ENSAIO TESTEMUNHAL SOBRE O 25 DE ABRIL
(*)
Mais que um «Ensaio» quero que estas palavras testemunhem o pensamento que eu desejo transmitir às recentes gerações que herdaram aquele ABRIL de que tanto se fala ainda hoje.
O que foi este Abril? Em que é que ele se transformou?
De duas maneiras podemos encontrar as respostas que se impõem: Abril foi um «grito» contra a opressão de que era vítima a Lusa Sociedade e, ao mesmo tempo, uma «arma» oportuna para a resolução de todas as carências de que era alvo: a principal delas a Liberdade. Precisamente este era o grande Sonho que todos os portugueses sentiam na alma e no seu quotidiano.
Grito e Arma deram vida a este Sonho. E os dois – pela acção heróica e generosa de audazes Capitães, em madrugada primaveril – se fundiram num gesto humanizante que alterou as linhas de rumo de toda a nossa História. Grito e Arma, que viraram Canto e Revolução, iluminaram a “alma adormecida” de uma Nação estigmatizada e altamente sofredora, tentando eliminar os malefícios que teimavam em permanecer bolorentos.
Foi pelo Canto (Poesia) e pela Acção (Transformação) que se abriram horizontes vivos de Cidadania e de Liberdade. Foi pela atitude decidida dos nossos Trovadores e Cidadãos que, de norte a sul, numa luta indomável e resiliente, rejuvenesceram o nosso povo numa Esperança imparável, corporizada na luta pela mesma justa Liberdade que tem feito de Portugal um país novo, cheio não só de promessas ideais, mas também de projectos para a construção de um futuro melhor.
Todavia, e infelizmente, temos de reconhecer que nem tudo tem sido rosas. Nestas cinco décadas decorridas «o nosso 25 de Abril» gerou, sim, algo de novo em todos nós; foi possível avançar progressivamente num desenvolvimento, ainda que, em certos casos, um pouco frágil e inseguro.
E isto porquê? Porque Abril gerou – temos que o admitir – oportunismos indesejáveis, contrários aos “bons ideais democráticos” por parte daqueles que se aproveitam dos avanços programados, em primeira instância, para o bem comum. Daí as desigualdades, a exploração, as injustiças e as impunidades que grassam ainda um pouco por todo o lado.
Todos sabemos que, na condição de humanos que somos, não há “bela sem senão” e as nossas Instituições – ainda que dirigidas por homens e mulheres com carácter dito socializante – nem sempre tomam as medidas correctas e oportunas que se impõem.
Importa, desta feita, que sejamos capazes de enfrentar estes incómodos contratempos, lutando com Confiança e Decisão para manter os rumos certos.
A partir daqui há que revitalizar a cada hora e a cada dia o Grito e as Armas
que, de uma forma indelével, fazem parte da nossa própria identidade.
O poetAmigo Frassino Machado
(*) - O 25 DE ABRIL DE 1974, em 2024
___
_______________