O Amor Segundo os Gregos
Na Antiguidade os gregos utilizavam palavras diferentes quando queriam se referir ao amor nas suas formas de manifestação de acordo com o contexto em que ele se apresenta. Num esforço de imaginação, pense como você poderia representar graficamente o amor romântico, maternal ou o amor a Deus e ao próximo sem o emprego da palavra amor.
Se você já está coçando a cabeça matutando em como realizar tal proeza, saiba que os gregos eram especialistas nisso.
Ágape (agápi) significa amor no grego moderno: é o amor empático e universal. Refere-se portanto ao amor ao próximo — incluindo os inimigos — a Deus e à natureza. Como o Novo Testamento foi escrito em grego, a palavra também é utilizada por alguns autores para fazer menção ao amor de Deus por suas criaturas. É o sentimento de renúncia de si mesmo e do altruísmo. Dentro de conceitos cristãos o amor Ágape é bastante difundido.
Eros: é o amor associado ao prazer sexual, ao erotismo, romantismo e à paixão; beleza e à atração física. Na mitologia grega Eros era o deus do amor e do desejo sexual. Um casal jovem e apaixonado é uma boa representação do amor Eros, uma vez que Eros também cultua a beleza corporal.
Philia: tem como característica os laços autênticos e duradouros de amizade. O amor Philia é leal, gentil e compartilha sua intimidade. É com frequência associado às chamadas almas afins ou gêmeas, que possuem as mesmas inclinações e aspirações. Assim como Ágape, o amor Philia também é encontrado nos textos bíblicos.
Ludus: é o amor lúdico, das brincadeiras, das aventuras casuais excitantes e dos jogos sexuais. Enquanto o amor Eros é amante e romântico e o amor Philia é leal e gosta de compartilhar intimidades, o amor Ludus tem verdadeira ojeriza a compromissos e obrigações.
Storge: diz-se do amor protetor, baseado no parentesco. É o amor familiar incondicional. Storge é movido pela familiaridade e necessidade, e, às vezes, é considerado um amor unilateral. Basta pensarmos numa mãe que ama o filho mesmo antes de ele ter consciência suficiente para amá-la de volta. Em outras palavras, o amor Storge nem sempre é sinônimo de reciprocidade afetiva.
Philiautia: aqui temos a ideia do amor-próprio, que já existia na Grécia antiga. O conceito positivo se refere ao amor saudável que é o cuidar de si mesmo reforçando a autoestima; o aspecto negativo diz respeito ao orgulho, ao egoísmo e até mesmo ao narcisismo.
Pragma: descreve um amor baseado em compromissos, compreensão, tolerância, cumplicidade e nos melhores interesses a longo prazo como, por exemplo, a construção de uma família. É em suma o amor do companheirismo, do comprometimento e do respeito às diferenças, onde a beleza física do parceiro ou parceira — que pode ter se extinguido com o tempo — não tem mais relevância para a manutenção do relacionamento. O Pragma pode ser interpretado como um amor maduro ou resignado que com o tempo superou o Eros.
Mania: mesmo para os antigos gregos este amor tinha um sentido pejorativo. É o amor doentio, obsessivo, que pode levar o indivíduo à loucura. O sentimento exacerbado de posse. Não é sem razão que a palavra maníaco deriva de mania.
Xênia (xenía): é o amor hospitaleiro, que leva a receber bem as pessoas. Consiste na generosidade e amizade do anfitrião para com os seus hóspedes. Penso que soaria um tanto estranho para os antigos gregos se viessem a descobrir que em pleno século XXI existe gente que detesta receber visitas.
Philosophia ou filosofia em português: significa literalmente “amor pela sabedoria”.
Esta divisão helenista do amor ainda hoje me parece bem didática, todavia, sem promover quaisquer julgamentos de ordem moral e pessoal, o importante é entender que a qualquer tempo e em qualquer época o amor sempre pode crescer, transformando-se num Amor maior e melhor.