiros (o homem da Ribeira Grande das ondas gigantes). José Seabra terá sido dos primeiros surfistas portugueses a surfar aquela onda. Porém, antes dele, ao que também me dizem, o seu descobridor ou o primeiro português a surfar aquela onda, terá sido o malogrado arquitecto José Luís dos Santos Pires. Não se deve (contudo) pôr de parte a hipótese de que outros, sobretudo surfistas estrangeiros, o tivessem já feito. A partir dos anos oitenta, chegam alguns à Ilha.
Mais um (forte) motivo para potenciar a economia local. ‘Os surfistas consideraram existir potencial na Ribeira Grande para se organizar uma competição internacional de ondas grandes, à semelhança do que já se verifica noutros locais do país, como na cidade da Nazaré.’ A matéria-prima do surfing (as ondas) tem de ser (no entanto) protegida. Eis (então) que há uma intenção de candidatura a Reserva Mundial do Surf. Em Abril de 2022, Alexandre Gaudêncio anuncia pretender-se ‘(…) candidatar a cidade da Ribeira Grande a Reserva Mundial de Surf, de modo a preservar as ondas da cidade.’ Pretensão que, o responsável pelo projeto Save Azores Waves, André Avelar, representante da Associação de Surf da Terceira, confessou publicamente ver com muitos bons olhos. Tanto mais que, ‘a autarquia da Ribeira Grande tem apostado fortemente na marca Ribeira Grande Capital do Surf, como forma de fomentar a economia local, mas sem colocar em causa a sustentabilidade e a preservação dos ecossistemas.’ Conforme Alexandre Gaudêncio explicou mais tarde ao jornal Audiência, para que tal viesse a suceder, haveria que cumprir requisitos ambientais bastante rigorosos: nível de construção, saneamento básico.
Interessada (muito sinceramente) em aprofundar o conhecimento da relação entre surf e economia (integrada na chamada economia azul), a autarquia ouvir (com atenção e muito proveito, disseram-me) ‘o professor Jess Point, da Universidade de San Diego,’ um ‘especialista no estudo de retorno económico das comunidades que apostam no surf.’ E onde entram (aqui) os nómadas digitais? A autarquia – interligando o fenómeno do nomadismo digital ao surf (outra mais-valia económica) – lança uma plataforma digital, divulga um vídeo e melhora a rede de cobertura digital. Capital do Surf? Ondas gigantes? Faltava um símbolo. Um ponto de referência que orientasse quem visita a capital do SURF. Em Maio de 2021, é inaugurado ‘o monumento de homenagem ao surfista (…).’ É da autoria de Rui Goulart (picoense a viver no Concelho da Ribeira Grande, na freguesia do Pico da Pedra). Trata-se de uma encomenda da Câmara feita àquele artista (com múltiplas obras espalhadas pelos Açores). Terá resultado de uma sugestão (pertinente) da direcção da AASB (segundo me referiu um responsável desta última).
Nesse entretanto, é eleita (após várias tentativas frustradas) a nova direcção da AASB (para 2023-27). Estaria a AASB consolidada? Em definitivo, não (certamente). Nunca se sabe o que o futuro traz. No entanto, neste caso, provou estar suficientemente consolidada para resistir à (inesperada) demissão da nova direcção sete meses após ter tomado posse. Como foi isso possível? Dizem-me (e eu tendo a concordar) que tal se terá devido a ter-se tornado apetecível. Apresentando contas certas e ‘saudáveis’ (não esquecer o motivo do encerramento da USBA), sendo credível perante patrocinadores e apoiantes e havendo ganho visibilidade perante a sociedade. E (não se diz isso, mas, quanto a mim, será extremamente importante dize-lo): devido à sombra protectora de Benjamim, da sua equipa e dos amigos do Surfing. Pelo que observei, o trabalho na sombra de alguns elementos da anterior Direcção, entre os quais, o do próprio António Benjamim, que também pertencia à nova, muito experiente e dedicado ao associativismo do surf, co-fundou a ASSM, a USBA e entrou cedo na AASB, bem como o de Luís Miguel Silva Melo (primeiro Presidente da AASB, que por sua iniciativa enviou uma carta circular aos demais sócios) foi de crucial e decisiva importância na resolução desde (perigosa) crise. Até ser encontrada uma nova Direcção, durante um período de 10 a 11 meses, foi (assim) possível manter a ASSB viva.
E agora? Tal como o símbolo chinês que representa simultaneamente crise e crescimento, do interior da crise do surf brotou um crescimento novo. Muito pela indecisão dos homens, talvez também pelo cansaço ou por outras opções, as mulheres aceitam (alegremente e com eficácia) o repto que lhes é lançado e chegam-se à frente do Surf. Práticas, como geralmente são, foram elas que tomaram as rédeas da AASB e encontraram uma solução rápida (espero que não apenas transitória) para a suspensão ou desistência de um clube. Ou seja, lideram a actual direcção da AASB. E criaram um novo clube. Explico-me. Um clube/empresa suspendeu ou encerrou a actividade. Após várias negas, abriu-se uma porta: a dos Bombeiros da Ribeira Grande. Peter Healion (que até então, mais Gonçalo Azevedo, os dois da Ribeira Grande, era treinador na escola/empresa de Ricardo Ribeiro Xolim) cria a sua própria empresa. Qual crescimento? Mais formação na vertente social. Tal como de forma – infelizmente -, sobressaltada e interrompida bruscamente o fez a ASSM). É esse o sentimento unânime (pelo menos aqui na Ribeira Grande).
Porto de Santa Iria, Ribeirinha, Cidade da Ribeira Grande (continua)