Tela neuroléptica
As lutas não se situam apenas no nível econômico ou político, mas também no nível da subjetividade, em especial no nível midiático, que não só fabrica informação, mas também recompõe sistemas da informação, de composição, de diálogos, de valorização das sensibilidades, de reconquista estética da produção de imagens, da produção audiovisual, que tornem possível cristalizar outros tipos de polaridades alternativas.
Existem zonas potenciais de resistência contra a unidirecionalidade da subjetividade, ou heterogênese da subjetividade. Uma dessas zonas é a infância que possiu meios de semiotização ricos e múltiplos para produzir existência. Aparece também nos estados de crise individual : crise negativa, neurótica, psicótica, as quais contém vontade de criação, vontade de afirmação da existência. Parece engraçado, mas não é.
As pessoas utilizam os meios que tem a mão, migalhas que conseguem reunir para tentar encontrar coordenadas na existência. Isso aumenta o irracionalismo a que assistimos um pouco por todos os lados. Não haverá outra maneira de evitar essa recomposição subjetiva não recorra sistematicamente ao racismo, ao falocratismo, a solidão, sobre uma cultura da angústia?
Quando os consumidores são pessoas que precisam de um tela neuroléptica, vão para casa, estão ansiosos, as suas histórias familiares incomodam, ligam a tv. Entram em uma relação hipnótica que extingue todas as diversidades e os coloca em uma ralação de sugestão em que o sujeito é literalmente transferido para o aparelho. Entram numa adjacência com os discursos, as imagens que vêem, a música que ouvem, A partir desse momento há uma despossessão da subjetividade, de irresponsabilização, de infantilização que é exatamente como o consumo de comprimidos para dormir, para evitar a ansiedade. É completamente da mesma ordem.
Félix Guattari na íntegra em: FÉLIX GUATTARI: A ERA PÓS-MÍDIA. SUBJETIVIDADE E MASSMEDIA/MEIOS DE COMUNICAÇÃO (1991)