A POESIA & O POEMA

A Poesia, mesmo que pareça abstração, sem concretude aparente, pode adquirir materialidade através do poema, corporificando-se pelo letramento: palavras-código em versos ritmados. Um é o continente, o outro, conteúdo. Vale dizer, aquilo que se contém nalguma coisa.

Palavra polivalente, designa, também, gênero literário, com suas variadas espécies ou modalidades: haicai, acróstico, soneto, quadra, trova literária, etc., formatos identificadores da poesia clássica.

A contemporaneidade formal, composta por versos brancos, livres, sem rimas, concebe o poema (como conjunto emissor que contém, sugere ou suscita Poesia) formatado segundo os moldes rítmicos do modernismo e do pós-modernismo revelados na escrita literária. Uma modelação não exclui a outra; ambas são fruto de livre escolha estética do poeta-autor.

A apresentação formal dos versos componentes da peça não define o patamar de amplitude, profundidade ou beleza da peça poética, simplesmente porque não há moldes pré-fixados para o Belo.

Para alguns analistas da Poética, o poema atual retrata o andamento ágil, o "tempo fugindo" com mais rapidez, num comparativo sociológico-espacial com vertente e datação atuais.

Poesia é imaterialidade e gênero literário, como vimos. Já o poema é a materialidade concreta desse estado de poeticidade, composto por versos, expresso através de vocábulos. Palavra enfeitada de metaforização para dizer dos espantos do sentir, do sonho, da fantasia, que são artifícios para denunciar e/ou sofrenar a realidade da roleta dos dias.

Tudo cerzidura para tornar o mundo mais bonito, mais palatável. Beleza captada arrebatando sutilezas de pensamento e circunstâncias contendo e/ou utilizando um somatório de coragem e laivos desejosos de perfeição social e política, por vezes com alto risco físico pessoal: chama votiva, fogo, gume, amor que na palavra se incandesce. Garcia Lorca, poeta e rebelde, que o diga.

Por vezes, farsa criada com duro cerne de convicção e fortaleza que, mesmo sendo criação momentânea, rasga o pensamento e se aloja em nosso sangue como verdade absoluta.

Digno e heroico estandarte nascido entre o riso e o vômito.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2024.

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