VIA "WHATSAPP": UMA ABERRAÇÃO NO RELÓGIO VIRTUAL

Não é novidade sentir e escrever que vivemos tempos estranhos.

Acredito que quem ainda não percebeu a mudança "sensória e logística" da vida talvez esteja por "nascer agora'...nas primeiras dores dum parto para um tempo de dores.

Aos poucos, nessa História "antropológica " implementada pelas mais recentes e "tops" tecnologias digitais, a vida virtual foi tomando espaço e dele se apoderou com muita velocidade depois da era PANDÊMICA.

O tal vírus , o SARSCOV2, infectaria não apenas o sistema respiratório, a adentrar todos os âmagos sistêmicos das pessoas, mas infectaria também a dinâmica de toda a vida em sociedade, com sérias repercussões ao estado de bem estar físico , emocional , social e espiritual.

E assim , aos poucos, surgiria uma nova ordem de funcionamento social, algo degradado na essência do que é se ser gente; e o mais estranho é que as pessoas , embora estejamos multi conectadas o tempo todo, de certa forma compartilhamos uma certa "solidão digital".

É como se ocorresse um "set up" do relacionamento da Humanidade em sociedade, numa nova configuração apenas midiática, na qual uma onda "septicêmica de desconforto emocional globalizado" tomaria o seu lugar cativo.

Parece que, aos poucos, perdemos progressivamente nossa capacidade de compartilhar "emoções presenciais" e hoje já há quem prefira conversar com robôs do que com seus iguais. É assustador.

Paradoxalmente, as pessoas conversam muito na plataformas, têm atividades "full time"...mas presencialmente, muitas são as vezes nas quais estão mudas, vazias, sem assunto, sem real interesse pelo outro.

A impressão que dá é que quanto mais rica a vida virtual, mais pobre é a vida real.

O que importa é sair na "Self", nem sempre tão "Self "assim, "fotoshopado" (de corpo e alma!) da alegria e do sucesso incontidos, todavia, nem sempre reais.

Ouço muito assim das pessoas: " eu não me sinto muito bem mas não sei explicar o que é!".

É preciso dizer que tal está ocorrendo em TODAS AS IDADES, não se trata, portanto, de desprivilegio dos mais novos ou dos mais velhos.

Outra dinâmica que observo é como o "PHISHING" do "lucro sem limites" , virtual ou presencial, tomou conta de toda a atividade econômica.

De toda, sem distinção!

É como se mundo fosse acabar amanhã, então, é urgentemente mister explorar o outro...vias Apps de toda sorte para a realização do milagre da hora...sem muito esforço.

O marketing, em muitos casos, perdeu totalmente o critério da ética em tudo!

Afora as fraudes e golpes pandêmicos...

Caiu na rede virtual já é peixe real!

O mais inacreditável foi o fato que me trouxe a esse presente ensaio.

Conto que o que me inspirou a escrita desse meu pensamento, algo cabível ao analítico do todo, foi uma mensagem que recebi há dias atrás , via WHATSAPP e em pleno Janeiro, algo que na verdade se endereçava ao nome de minha mãe, embora no número do meu telefone:

"Sra..., nós a parabenizamos pelo seu aniversário e aguardamos sua visita ao nosso serviço. Esclarecemos que teremos um imenso prazer em recebê-la".

Ocorre que minha mãe faleceu há quase quatro anos, há mais de dez anos não frequentava o tal endereço e seu aniversário de nascimento é no mês Novembro.

Algo totalmente despersonalizado e descontextualizado.

Quando li a mensagem pensei: "isso resume o tudo que as pessoas estão sentindo...". ´

Tratava-se de algo fidedignamente ilustrativo no livro dos correntes tempos.

Poderia ter sido um erro de dados, claro, algo que pode acontecer com todo mundo, com qualquer empresa, mas não se trateava disso.

O erro tinha nome e sobrenome.

Tratava-se duma mala direta digital fria, impessoal, endereçada a uma lista de clientes que carece de total afetividade.

Na verdade, se trata duma fotografia fidedigna do nosso contexto social atual.

Não somos mais pessoas...somos números potencialmente importantes e lucrativos nas "balanças dos relacionamentos comerciais"...e até pessoais.

Somos números nas chamadas das redes, na chuva de "emails" comerciais, nos Apps de empresas, nas novidades digitais, como se" Fintechs das fantasias", que não nos acrescentam um pingo de Humanidade , tampouco fazem alguma diferença nas dinâmicas das nossas vidas, cada vez mais virtuais, sem a urgente plenitude Humanizada.

Há uma hipocrisia no ar...uma desfaçatez, uma desumanização assustadora.

E o pior: sequer existe a noção do patético.

O que poderia ter sido um marketing de verdade...foi um tiro num pé!

Um marketing Negativo.

É que nada nem ninguém engana todos por muito tempo...é só preciso estar atento às reais intenções.

Tal fato, apesar de me deixar perplexa, muito me serviu para desenhar o porquê de tanta ansiedade social, de tantos vazios na vida moderna, dos tantos "sinto um desconforto mas não sei explicar o que é!" ; de tanta frialdade desumanizada que corre, sem perspectiva de aconchego e reversão, pelo relógio virtual de ponteiros descompassados e dos tantos anseios frustrados...