René Descartes, ciência e epistemologia

René Descartes nasceu em La Haye em Tourraine, França, no dia 31 de março de 1596, durante a Idade Moderna, e viveu até 11 de fevereiro de 1650. Ou seja, viveu 53 anos de idade. Foi filósofo, físico e matemático, considerado um pensador revolucionário na ciência e na filosofia, considerado uma figura-chave da ciência moderna e Pai da Filosofia Moderna, considerado, também, o mais importante pensador da história da filosofia, após Sócrates, Platão e Aristóteles, estes considerados os pais e mestres da Filosofia Clássica.

René Descartes se notabilizou, principalmente, na matemática, por ter fundido álgebra com a geometria, na utilização ora denominado, em homenagem ao seu nome, o “plano cartesiano”, o que ele depois desdobrou a geometria analítica e o sistema de coordenadas. Por isso, foi considerado um grande revolucionário científico, porque ninguém antes tinha feito algo assim, que perdurasse até os dias de hoje da utilização do chamado “plano cartesiano. É um dos filósofos pensadores responsáveis pelo Pensamento Ocidental Moderno, junto com John Locke e David Hume. Deve-se a René Descartes a fundamentação filosófica moderna do racionalismo, algo impregnado e irrefutável na ciência até os dias de hoje, apesar de ele ter utilizado princípios aristotélicos. Pode-se deduzir que Descartes o pensamento do racionalismo.

René Descartes defendeu o racionalismo, como sua razão de vida e sustentou a tese de que a dúvida era o primeiro passo para alcançar o conhecimento. Ele percebeu que os “costumes” e a cultura de países, épocas, religiões e de várias comunidades influenciam o pensamento pelas crenças e superstições. Para evitar falsas crenças, Descartes desenvolveu seu próprio método, hoje considerado essencial às ciências naturais e conhecimento filosófico no campo da epistemologia.

Nas suas obras “Discurso sobre o Método” e “Meditações”, mostram e demonstram as bases da ciência moderna e contemporânea, que sustentam, praticamente, o pensamento racional de todas as ciências. Seu pensamento, ora denominado método cartesiano, consiste no ceticismo metodológico pelo pensamento, ou seja, atitude cética de duvidar de cada ideia distinta, até que seja clara, no sentido de ser cada ideia provada, pois só o ato de duvidar é indubitável.

No seu método proposto, há quatro regras principais: 1ª) verificar se existe evidências reais e indubitáveis sobre o fenômeno e coisa tratada; 2ª) analisar o fenômeno ou coisa a ser estudada, no sentido de dividir ao máximo nas suas unidades mais simples e estudar cada coisa simples concatenada a outra coisa simples; 3ª) sintetizar o que foi desdobrado na análise, no sentido de agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro constatado pelo pensamento; 4ª) enumerar todas as conclusões e princípios utilizado a fim de manter, organizar e ordenar o pensamento.

No livro “Discurso do Método” de René Descartes, que antes era denominado “O discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro das ciências” (“Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la vérité dans les sciences”), refere-se a um discurso do tratado matemático e filosófico, considerado obra básica da epistemologia, que depois foi denominado cartesianismo. O referido discurso se propõe como modelo lógico e matemático para conduzir o pensamento humano, na busca de ausência de dúvidas através da matemática como característica de certeza, o que proporciona uma ideia de um método universal para alcançar a verdade.

O método é em si baseado totalmente na razão como autoridade da verdade, e que por isso, deve-se abstrair distração dos sentidos, principalmente, quando o filósofo expressa “Penso, logo existo!” (Cogitum ergo sum!) Ou seja, o ato de duvidar é indubitável, e as evidências têm que estar e serem ligadas com o pensar.

Nas quatro regras principais propostas por Descartes, há operações elementares da mente humana que são: I) a indução (que consiste em captar o máximo realidades básicas e mínimas); e II) dedução (que consiste em agrupar observações e inferir conclusões e resultados a respeito). A enumeração, por sua vez, acompanha a reelaboração e revisão de conceitos.

A inspiração de Descartes a respeito de como metodizar o pensamento veio da geometria, no sentido de que se partisse por conceitos simples poderia entender, compreender e descrever conceitos e entidades mais complexas. São das demonstrações geômetras mais simples que se pode chegar às demonstrações geômetras mais complexas, a fim de inferir na consciência humana como ele exemplificou.

Em relação à ciência moderna, Descartes deixou um legado do seu pensamento na questão da compreensão de evidências naturais que se corroboram com existência de causalidade do universo, desde que a explicação seja aceitável, comprovando-se cientificamente (baseado na experiência), no sentido de validar o princípio da singularidade da própria causalidade, admitindo-se existência prévia, que seja distinta e vigorante para a realidade compreensível mediante os sentidos corroborados conforme o pensamento lógico, ou seja, de modo racional.

No livro “Meditações”, ora antigamente denominado “Meditações sobre Filosofia Primeira” (“Meditationes de prima filosofia”), Descartes aprofunda regras para orientações filosóficas sobre o “Discurso sobre o Método”. Nas suas meditações, Descartes esboça o seguinte:

1º) Adotar a dúvida como método e critérios para as razões da dúvida: engano dos sentidos, composição pela imaginação, sonho, loucura, o “deus” enganador (auto enganar-se) e o gênio maligno (metáfora de pensamento como evidente, mas falso);

2º) Encontrar algo que resista a dúvida, no caso, o “sou” (“Cogito”) como resposta verdadeira pensada ou dita;

3º) Disposição de provar a existência de Deus, como ideia verdadeira e não como gênio maligno, mas algo pensável ontologicamente (metafísico) com a ideia indubitável da perfeição e das ideias positivas existentes como causa possível da perfeição;

4º) Pensar a Teodiceia (Teologia Natural) epistemológica, no sentido de que o homem é responsável pelos próprios erros e, não, Deus;

5º) A matemática e a geometria são indubitáveis, são demonstráveis pela lógica do pensamento humano e de modo universal tanto para a natureza como para o pensamento;

6º) As sensações são também indubitáveis, desde que retirados os seus devidos motivos, assim, prova-se a existência dos corpos.

Os pontos falhos do pensamento de René Descartes foram na física, quando ele teorizou a respeito do universo pleno e não vácuo, algo que Isaac Newton vai contestá-lo e comprovar que o “Pai” da filosofia moderna estava errado neste aspecto. Acreditava Descartes que a matéria possuía só qualidades primárias como extensão e movimento, e que não possuía qualidades secundárias, algo que foi comprovado pelo desenvolvimento da ciência, que sim. Filosoficamente, Heidegger, segundo Quintilhano (2012), critica Descartes no sentido de que o ser precisa estar inserido no mundo e não fica tipo “flutuando” para pensar o mundo. Heidegger acha uma contradição Descartes dizer que “para pensar, é preciso existir” (Descartes, 1996), sendo que Descartes considera o tempo, mas não o mundo, o que o contradiz no pensar filosófico. Acredita Heidegger que Descartes confundiu “Ser” com o “Ente”, e por isso escondeu a questão do “ser no mundo” para o “Cogito”, pois há uma confusão do “ser” sujeito e “ser” pensado. Outro filósofo que criticou Descartes foi Pascal, pois achou que Descartes foi muito reducionista no uso da razão, esquecendo o “Pai” da filosofia moderna que o ser humano é também emoção e instinto. Pascal atribuiu a Descartes um excesso de razão no seu pensamento filosófico.

Em relação a exemplificação dos argumentos de René Descartes, o que mais utilizou foi a matemática e a lógica para validar seu pensamento, como utilização do par ordenado x e y para compreensão de que x serve para abscissa de forma universal no plano cartesiano e o y para a ordenada no plano cartesiano, a fim de fazer a devida localização do ponto indicado do par ordenado, que para isso é possível estabelecer relação de função algébrica do par ordenado, constando que o x é termo independente e y, o termo dependente, ou seja, a função x, ora denominada e expressa f(x).

Enfim, concluo que concordo com o pensamento de René Descartes, no sentido de operar a reflexão e o pensar filosófico de acordo com a razão, que busca relacionar encadeamento lógico de dedução, indução, síntese, análise e enumeração, que pode proporcionar consistência e certeza do pensamento sobre determinada coisa ou ser ou fenômeno. Sem o devido uso da razão, o pensamento humano fica obscuro pela superstição e crenças incertas, que podem proporcionar mais dúvidas e sensação de impotência sobre o pensar humano.

REFERÊNCIAS

DESCARTES, René, Discurso do Método. Rio de

Janeiro: Nova Cultural, 1996.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis: Editora Vozes, 2011.

MARQUES, José da C. Lopes. Pascal: o crítico cartesiano à Descartes. Disponível em: < https://www.redalyc.org/journal/5766/576664566020/html/>. Acesso em 13 nov. 2021.

PASCAL, Blaise. Pensamentos. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

QUINTILHANO, Guilherme D. Crítica de Heidegger a Descartes. . In: IX SEPECH – Seminário de Pesquisa de Ciências Humanas, 2012, Londrina. Anais [do] IX Seminário de Pesquisa em Ciências Humanas [livro eletrônico]/, 2012. p. 656-663. Disponível em: < http://www.uel.br/eventos/sepech/arqtxt/PDF/guilhermedquintilhano.pdf>. Acesso em 13 nov. 2021.

Lúcio Rangel Ortiz
Enviado por Lúcio Rangel Ortiz em 20/01/2024
Código do texto: T7980749
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