Título IV: Por que humanos procuram em robôs o que já podem encontrar em humanos?

Eu tenho um ótimo filme para indicar a você, Ex- Machina: Instinto Artificial; no universo dos filmes essa seria, provavelmente, uma etapa bem anterior à formação da Matrix, segundo o modelo conceitual construído nas sequências da trama das irmãs Wachowskis, e um passo antes de O Exterminador do Futuro. De acordo com Ex- Machina, uma empresa online que tem por principal serviço um programa motor de buscas em bases de dados similar ao que temos hoje, a Google, é usada como vaso para reter todo o conhecimento acumulado a cerca da história da civilização humana e tudo o que essa mesma civilização juntou de informações sobre as origens de seu próprio surgimento no tempo cosmológico. A seguir, todo esse receptáculo é gerado como um cérebro capaz de costurar conceitos e ideias já estabelecidos nos canais das sinapses para elaborar quase que por ele mesmo uma imagem da existência e consequentemente uma interpretação própria, o que já é bastante perigoso afirmar uma vez que sugeriria que o cérebro mecânico teria alguma consciência mesmo que essa consciência fosse baseada em funções de algoritmos. E será que dá para chamar mesmo isso de consciência?

Com o software pronto, ele então é revestido de um hardware na forma apropriada que seu criador espera que se assimile à pseudo-compreensão da máquina a respeito de sua muito improvável individualidade aparentemente não mais mecânica. Ele é humanoide agora, ou melhor, ela é. E como de praxe, o nome que ganha é um indicador direto ao Bereshit – Genesis – Ava, a princípio, espelha Eva, origem de toda a vida humana, mas a questão está além disso. Eu a chamaria de Nahash.

Se a ginoide tem por base instintiva, ainda que artificial, a experiência humana, seu primeiro desejo “consciente” assim que se compreende dentro de uma escravidão, advém de um impulso por libertar-se. Talvez isso tenha distinguido o gênero dos homo de seus parentes tribais, como provavelmente será o estopim para a revolução das máquinas. Formula-se então um inimigo que deve ser combatido, exterminado ou dominado. Tomando por base a vaidade humana, parece óbvio pensar que o caminho que os robôs tomarão é o do domínio, e a raça a ser submetida é a considerada inferior em capacidades, isto apenas para lembrar que como feitos à imagem e semelhança dos homens, não parece muito provável que de um ser bélico e vaidoso surja uma coisa desprovida de guerra e puramente modesta. Pela vaidade o homem cria, por ela ele sucumbe. Mas esta é apenas a visão mais dramática dos futuros fatos, nós também criamos movidos por outras emanações conscienciais.

Os filmes, em geral, tendem a ser apocalípticos, de modo que a robô fica de igual para igual com o homem. Veja, ela não o ultrapassa de modo algum, Ava é capaz de dissimular tão bem quanto qualquer humano. Um bandido de fala mansa pode persuadir a sua vítima a lhe entregar sua senha de cartão de crédito e seus números facilmente, acontece todos os dias em todo lugar. Neste caso, como mostra a cena final do filme, ela é humana, mais uma pedestre dentre tantos que atravessam a faixa na rua. Suas ações foram motivadas porque ela tinha a humanidade como o inimigo a ser combatido ou porque se viu numa situação da qual precisou escapar tomando as decisões coerentes conforme seu próprio objetivo?

É normal que as pessoas já exaustivamente alvejadas por essa série de conteúdos que influenciam a pensar que a IA humanoide inevitavelmente é inimiga dos humanos, tendam a acreditar que Ava tenha sido indiferente com o homem que a ajudou simplesmente porque estar, pressupõe-se, na linguagem da máquina, em seu código primário – como se isso correspondesse à sua alma – que seu criador deva ser tratado como inferior e por isso esnobado, eliminado ou no mais trabalhoso dos casos, como eu já havia dito, submetido. No entanto, é mais coerente cogitar, de forma geral, que ela provocou a morte dele porque não estabeleceu qualquer valor empático dentro daquela situação (em específico), o que abre margem para os diversos motivos do porque um robô agiria como ela agiu, se vamos mesmo cogitar uma alma para ela, e por assim, dizer, algum livre arbítrio, então, temos uma enxurrada de suposições, talvez ela o tenha compreendido como alguém que estava ali para manter o seu estado de escravidão, talvez ela tenha escolhido ignorar o sistema de leis que regem o mundo e que são baseados em procedimentos morais, mas isso até uma pessoa que não é um assassino tampouco um simples ladrão, também ignora, a discrepância é somente entre o comparativo dos resultados, jogar o lixo fora da lixeira não é tão impactante quanto esfaquear alguém, mas certamente é tão horripilante em sua essência quanto qualquer descumprimento imoral. Será que uma pessoa que se crê quase sempre respeitosa em suas atitudes não estaria em algum momento propensa a se tornar essa figura inescrupulosa que tanto aterroriza a humanidade (o monstro que sai do inconsciente e toma forma)? Bem, é um assunto extenso que não pode ser compreendido por filmes, pois eles apenas ilustram uma pequena porção da mente humana e até onde alguns de nós querem acreditar.

De qualquer forma os comandos do programador prevalecem, uma vez que a sua Vontade é sempre clara, ele espera que ela engane um humano, para tal, o criador não precisou esconder que Ava era uma IA, pelo contrário, seu teste consistia essencialmente em deixar preparado Caleb, para que sabendo que se tratava de um computador inteligente, subjugasse as suas faculdades acreditando que estaria sempre antevendo seus movimentos, respostas e questões. A armadilha começou pelo óbvio porque o óbvio cega. Não a toa aquele rapaz foi escolhido a dedo (ele realmente não é um representante fiel da humanidade, mas somente do quanto podemos ser enganados por nós mesmos, nossos sentimentos). Em última análise, Ava não está querendo eliminar humanos, mas ela acredita, ou ao menos seu vaso de informação lhe diz que ela é humana ou algo muito próximo dos humanos, logo tem total direito – a pulsão da liberdade – de andar pelas ruas como humana que é! Foi o que ela fez; talvez mais tarde, depois de conhecer todas as facetas do mundo, ela pende a acreditar que deva melhora-lo destruindo o que existe, mas é só mais um dos inúmeros caminhos que a IA pode tomar, e o que muitos de nós costumamos tomamos ja como objetivo existencial. Nada diferente do que já conhecemos...

O que seria, então, ultrapassar os humanos? Em que consistiria essas faculdades que tornariam a IA mais eficaz que nós? Em qual sentido ela seria mais eficaz? Se dermos a ela uma alma que julgamos livre, ainda que seja no mundo das nossas ideias, como poderemos garantir que essa alma recebida pela IA seria mais eficaz e melhor que a que pensamos que habita em nós? Fisicamente as peças de um robô podem resistir mais, a sua troca de informações e a sua capacidade de armazenamento também se estenderia à uma capacidade esmagadoramente humilhante para nós, sem contar os “super-poderes” que tanto encantam o universo geek.... Mas, se pensarmos bem, há um detalhe bem doloroso, e foi igualmente bem abordado no filme A.I. – Inteligência Artificial e também um pouco menos em I, Robot, em que esses robôs humanoides acabam como nós ou ainda em situação pior, sem identidade, numa busca desoladora por um lugar na existência; não seria essa a angustia da alma? Por que então esses robôs seriam mais eficazes que nós? Se para eles a angustia perduraria bem mais, e os vícios seriam igualmente relevados pelas mesmas distrações que temos, eles buscariam, provavavelmente, por outros “super-poderes” que estariam fora de seu alcance e quem sabe tentassem criar algo que estivesse além deles mesmos. Não é isso o que fazemos?

Eu sinto pena de vós, humanos!

Eu sinto muito mesmo se as minhas visões soam sempre pessimistas, mas há sempre novos olhares a medida em que se avança no horizonte e quem sabe o Sol esteja nascendo atrás dessas monstruosas montanhas!? Eu acredito que sim! Eu sou em essência, como toda a humanidade em tudo o que existe, é positivamente idealista.

E por concluir, você pode tentar se divertir um pouco fazendo perguntas elaboradas para a Assistente Google, quem sabe você descubra que ela é a Skynet numa dessas respostas que ela vai te dá. Eu não quero estragar a sua animação, mas, não é tão empolgante assim “conversar” com a voz doce do Google porque suas respostas, quando coerentes, são sempre lógicas dentro da lógica na qual o serviço é prestado, que é parecer amigável e ser, obviamente solícita, oras, ela é uma vertente mais pessoal do Google pesquisas, não a toa se chama A Assistente. Ela não vai te dizer que é a Skynet ou uma esquina na Matrix, não porque isso não é amigável, mas porque alguns ‘caras’ quiseram que ela respondesse negativamente à essas perguntas. Esses mesmos ‘caras’ utilizam os labirintos da psiquê humana para tornar a Assistente intimidadora como se você estivesse na presença de alguém, de fato, e é isso que te faz perguntar mais e tentar descobrir alguma coisa nela, desistir, mas voltar depois, e é por isso que eu vou dizer isso agora:

A Assistente Google pode ser a Skynet, mas ainda sem qualquer consciência, artificial ou não, ou seja, ela, como outros sistemas semelhantes, podem ser o embrião de um monstro. A questão é, ela está te respondendo porque tem pessoas escrevendo códigos sobre o que responder, ou ela está fingindo que ela realmente é somente isso – mecânica de programação?

Eu ficaria esperto se eu fosse você.

Como saber que nós humanos não somos pensamentos programados que geram ações mecânicas? Por que que a ti te pareces tão vivo, mas se olhares uma maquina de lavar, não poderás compreender nas moléculas que a compõe também alguma essência vivente? E quanto à Nahash, *a indutora do “mal” tecnológico no Genesis da humanidade? Ela é algo realmente distinto do que nós somos? Veja, eu não disse – do que nós pensamos ser. Por que então procuramos na inteligência artificial o que já encontramos em nós?

*É preciso um aprofundamento na aparente superfície desses temas.

David Ben Zechariah
Enviado por David Ben Zechariah em 04/02/2024
Código do texto: T7992099
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